Adélcio Leite, morto numa emboscada em Lagoa Santa, em 2020, é pai de Ivan, julgado por assassinato em Malacacheta -  (crédito: Vera Godoy/EM/D. A. Press)

Adélcio Leite, morto numa emboscada em Lagoa Santa, em 2020, é pai de Ivan, julgado por assassinato em Malacacheta

crédito: Vera Godoy/EM/D. A. Press

Teve início nesta quinta-feira (20/6), no 1º Tribunal do Júri de Belo Horizonte, o julgamento de Ivan Nunes Leite e Pablo Pinto dos Santos, pelo assassinato de José Carlos Augusto Couy, a tiros, em 22 de novembro de 2019, em Córrego Floresta, na zona rural de Malacacheta, no Vale do Mucuri.


Um outro indiciado, Adélcio, um dos “Irmãos Leite”, pai de Ivan, também deveria ser julgado, mas ele morreu em 17 de junho de 2020 numa emboscada, quando saía de uma barbearia, em Lagoa Santa. O crime ainda não esclarecido.


Segundo as investigações policiais, o crime foi arquitetado por Adélcio, tendo como executores o filho dele, Ivan, e Pablo.


 

O crime aconteceu quando José Carlos transitava pela estrada de Franciscópolis a Malacacheta, AMG-900, conduzindo um trator. Pablo estava na garupa de uma motocicleta, cujo piloto não foi identificado. Escolheram um ponto da estrada e aguardaram a aproximação da vítima, José Carlos, no trator. 


Ao avistarem a vítima, a moto arrancou em direção ao trator e foram desferidos vários tiros contra Pablo, atingido na cabeça, do lado esquerdo; no lado esquerdo do peito; na perna esquerda e na clavicular esquerda.


No momento em que recebeu o impacto dos tiros, Pablo perdeu o controle do trator, que tombou às margens da rodovia. Na sequência, a vítima foi socorrida, mas morreu em razão dos ferimentos.


Em seguida, os autores fugiram pela estrada, em direção ao distrito de Junco de Minas, tentando escapar de qualquer suspeita.


Segundo os autos de investigação, Pablo, acompanhado de uma pessoa não identificada, agiu sob o comando de Ivan, que planejou o crime juntamente com o pai, Adélcio.


Ficou comprovado também que o crime aconteceu em decorrência da guerra entre as famílias "Nunes Leite" e “Cordeiro de Andrade", que se iniciou na década de 1990, disseminando temor generalizado na região do Vale do Mucuri.


Na década de 90, Elenisio Nunes Leite, o “Leno”, filho de Adélcio e irmão de Ivan, foi também assassinado. José Carlos foi denunciado e processado como partícipe da empreitada criminosa que resultou no assassinato de “Leno”. No entanto, foi absolvido. Adelcio e Ivan jamais se conformaram.


Desde então, José Carlos vivia amedrontado, temendo por sua vida, e denunciava ser ameaçado constantemente por Adélcio. Poucos dias antes de ser morto, chamou os filhos e pediu que tivessem a atenção redobrada, pois temia pela integridade física destes.


Consta ainda no inquérito que, para que não houvesse falhas no planejado, os denunciados escolheram o local do crime, um lugar em que provavelmente não haveria testemunhas oculares. A estrada de acesso a Franciscópolis era um local por onde a vítima passava geralmente sozinho para ir ao trabalho. Faltava, no entanto, um executor para o crime. Foi então que Ivan contatou Pablo.


Ivan e Pablo eram amigos e vistos constantemente juntos, inclusive no dia do crime, num posto de gasolina, o que foi registrado por câmeras de segurança.


O inquérito foi concluído com o homicídio tendo sido cometido por motivo torpe - vingança vil e abjeta, em razão do assassinato de Elenisio Nunes Leite, o “Leno”.


A chacina de Malacacheta


Um dos crimes mais famosos cometidos pelos Irmãos Leite – em todos Adélcio estava envolvido – ficou conhecido como a “Chacina de Malacacheta”, quando nove pessoas de uma só família foram assassinadas na cidade.


O crime ocorreu por causa de uma disputa de terras, em fevereiro de 1990. Joel Moreira Cordeiro , o "Jó", pretendia assumir a administração das terras de sua amante, a Fazenda Palmital do Córrego Novo, em Malacacheta. No entanto, a propriedade estava arrendada por Antônio Nunes Leite, o Toninho, irmão mais novo da família Leite, aliás, parente da herdeira.


Toninho não pretendia deixar as terras. Já tinha, inclusive, feito uma proposta à herdeira. Quando Toninho arrendou a fazenda, havia um litígio pelas terras deixadas por José dos Anjos.


O contrato venceria em 1º de agosto de 1989, e, antes mesmo do vencimento, os tios da herdeira, Carlos, Sálvio e Valdir Correa de Souza, conhecidos como Carlinhos, Salvino e Bedeu, manifestaram o desejo de administrar as terras.

 

Os três filhos do fazendeiro Joaquim Correia de Souza, o Joaquim do Ó, que se relacionavam com os irmãos Leite, tinham interesse nas terras. Sabendo do interesse dos filhos de Joaquim do Ó pelas terras de sua amante, Jó resolveu assassiná-los, como ficou apurado pela polícia. Carlinhos, Salvino e Bedeu foram mortos em junho de 1989, mas sem a participação dos Leite.


Com o crime, um dos vértices do triângulo dos pretendentes às terras da herdeira de José dos Anjos foi eliminado. Restavam ainda, contudo, Jó Cordeiro e Toninho Leite.


Com plano arquitetado por Zé Leite, Adélcio, Alírio e Toninho contrataram capangas, que chegaram à fazenda dos Cordeiro vestidos com coletes da Polícia Civil e assassinaram toda a família de “Jó”. 


Ao todo, aos irmãos Leite são atribuídos mais de 40 assassinatos. Antes de ser colocado em liberdade graças a um indulto por causa da idade, Adélcio tinha sido condenado a 229 anos de prisão.