Corpo do menino foi sepultado no último dia 11, em Lagoa Santa -  (crédito: Jair Amaral/EM/D. A. Press)

Corpo do menino foi sepultado no último dia 11, em Lagoa Santa

crédito: Jair Amaral/EM/D. A. Press

Passadas duas semanas da morte do menino José Guilherme, de 7 anos, por desnutrição, o pedido de guarda dos netos, os três irmãos do menino, de 1, 10 e 13 anos, feito pela avó, Maria Antônia Contreira, ainda não foi apreciado e definido pelo Ministério Público de Lagoa Santa.


A avó, que vive em Sergipe, veio para Lagoa Santa tão logo soube da morte do neto. E, tão logo chegou à cidade, solicitou ao Conselho Tutelar, que está responsável pela guarda das crianças, o direito de guarda.

 

 

As crianças foram encaminhadas para um residência assistencial especializada em acolher crianças, a Casa Lar, onde estão desde a morte.


No início desta semana, o Conselho Tutelar encaminhou o caso para o Ministério Público, e ainda não houve a apreciação do caso. A mãe das crianças, Crislaine Contreira, e o padrasto, apontado como responsável pela morte, estão na cadeia.


Segundo o Ministério Público, o processo tramita sob segredo de justiça, para preservar a privacidade e os direitos das partes envolvidas.


O caso


O corpo do menino José Guilherme foi sepultado no último dia 11, no Cemitério Campo da Saudade, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ele morreu na sexta-feira (7/6), na Santa Casa de Lagoa Santa, onde deu entrada, com quadro de desnutrição.


Segundo os médicos que atenderam a criança, ela tinha sinais graves de desnutrição, e decidiram chamar a polícia. Um dos médicos relatou à polícia que a criança chegou no hospital muito magra. "Era pele e osso", ressaltou no momento da denúncia.

 

O menino chegou à Santa Casa acompanhado da mãe, Crislaine, que estava com um recém-nascido, de pouco mais de um mês e meio, no colo. O pai, Vitor, não estava com eles.


Em contato dos policiais com o pai, ele alegou que o enteado, no caso José Guilherme, tinha ficado doente, e que estaria vomitando, muito, um líquido na cor esverdeada. Alegou, também, que a criança não conseguia se alimentar. Disse, também, que no momento que Crislaine levou o menino ao hospital, ele estava trabalhando, como ajudante de mudança, portanto, não estava em casa.


Afirmou, também, aos policiais, que não foi ao hospital, por medo de ser preso. Confessou, então, que algumas vezes privava a criança de comer, pois a comida, para a família era pouca, e o “menino comia muito”, teria dito, segundo o Boletim de Ocorrências (BO) da PM.

 

Nas investigações surgiram as denúncias de que o padrasto impedia a criança de se alimentar. A mãe, ao prestar depoimento, disse que já tinha flagrado José Guilherme comendo ração de cachorro.


Testemunha


Uma testemunha, um vizinho, contou aos policiais que no dia do nascimento do mais novo do casal, os outros três filhos, e 10, 13 e José Guilherme, ficaram em sua casa e que ele notou que as crianças estavam muito magras, sendo que o último, estava em situação pior que os irmãos. “Ele estava magro demais”, teria dito.


A testemunha chegou a ligar para o celular de Crislaine, que estava em poder de Vítor e disse que iria levar José Guilherme para o hospital, mas o padrasto respondeu que não seria necessário, pois este seria alérgico.


Afirmou ainda que se o levasse ao hospital, o Conselho Tutelar poderia recolher os três meninos. E prometeu ao vizinho que assim que retornasse do hospital, levaria José Guilherme a um médico.


Nessa conversa, Vítor teria admitido ao vizinho, que José Guilherme não comia havia seis dias, pois vomitava muito e por isso estaria tomando remédio. E que ele estaria doente.


Houve, também, nesse telefonema, segundo a testemunha, uma proposta de Vítor, para que levasse as crianças para casa e as deixassem lá, sozinhas. “Ele tentou me convencer a fazer isso, mas não fizemos, por não concordar”, disse ele, que estava com a mulher, que ajudava a olhar as crianças.


O vizinho decidiu então alimentar os meninos, dando-lhes frutas e biscoitos. Também serviu almoço. O filho mais velho, de 13 anos, disse ao vizinho, que todos estavam se alimentando e indo à escola, o que não era verdade.


Depois de alimentar os três filhos de Crislaine, a testemunha disse ter percebido que José Guilherme não conseguia andar e estava com a voz muito fraca, falando baixo.


Ele procurou conversar com o menino, que lhe contou que estava com medo, por ter comido muito e que seria castigado pelo padrasto. “Ele disse que precisava vomitar”, disse a testemunha.


O vizinho lhe disse que ele não havia feito nada de errado e que ele poderia comer o que quisesse. Contou também que depois de alimentar José Guilherme, olevou para dar banho e percebeu que a magreza era extrema, pois via veias e osso aparentes. E que além disso, o coração palpitava. Depois disso, quando Vítor e Crislaine retornaram para casa, com o recém-nascido, devolveu os meninos.


O caso é investigado pela Delegacia de Lagoa Santa, que aguarda pelo laudo pericial para sua conclusão e remetê-lo para a justiça.