Trecho da Antônio Carlos nas proximidades da UFMG é ponto crítico de acidentes -  (crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Trecho da Antônio Carlos nas proximidades da UFMG é ponto crítico de acidentes

crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A Press

Faz parte da rotina de quem faz o trajeto entre a Pampulha e o Centro de BH. Em determinado momento do deslocamento, pé no freio. O trânsito está completamente travado. Depois de minutos, em alguns casos até hora, de muita paciência no volante é possível descobrir o motivo do congestionamento. Trata-se de mais um acidente que assola a Avenida Antônio Carlos, um dos principais corredores da cidade, o último a ser analisado pela série de reportagens “Risco sobre Rodas”, do Núcleo de Dados do Estado de Minas. Ainda neste fim de semana, o material será finalizado com o histórico de ocorrências envolvendo motociclistas.

 

Nos últimos 10 anos, a Antônio Carlos registra 17.783 acidentes, o quinto maior número entre todas as vias de Belo Horizonte. Apesar disso, quando se olha para o total de mortes, a via sobe mais dois degraus: é a terceira com mais vidas perdidas – 57, considerando o período entre janeiro de 2014 e abril deste ano. Somente o Anel Rodoviário e a Avenida Cristiano Machado, como mostrou o EM na série, registram mais óbitos que o corredor entre a Pampulha e o Centro.

 

Apesar de registrar um número absoluto menor de mortes, a Antônio Carlos computa uma letalidade maior em seus acidentes no comparativo com a Cristiano Machado. Dos 17.783 registros na primeira avenida, 0,32% terminou com uma vida perdida, de acordo com os dados do Observatório de Segurança Pública de Minas Gerais, segmentados pela reportagem. Essa proporção para o corredor entre a Região Norte e o Centro é de 0,2%. O caso mais alarmante continua com o Anel: 0,72% das ocorrências na rodovia terminam em óbito.

 

Quando o recorte se volta aos acidentes graves, a Antônio Carlos ocupa a terceira colocação em BH: 263 desde 2014. Isso quer dizer que a cada 14 dias, em média, o Samu é acionado para socorrer uma pessoa em estado grave na via. São 3.790 registros com ao menos uma vítima na avenida, independentemente da gravidade.

 

“A Antônio Carlos é o principal vetor entre o norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte e o Centro da cidade. Temos que lembrar desse fluxo que vai para outros municípios (como Vespasiano, Confins, Lagoa Santa e Pedro Leopoldo). Ela tem também alguns polos atrativos para o turismo e o lazer, como o Mineirão e o Complexo Arquitetônico da Pampulha. Tem a UFMG também. É um trânsito intenso de veículos e pedestres”, afirma o professor de educação e segurança no trânsito do Cefet-MG, Agmar Bento Teodoro.

 

Há exatamente dois meses, uma colisão entre motociclistas acabou em fatalidade na Antônio Carlos, na altura do Bairro Lagoinha, Região Noroeste de BH. Dois homens colidiram no início da manhã, por volta das 6h. Um deles sobreviveu ao ser socorrido ao Hospital Odilon Behrens, localizado a poucos metros da ocorrência, mas o outro perdeu a vida. O que morreu não usava capacete: a receita perfeita para a tragédia.

 

Imprudência marca acidentes

 

O frentista Walisson Moraes, de 25 anos, trabalha em um posto de combustíveis na Avenida Antônio Carlos há quase um ano. Ele relata que já viu quatro acidentes no trecho próximo ao acesso ao Estádio do Mineirão, durante o período que frequenta o local. “As batidas geralmente envolvem ônibus e os motociclistas, que furam o sinal e batem contra os coletivos que estão saindo do corredor do Move. Só neste ano, vi dois assim”, diz. O trecho em questão, de aproximadamente um quilômetro de extensão, entre o Viaduto Senegal (primeiro pontilhão após a UFMG, no sentido Venda Nova) e a Barragem da Pampulha, concentra seis pontos com ocorrências fatais nos últimos três anos, como mostra o mapa abaixo.

 

 

A situação narrada por Walisson resultou em morte em abril deste ano. Um motociclista, segundo testemunhas à época, avançou o sinal vermelho na Antônio Carlos, justamente na altura do cruzamento com a Avenida Abrahão Caram, que dá acesso ao Gigante da Pampulha, dentro do trecho entre o viaduto e a barragem. Ele perdeu a vida após bater contra um ônibus do transporte público, que saía da pista do Move para acessar as faixas comuns, no sentido Venda Nova. A vítima tinha 32 anos e chegou a ser socorrida ao Odilon Behrens, mas não resistiu.

 

Ainda de acordo com o frentista ouvido pelo EM, por causa dos constantes acidentes no local, o poder público instalou um radar de avanço de sinal na Antônio Carlos. “Têm uns três meses que colocaram aquele avanço. Desde então, não vi mais acidentes. Boa parte dos motociclistas pararam de furar o sinal. Foi uma boa ideia”, afirma.

 

O aposentado Laurindo Barbosa, de 74, mora na região da Pampulha há mais de 50 anos. O idoso tem o costume de andar de bicicleta pela região e considera a Avenida Antônio Carlos uma das vias mais perigosas da cidade. “Aqui é um lugar de risco, porque tem gente de tudo quanto é tipo: idoso, criança, motorista correndo, ciclista que não anda na mão dele…”, diz.

 

Ele conta que uma vez se acidentou na altura da barragem, visto que no trecho não existe ciclovia. Para não dividir o espaço com veículos automotores, os ciclistas precisam passar por um corredor junto aos pedestres. “Estava na minha mão, e um senhor entrou na frente da bicicleta. Quase caí sobre os carros que passavam no momento. Machuquei o joelho, e os pneus da bicicleta furaram”, relembra.

 

O ciclista aponta os principais perigos que vê na Antônio Carlos a cada pedalada. “É muito carro, moto e bicicleta. Você tem que andar o tempo todo olhando para trás, prestando atenção. Se vem um doido correndo, eu dou passagem para ele ultrapassar na hora. Os motoristas têm muita pressa. Se os carros param, você tem que prestar atenção nas motos, que passam em qualquer fresta e podem bater em você”, afirma.

 

*Estagiário sob supervisão do subeditor Gabriel Ronan