UFMG informou em nota que, com a desclassificação dos inscritos por reserva de vaga nas etapas de prova, a vaga remanescente foi revertida para ampla concorrência  -  (crédito: Gladyston Rodrigues/EM)

UFMG informou em nota que, com a desclassificação dos inscritos por reserva de vaga nas etapas de prova, a vaga remanescente foi revertida para ampla concorrência

crédito: Gladyston Rodrigues/EM

Candidatas relatam supostas irregularidades em processo seletivo para professores na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A pesquisadora Giselle Magalhães, de 37 anos, que é negra, participou da seleção para magistério no Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biológicas da universidade e observou que, ainda que a vaga fosse preferencialmente destinada a pessoas negras, apenas candidatos brancos foram aprovados. 


A suposta fraude teria ocorrido na fase de avaliação de um seminário, que, segundo a pesquisadora, é uma avaliação “parcialmente subjetiva”. Giselle e as outras duas candidatas negras obtiveram em média 45% de aprovação na etapa. Ela alega, no entanto, que na avaliação de currículo, atingiu a primeira colocação com 95 pontos, e na prova escrita, 71% de aprovação. A média geral de Giselle foi de 69,9%, em contrapartida, a nota de corte era 70 pontos. 

 


A candidata Raquel Duque, que também disputava a vaga afirmativa para negros, não atingiu a média de corte. Ela contou que obteve 90 pontos na análise de currículo e 70 pontos na avaliação escrita, mas, na etapa da apresentação do seminário, foi surpreendida com 46,2 pontos. “O que causa estranheza é a situação atípica de colocar notas extremamente baixas para mulheres negras”, apontou a candidata. 

Edital previa vaga afirmativa para candidatos negros

Edital previa vaga afirmativa para candidatos negros

Reprodução

 

Segundo as participantes do concurso, a banca poderia aprovar até cinco pessoas. Como se trata de uma vaga afirmativa, caso uma das candidatas negras tivesse sido aprovada, ainda que na quinta colocação, a vaga seria dela. No entanto, apenas quatro candidatos, não declarados negros, foram aprovados e obtiveram entre 84 e 97 pontos na apresentação do seminário. 


“Eu não estou magoada por não ter sido classificada, isso poderia acontecer. Mas a minha questão é que, mesmo com uma política afirmativa, eles conseguem burlar para que entre um candidato branco, é preocupante”, afirmou Giselle. 


Raquel enviou denúncias à Controladoria-Geral da União (CGU) e ao Ministério Público Federal (MPF). O grupo também entrou com um recurso junto à universidade pedindo a revisão da avaliação. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a Polícia Militar não foram acionados. 

 

Giselle Magalhães cresceu na comunidade do Alto Vera Cruz, em Belo Horizonte, e atua no programa Maria Zambrano financiado pela União Europeia como pesquisadora pós-doutoral na Faculdade de Medicina na Universidade Autônoma de Madrid, na Espanha, e retornou à capital mineira para realizar o sonho de lecionar na UFMG. Já Raquel Duque concluiu pós-doutorados na New York University of Medicine e na UFMG, onde lecionou como professora substituta no Departamento de Fisiologia e Biofísica em 2022 e 2023. 

 


O que diz a UFMG 


Em nota, a UFMG informou que, com a desclassificação dos inscritos por reserva de vaga nas etapas de prova, seguindo estritamente os parâmetros constantes no referido edital, a vaga remanescente foi revertida para ampla concorrência. A universidade ainda destacou que a banca examinadora não avaliou os candidatos em suas características fenotípicas, etapa que somente seria adotada, com a designação de uma Comissão de Heteroidentificação, no caso de aprovação de candidatos autodeclarados negros. 

 

*Estagiária sob a supervisão do subeditor Humberto Santos