Ativista Cristiano Scarpelli, do Canal Ciclo Rota BH, está à frente da mobilização e promete fazer de tudo para reverter a decisão de paralisação da construção da pista exclusiva -  (crédito: LEANDRO COURI/EM.D.A PRESS)

Ativista Cristiano Scarpelli, do Canal Ciclo Rota BH, está à frente da mobilização e promete fazer de tudo para reverter a decisão de paralisação da construção da pista exclusiva

crédito: LEANDRO COURI/EM.D.A PRESS

Uma manifestação conjunta, organizada por diversos grupos de ciclistas de Belo Horizonte, está marcada para esta quinta-feira (20/06). O ato tem como objetivo pedir a retomada das obras da ciclovia na Avenida Afonso Pena, na Região Centro-Sul da capital mineira.

 

“Vamos fazer de tudo para que seja mais um grande ato. Até porque a gente acredita que é possível reverter a decisão. Essa resistência que se formou contra a ciclovia carece de fundamento, é mais motivada pela desinformação”, defende Cristiano Scarpelli, do Canal Ciclo Rota BH.

 

Entre os argumentos contra a ciclovia estão o impacto no trânsito, que geraria engarrafamentos, baixo número de ciclistas no local e a necessidade de corte de árvores para a realização da obra. O ativista diz que eles não refletem a realidade.

 

Para refutar que o trajeto, por se tratar de uma via íngreme, não seria utilizado pelos ciclistas, a manifestação terá início na Praça Sete e seguirá até a Praça da Bandeira, no alto da avenida.

 

Nas últimas semanas, Scarpelli fez registros do trecho da Afonso Pena que estaria apresentando problemas com o fluxo de automóveis e compartilhou nas redes sociais. Eles mostram o trânsito fluindo normalmente. “Nas minhas visitas, confesso que fiquei surpreso ao comprovar que em 100% das vezes que estive na avenida, nunca testemunhei o tão falado trânsito caótico por culpa da ciclovia”, afirma Scarpelli.

 

Ele também realizou a contagem dos ciclistas que passavam. “Acho importante pontuar que aproveitei os cinco registros em vídeo que realizei para contar o número de ciclistas que passam na avenida. Na parte alta contei uma média de 130 e, na parte baixa, perto de 400 bicicletas”, relata.

 

Assim como sobre a alegação de que a construção da ciclovia estaria causando prejuízo no fluxo de veículos na região, também foram apresentadas defesas que contrapõem a necessidade de corte de árvores.

 

Segundo apurado pelo Estado de Minas, ao negar o pedido de paralisação das obras, em abril deste ano, o juiz responsável pelo caso ponderou que o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) não especificou a quantidade de espécimes que seriam suprimidas ao passo que a prefeitura indica o corte de apenas uma árvore.


TRABALHOS NO CANTEIRO

A implementação da ciclovia faz parte do pacote de obras de requalificação do Centro da cidade. Ela compreende a criação de uma via exclusiva para os ciclistas, nos dois sentidos, em toda a extensão da Avenida Afonso Pena – da Praça Rio Branco, no Centro, até a Praça da Bandeira, no Mangabeiras.

 

A obra está paralisada desde o dia 16 de abril, quando o MPMG solicitou a suspensão. Apesar de o pedido ter sido negado pela Justiça, a prefeitura optou pela interrupção até o encerramento da ação civil.

 

 

Por meio de nota, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que a “Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) ressalta que os operários seguem os trabalhos de urbanização e reestruturação do canteiro central da Avenida Afonso Pena, que está recebendo irrigação, novo paisagismo e acessibilidade. A obra também continua na parte de recapeamento e implantação de acessibilidade nos passeios”.

 

Na segunda-feira da semana passada (10/06), o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) determinou a paralisação das obras da ciclovia. A decisão de atender ao pedido do MPMG foi do desembargador Armando Freire, que não quis falar com a reportagem.

 

Entre as reivindicações do MPMG, está a não supressão de qualquer árvore na Afonso Pena para os fins de implantação da ciclovia até o licenciamento. O MPMG também argumenta que a apresentação pela prefeitura de um licenciamento urbanístico para as obras possibilitaria ampla e indiscriminada participação popular, dando à população a chance de se manifestar quanto aos impactos e medidas previstas para o empreendimento.


DISCUSSÃO DO PROJETO

Os ciclistas apresentam uma versão diferente. Marcos Gomes, representante da BH em Ciclo, afirma que o projeto da ciclovia na Avenida Afonso Pena é fruto de trabalho coletivo entre o poder público e a sociedade civil, ou seja, a ciclovia não nasceu “do nada”. Segundo ele, a BH em Ciclo e outros grupos de ciclistas estiveram presentes em pelo menos dois encontros com a prefeitura para a discussão do projeto, em janeiro e março de 2023.

 

“Existe uma desinformação por parte dos vereadores. Eles estão fazendo vídeos falando que a prefeitura está instalando a ciclovia de forma intransigente. Que a prefeitura fez o projeto e não discutiu com a sociedade. Isso é mentira, está sendo discutido há muito tempo”, afirma Gomes.

 

Segundo ele, a construção da ciclovia em toda a extensão da Afonso Pena seria um marco para a capital mineira. Marcos cita que cidades como Fortaleza, São Paulo e São Francisco, nos Estados Unidos, têm ciclovias importantes em seus centros.


Entregas previstas

Segundo a PBH, a capital conta, atualmente, com 110km de ciclovias e ciclofaixas implantadas. Este ano, foi concluída a implantação da Avenida Heráclito Mourão de Miranda, com 4km de extensão.

 

Estão em processo de implantação as ciclovias da Afonso Pena (4,2 km) e as ruas São Paulo (0,8 km) e Rio de Janeiro (1,8 km), que somam 6,8 km. Outras duas, as avenidas Vilarinho (2 km) e Liége (1,1 km), em Venda Nova, já estão com as obras licitadas e previsão de início em julho deste ano. A previsão é de que sejam totalizados cerca de 125km até o final de 2024.