Mural gigante ocupa casas do Morro do Papagaio -  (crédito: Leandro Couri/EM)

Mural gigante ocupa casas do Morro do Papagaio

crédito: Leandro Couri/EM

As casas do Morro do Papagaio, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, serão preenchidas por muitas pipas na 3ª edição do projeto de arte urbana Morro Arte Mural (Mamu). A pintura começou nessa segunda-feira (18/6) e está prevista para ser finalizada no dia 30 de junho.


A vila Santa Rita de Cássia ficou conhecida como Morro do Papagaio em função dos inúmeros jovens e crianças que subiam no alto do morro para soltar papagaios. Portanto, a artista plástica Kika Carvalho é quem estampa a comunidade com a sua série “Brasões”.

 

São pipas confeccionadas com símbolos do movimento afro-diaspórico, que ela afirma terem sido afastados das famílias afro-brasileira. Com um layout específico criado por Kika, as casas serão coloridas pelas pipas, conhecidas também como papagaios, que brincam em diálogo ao nome da região. 


“A artista iniciou na arte urbana, ela era grafiteira, eu já admirava o trabalho dela, os brasões trazem o formato das pipas com símbolos em favor da reconstrução da história de famílias negras, então são várias camadas de sentido. Foi muito lógico chegar nessa ideia, até mesmo pela brincadeira lúdica com o nome da própria comunidade”, disse Juliana Flores, idealizadora do projeto em conjunto com Janaína Macruz.

 

Ela afirma, ainda, que o local já era desejado para o Mamu, principalmente pela história de luta e potência cultural da comunidade na capital mineira. “É por toda efervescência do Morro do Papagaio”, ela ressalta. 


A intervenção artística começou pintando casas que receberão pipas/papagaios azuis ilustrados por uma pomba branca, espalhando as cores pelo aglomerado. O símbolo traz a segmentação da ave como um aspecto de liberdade, paz e emancipação. O que também se encaixa com o sentido das próprias pipas, soltas e voando pelo ar.

 

Além disso, Kika encaixou seu trabalho na história da comunidade, criando novos desenhos especialmente para o Morro do Papagaio. Dois dos três novos brasões tem como representação casas, em homenagem a eterna luta por moradia, e o outro é o punho de resistência do movimento negro. “Mesmo não sendo exclusivamente só pessoas negras na periferia, a história social afirma que são essas as mais presentes, então decidimos homenageá-las dessa forma”, afirma. 

 

A artista convidada da 3° edição é a capixaba Kika Carvalho, que une sua obra à cena belo-horizontina

A artista convidada da 3° edição é a capixaba Kika Carvalho, que une sua obra à cena belo-horizontina

Leandro Couri/EM


A pintura começou esta semana, mas o trabalho já está sendo pensado e planejado há mais tempo. A primeira fase foi o mapeamento e o reboco das casas para, depois, as cores das pipas surgirem. “Está sendo muito legal, especialmente com as meninas da comunidade que eu me aproximei e estão fazendo parte disso, estamos aprendendo todas juntas. É uma troca muito boa. Eu comecei a pintar pintando, há 20 anos, e tenho passado muito tempo no ateliê e com esse pensamento de arte contemporânea, então está sendo bom rememorar essa forma de produção urbana”, Kika Carvalho compartilha.


O desenho privilegiado da cidade para quem chega pela BR-356, a popular Avenida Nossa Senhora do Carmo, é um cartão de visita que, agora, se junta às pipas da artista capixaba.

 


O Mamu


O projeto Arte Morro Mural (Mamu) foi idealizado ainda em 2018 por Juliana Flores e Janaina Macruz, com objetivo de não só criar e conceber um projeto de arte pública nas periferias, mas algo singular no país. “Estava pesquisando sobre MacroMural, um estilo muito comum na Colômbia, onde, além da requalificação das casas na comunidade, há uma composição com várias superfícies, como um quebra-cabeça. É um grande mural composto por inúmeras partes, que se unem em uma só”, Juliana diz. 


A 1ª edição passou pelo Alto Vera Cruz, Região Leste da cidade, em 2018. Já em 2022, a 2ª edição foi na Região Noroeste de Belo Horizonte, em Vila Nova Cachoeirinha. Todos os desenhos têm cerca de 3 mil metros quadrados e, segundo a diretora artística, “existe uma expertise da equipe, que trabalha há muitos anos nesse projeto”.

 

Eles marcam um “ponto ótimo”, o ponto de apreciação da imagem perfeita com a composição das casas. O desenho é aplicado no grid, a medição da superfície, e com essa marcação fazem a técnica de ampliação do desenho. Existe, também, um fotógrafo presente o tempo inteiro no ponto ótimo para o acompanhamento do projeto.


 

Da equipe, 70% é composta por pessoas da comunidade. A participação local é amplamente reforçada na intervenção. Tal como as casas formam um grande mural, a comunidade em coletivo se transforma em uma grande equipe.

 

“Faz mais sentido do que chegar gente de fora mexendo na comunidade, isso tudo só para levar imagens para portfólios, o pessoal do Morro envolvido leva mais verdade ao projeto”, afirma Kika Carvalho, autora da obra que enquadrará o Morro do Papagaio.

 

 

Festa de encerramento

A comunidade se junta a finalização do trabalho no dia 30 de junho, em uma festa de encerramento na quadra da BR-356, das 15 às 22 horas. 

 


O evento é aberto ao público e contará com artistas e expositores de comida e arte num momento de apreciação cultural. “É um momento de celebrar depois de 3 meses de convivência diária, é para romper todas as barreiras do asfalto”, celebra Juliana Flores.

 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice