Pintura nas casas começou segunda-feira e será finalizada em 30 de junho. A equipe de trabalho, nesta 3ª edição, é composta por 70% de moradores da comunidade -  (crédito: Leandro Couri/EM/D.A.Press)

Pintura nas casas começou segunda-feira e será finalizada em 30 de junho. A equipe de trabalho, nesta 3ª edição, é composta por 70% de moradores da comunidade

crédito: Leandro Couri/EM/D.A.Press

As casas do Morro do Papagaio, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, serão preenchidas por muitas pipas na 3ª edição do projeto de arte urbana Morro Arte Mural (Mamu). A pintura começou na última segunda-feira (17/6) e está prevista para ser finalizada no dia 30 de junho.

 

A vila Santa Rita de Cássia ficou conhecida como Morro do Papagaio em função dos inúmeros jovens e crianças que subiam no alto do morro para soltar papagaios. Portanto, a artista plástica Kika Carvalho é quem estampa a comunidade com a sua série “Brasões”. São pipas confeccionadas com símbolos do movimento afro-diaspórico, que ela afirma terem sido afastados da afro-brasileira. Com um layout específico criado por Kika, as casas serão coloridas pelas pipas, conhecidas também como papagaios, que brincam em diálogo ao nome da região.

 

“A artista iniciou na arte urbana, ela era grafiteira, eu já admirava o trabalho dela, os brasões trazem o formato das pipas com símbolos em favor da reconstrução da história de famílias negras, então são várias camadas de sentido. Foi muito lógico chegar nessa ideia, até mesmo pela brincadeira lúdica com o nome da própria comunidade”, disse Juliana Flores, idealizadora do projeto em conjunto com Janaína Macruz.

 

A intervenção artística começou pintando casas que receberão pipas/papagaios azuis ilustrados por uma pomba branca, espalhando as cores pelo aglomerado. O símbolo traz a segmentação da ave como um aspecto de liberdade, paz e emancipação, o que também se encaixa com o sentido das próprias pipas, soltas e livres pelo ar.

Além disso, Kika encaixou seu trabalho na história da comunidade, criando novos desenhos especialmente para o Morro do Papagaio. Dois dos três novos brasões têm como representação casas, em homenagem à eterna luta por moradia, e o outro é o punho de resistência do movimento negro. “Mesmo não sendo exclusivamente só pessoas negras na periferia, a história social afirma que são essas as mais presentes, então decidimos homenageá-las dessa forma”, afirma.

 

A pintura começou esta semana, mas o trabalho já está sendo pensado e planejado há mais tempo. A primeira fase foi o mapeamento e o reboco das casas para, depois, as cores das pipas surgirem. “Está sendo muito legal, especialmente com as meninas da comunidade que eu me aproximei e estão fazendo parte disso, estamos aprendendo todas juntas. É uma troca muito boa. Eu comecei a pintar pintando, há 20 anos, e tenho passado muito tempo no ateliê e com esse pensamento de arte contemporânea, então está sendo bom rememorar essa forma de produção urbana”, diz Kika Carvalho.


Sobre o Mamu

O projeto Arte Morro Mural (Mamu) foi idealizado ainda em 2018 por Juliana Flores e Janaina Macruz, com objetivo de não só criar e conceber um projeto de arte pública nas periferias, mas algo singular no país. “Estava pesquisando sobre MacroMural, um estilo muito comum na Colômbia, onde, além da requalificação das casas na comunidade, há uma composição com várias superfícies, como um quebra-cabeça. É um grande mural composto por inúmeras partes, que se unem em uma só”, Juliana diz.

 

A 1ª edição passou pelo Alto Vera Cruz, Região Leste da cidade, em 2018. Já em 2022, a 2ª edição foi na Região Noroeste de Belo Horizonte, em Vila Nova Cachoeirinha. Todos os desenhos têm cerca de 3 mil metros quadrados e, segundo a diretora artística, “existe uma expertise da equipe, que trabalha há muitos anos nesse projeto”.

 

Eles marcam um “ponto ótimo”, o ponto de apreciação da imagem perfeita com a composição das casas. O desenho é aplicado no grid, a medição da superfície, e com essa marcação fazem a técnica de ampliação do desenho. Existe, também, um fotógrafo presente o tempo inteiro no ponto ótimo para o acompanhamento do projeto.

 

Da equipe, 70% é composta por pessoas da comunidade. A participação local é amplamente reforçada na intervenção. Tal como as casas formam um grande mural, a comunidade em coletivo se transforma em uma grande equipe. “Faz mais sentido do que chegar gente de fora mexendo na comunidade, isso tudo só para levar imagens para portfólios, o pessoal do Morro envolvido leva mais verdade ao projeto”, afirma Kika Carvalho, autora da obra que enquadrará o Morro do Papagaio.

 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Rafael Oliveira