Delegada Monah Zein foi encaminhada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a um hospital de Belo Horizonte, em novembro -  (crédito: Pedro Faria / EM/D.A Press - Redes Sociais / Reprodução)

Delegada Monah Zein foi encaminhada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a um hospital de Belo Horizonte, em novembro

crédito: Pedro Faria / EM/D.A Press - Redes Sociais / Reprodução

A delegada da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) Monah Zein, de 38 anos, que se trancou em seu apartamento no Bairro Ouro Preto, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, entre os dias 21 e 22 de novembro do ano passado, foi denunciada por tentativa de homicídio contra quatro policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). Segundo o boletim de ocorrência, registrado pela mãe da delegada, na época da ocorrência, a servidora confessou que atirou seis vezes contra colegas. O caso está em segredo de Justiça. 


 

A ocorrência envolvendo a delegada ficou amplamente conhecida depois que, em 22 de novembro, quatro policiais da Core apareceram na porta do apartamento, e a servidora fez uma transmissão ao vivo relatando a situação. No vídeo, Monah afirmou que vinha sofrendo episódios de assédio moral no trabalho e que, logo após o fim das suas férias, os “atos humilhantes, assediadores, bizarros, adoecedores” voltaram a acontecer. Aos mais de 700 espectadores, a delegada disse que apresentou denúncias sobre o que estava passando aos órgãos competentes, mas que nenhuma delas foi investigada.


Na época, em coletiva de imprensa, o porta-voz da corporação, delegado Saulo Castro, explicou que os agentes foram até o endereço depois que a mulher enviou mensagens em um grupo de trabalho, o que gerou preocupação nos colegas. “A delegada de polícia retornava das férias e enviou em um grupo mensagens que sugeria algo que pudesse levar a uma situação contra sua própria saúde. Colegas de trabalho vieram aqui para acolher a colega. A conversa não se desdobrou, ela estava mais exaltada, e julgamos necessário chamar a Core”, disse. 


 

Apesar das afirmações de Castro, a delegada afirmou que “em nenhum momento” deu a entender que tiraria a própria vida. “Dei a entender que não voltaria para aquele purgatório. Eu apresentei denúncias na ouvidoria do Estado, na ouvidoria da Polícia, na corregedoria, no fiscal do MPMG”, afirmou.


'Dolo homicida'


Na denúncia, oferecida pelo Ministério Público de Minas Gerais, o promotor de Justiça Gustavo Augusto Pereira de Carvalho Rolla afirmou que, desde o início da abordagem, a servidora insistiu que não precisava de ajuda. Apesar disso, ela “demonstrava grande excitação e agressividade em seu comportamento, o que revelava, para as equipes atuantes, a necessidade de continuidade da ação”.


 

“Diante do estado de animosidade da denunciada, associado ao fato de a denunciada estar em posse de arma de fogo, a equipe da Core compareceu e assumiu os trabalhos [...] A denunciada, agindo com dolo homicida, tentou matar os policiais civis no exercício da função e em decorrência dela, somente não consumando o crime por circunstâncias alheias a sua vontade”, consta no documento.


Além da denúncia por tentativa de homicídio contra os colegas, o órgão se manifestou favorável à representação de medidas cautelares de suspensão do exercício da função pública de delegada de polícia. O promotor ainda pede que Monah seja proibida de entrar em contato e fazer postagens em redes sociais sobre as vítimas e testemunhas. 


Assédio moral


A ocorrência envolvendo a delegada e policiais da Polícia Civil ainda possui lacunas em aberto. A principal delas é o motivo da mobilização, que durou 32 horas e teve semelhanças a um cerco policial. As denúncias de assédio, segundo aponta uma fonte ouvida pelo Estado de Minas, culminaram em uma sindicância da corregedoria da corporação contra a delegada. A investigação gerou um pedido de remoção da servidora da delegacia de Conceição do Mato Dentro, que estava lotada, para a regional de Pirapora. Para a delegada, a operação na porta de sua casa foi uma represália da corporação, uma vez que, na segunda-feira (24/6), a Justiça de Minas Gerais acatou seu pedido de suspensão da transferência.  


 

Na decisão, consta que a sindicância partiu de uma suposta ausência da delegada durante um plantão. Na ocasião, os denunciantes afirmam que Monah teria ficado quatro horas fora da delegacia, e que por isso um auto de prisão em flagrante teria se atrasado. No entanto, conforme consta na decisão do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG), sua saída teria sido de pouco mais de uma hora, período equivalente ao seu horário de almoço. 


“Tem dois anos que eu não consigo trabalhar. Tem dois anos que só vivo para pagar advogado, psiquiatra, tentar me defender. E eles não param, não acabam, não aceitam você falar: 'Beleza, acabou'. E não, eu não tenho plano B, não tenho família, não tenho dinheiro. Só que também não tenho vida”, disse a delegada na época.