Edifício Mirafiori de 20 andares  -  (crédito:  leandro couri/EM/D.A Press)

Edifício Mirafiori de 20 andares

crédito: leandro couri/EM/D.A Press

 

Mariana Costa e Wellington Barbosa*

 

Peritos da Polícia Civil ainda avaliam se algum outro fator contribuiu para a queda de um dos seis elevadores do Edifício Mirafiori, na Rua Guajararas, no Centro de Belo Horizonte, no início da noite de quinta-feira. Mas uma coisa é certa: o equipamento estava superlotado, o que acende um alerta para necessidade de os usuários ficarem atentos às condições de segurança ao entrar em elevadores, respeitando a lotação indicada nas placas afixadas nas cabines. Segundo o Corpo de Bombeiros, havia 22 pessoas no interior do equipamento, cuja capacidade máxima é de 17 ocupantes. Algumas se feriram, sem risco de morte.


Entre os ocupantes estavam 13 alunos do Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac), que fica no 15º e 16º andares, e funcionários de unidade do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), instalada nos quatro pisos acima da escola. De acordo com o tenente Magalhães, do Corpo de Bombeiros, o técnico e o engenheiro responsável contaram aos militares que o elevador estava com sobrepeso e desceu do 14° andar até o subsolo com uma velocidade acima do normal. Porém, não em queda livre. Ele teria parado totalmente, mas com a cabine em desnível em relação ao piso.

 


A queda, de aproximadamente um metro e meio, teria acontecido quando um técnico foi fazer o nivelamento. Dessa vez, o elevador chegou a quicar sobre as molas amortecedores do fosso. Com esse impacto, algumas pessoas se machucaram. Diante disso, todos os ocupantes foram retirados da cabine mesmo sem o nivelamento.

 


Segundo o tenente, os bombeiros foram acionados por volta das 18h30 de quinta-feira. A primeira equipe a chegar ao local foi informada pelo porteiro do edifício de que todas as vítimas já estavam fora da cabine e recebiam atendimento no subsolo do prédio, mas estavam fora de perigo. De acordo com ele, socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) fizeram uma triagem e constataram que nove vítimas precisavam ser levadas para atendimento médico. Elas foram encaminhadas para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, na Região Centro-Sul de BH. Todas reclamavam de dor na coluna ou em membros inferiores. Quatro alunos tiveram ferimentos leves, ninguém se machucou gravemente.


Já o Senac informou que no momento do embarque dos estudantes o equipamento estava vazio, respeitando, assim, o limite permitido. Os demais estudantes, que não precisaram de atendimento médico, foram liberados, acompanhados pelos responsáveis. O Senac acionou as famílias e informou que está prestando o acompanhamento necessário.

 


De acordo com uma funcionária do Senac, que não quis se identificar, a entrada de alunos nos elevadores após o fim das aulas é monitorada por funcionários da entidade, uma vez que os estudantes são adolescentes. Na noite de quinta-feira, entretanto, o equipamento teria subido em vez de descer e, quando parou em um dos andares ocupados pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), mais pessoas teriam entrado, o que gerou a superlotação. Um vigilante que também não quis se identificar narrou uma versão diferente. Segundo ele, os alunos teriam entrado no elevador no primeiro andar e, antes mesmo da subida, o equipamento teria caído no fosso.


ATENDIMENTOS E TEMORES

 

Perito faz análise do equipamento envolvido no acidente no mirafiori

Perito faz análise do equipamento envolvido no acidente no mirafiori

leandro couri/EM/D.A Press

 

 

Como não é responsável pela vistoria ou manutenção de elevadores, o Corpo de Bombeiros não dispõe de registros específicos sobre queda dos equipamentos, mas dispõe de dados sobre ocorrências atendidas pela corporação relacionadas aos aparelhos, em geral para a retirada de pessoas presas ou prensadas. De acordo com o levantamento da corporação, de 2020 a 2024, os militares fizeram o salvamento de 2.431 pessoas presas e 49 prensadas em elevadores no estado. Apenas neste ano, a corporação registrou 361 ocorrências de pessoas presas e oito prensadas. Em Belo Horizonte, de 2020 a 2024, foram salvas 1.130 pessoas presas e sete prensadas em elevadores. Neste ano, foram 164 salvamentos de pessoas presas e dois de usuários prensados pelo equipamento.


E situações como a de quinta-feira reforçam os temores em torno da segurança. Às 8h30 de ontem, os peritos iniciaram os trabalhos de análise do elevador de número 5, que ficou interditado ao longo do dia. Os outros cinco equipamentos que servem ao prédio, de 20 andares, funcionavam normalmente. Mas a notícia do acidente deixou algumas pessoas que transitavam pelo edifício desconfiadas. Josué Amaro, de 22 anos, formado em economia, contou ter ouvido pessoas dizerem que estavam com medo de andar nos elevadores e que preferiam descer de escada. Uma mulher, que não quis se identificar, foi até o prédio já sabendo da notícia da queda pelas redes sociais, mas não se importou em usar um dos elevadores. “No meu ponto de vista não foi uma falha mecânica, e sim, uma falha humana”, disse.

Estagiário sob supervisão da subeditora Rachel Botelho