Uma tutora de dois cachorros do Bairro Buritis, na Região Oeste de Belo Horizonte, alega que os cães foram vítimas de envenenamento depois de passearem pela calçada de um prédio no mesmo bairro no dia 6 deste mês. O ocorrido foi compartilhado nas redes sociais e provocou apreensão em outros moradores que possuem pets, que deixaram de frequentar ruas do bairro com seus animais de estimação.
De acordo com a tutora dos cachorros intoxicados, que prefere não se identificar, no último dia 6 ela saiu com os animais, como de costume, até que um deles demonstrou ter uma reação. No mesmo dia, ao voltar para casa, o cachorro macho, de 14 anos, passou a espirrar e lamber as patas desesperadamente. A dona dos cães o higienizou e, então, ele dormiu, mas, no dia seguinte (7/6), ele teve de ser internado logo pela manhã, pois estava com febre.
Poucas horas depois, o outro cachorro, uma fêmea de 16 anos, também apresentou um quadro de intoxicação e teve que ser internada. Ambos ficaram internados por seis dias recebendo medicação e, como sequela da intoxicação, tiveram disfunção renal e infecção urinária. Agora, a dona dos animais sente medo de andar com os animais na rua novamente.
“Eu não tenho coragem mais de colocar os meus cachorros para andar nem ali na minha rua, porque eu fiquei sabendo que na rua de cima também já tiveram alguns casos, mas não sei se as pessoas divulgam ou acham que é norma. Então, de agora para frente, meus cachorros são do colo para o carro, do carro para dentro de casa”, desabafa a dona dos cães.
Para ela, a situação é um absurdo. Mesmo sem saber se a substância na calçada do prédio em questão foi colocada na intenção de envenenar animais, ela desconfia da atitude de alguns moradores que podem não gostar de animais e acabar cometendo o crime. No entanto, há a hipótese de que alguma substância tenha sido colocada no local para controlar insetos.
Segundo a denunciante, depois da intoxicação e internação, os cães não estão agindo como antes. Antes eram alegres e enérgicos e, agora, se encontram mais quietos. A tutora não realizou boletim de ocorrência contra o prédio, pois não há provas de que tenha sido intencional, mas, junto de outros moradores, ela está tomando medidas dentro da lei para que a situação não se repita e coloque em risco, além dos pets, animais de rua e até mesmo crianças que frequentam o local.
“Uma senhora da rua me falou que já aconteceu isso com a cachorrinha dela, que a cachorrinha dela ficou internada uma semana, mas não sabia o motivo. Então, pode ser que esteja acontecendo com outros cães que têm tutores. Imagina os que não tem tutores, que são cães de rua, ou crianças que podem sentar numa grama dessa. Se você faz isso do lado de fora do seu prédio, você tem que colocar aquela plaquinha de ‘grama em tratamento’, né”, conta.
Ruas vazias
A reportagem do Estado de Minas esteve no local denunciado e tentou contato com o síndico do prédio do bairro Buritis, mas não teve retorno. Um dos moradores do prédio em questão informou que não sabia da situação e que naquele prédio não tem cachorros.
Na região, moradores de outros prédios relataram estar com medo de sair nas ruas com seus pets e que perceberam as ruas esvaziadas depois da divulgação do caso nas redes sociais. Segundo a moradora Eliane Tito, tutora da cachorra Amstel, a situação é de medo.
“Eu estou refém com a Amstel, porque a gente não sabe onde está sendo colocado ou o que foi usado, então nós estamos preferindo não sair ou sair pouca distância por causa da colocação desse veneno todo que estão dizendo que realmente está acontecendo aqui no Buritis”, diz Eliane.
De acordo com a moradora Kátia Barcala, amiga de Eliane, o número de tutores com animais passeando pelas ruas do bairro diminuiu. Ela mesma tem tomado cuidado ao sair com seu cão na rua e prefere sair apenas em frente ao prédio onde mora e, às vezes, com o animal no colo.
Questionada sobre as possíveis motivações dos cães, as moradoras alegam que muitos tutores não recolhem as fezes dos animais quando passeiam com eles nas ruas e que isso pode incomodar algumas pessoas. No entanto, embora Kátia ache que a falta de higiene incomoda, ela acredita que o envenenamento de cães é injustificável, pois se trata de um crime.
Outros casos recentes
Na última semana, a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente passou a investigar o possível envenenamento de cerca de 40 cães na cidade do Rio de Janeiro, sendo que sete deles morreram. O caso ocorreu no Bairro Jardim Oceânico, na zona oeste do Rio, e inclui o animal de estimação do ator Cauã Reymond.
Os investigadores suspeitam que algum pesticida tenha causado as mortes, mas ainda não sabem se o veneno foi colocado nos canteiros da região com a intenção de matar os cachorros ou se algum condomínio espalhou o veneno simplesmente para combater pragas como ratos.
Se comprovado, o crime de maus-tratos a animais, quando se trata de cães ou gatos, pode ser punido com dois a cinco anos de prisão, multa e proibição da guarda. Caso o crime resulte na morte do animal, a pena pode ser aumentada em até um terço.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Humberto Santos