Prédio 22 do Residencial Bem Viver, onde mãe do menino Jose Guilherme morava com os filhos -  (crédito: Jair Amaral/EM/D. A. Press)

Prédio 22 do Residencial Bem Viver, onde mãe do menino Jose Guilherme morava com os filhos

crédito: Jair Amaral/EM/D. A. Press

A mãe do menino de 7 anos que morreu por desnutrição no início deste mês está grávida. Crislaine Contreira, de 27 anos, saiu da prisão na última sexta-feira (21/6) e recuperou o bebê de um ano que estava aos cuidados do Conselho Tutelar. O Estado de Minas procurou Crislaine em seu endereço. 

 

A informação da gravidez foi dada pelos vizinhos e pelos funcionários da Casa Lar. O apartamento onde Crislaine morava, no bairro Palmital, em Lagoa Santa, já está para alugar. Os pertences da família foram retirados. A dona do imóvel disse ao EM que "já tem pretendente" para o apartamento.

 

Crislaine morava neste apartamento com o companheiro de 19 anos e os quatro filhos de outro relacionamento. O garoto José Guilherme morreu após após passar seis dias sem se alimentar e chegou a comer ração de cachorro. O padrasto confessou que deixava o menino sem comer. Ele continua preso.

 

 

A mãe foi solta, segundo a Defensoria Pública de Minas Gerais, após a Justiça entender "que não haveria risco decorrente da soltura e ela poderia responder ao processo em liberdade". Por isso ele pode reencontrar o filho mais novo após sair da carceragem em Vespasiano.

 

O futuro dos outros dois filhos de Crislaine é incerto. A avó materna, mãe de Crislaine, pediu a guarda dos irmãos de José Guilherme, de 10, 13 e do bebê de um ano. O pedido de guarda definitiva ainda não foi apreciado pelo Ministério Público. Hoje, as crianças de 10 e 13 anos seguem na Casa Lar, em Lagoa Santa, sob a responsabilidade do Conselho Tutelar. 

 

 

Avó e mãe estão estão morando com um parente, segundo informações de ex-vizinhos. Elas permaneceram em Lagoa Santa. O local da residência é mantido em sigilo, seguindo uma determinação do Ministério Público.


 

 

Vizinhos revoltados


No residencial em que Crislaine e o companheiro moravam, os vizinhos mostram indignados com o caso. Nenhum morador quis se identificar, mas comentaram a morte do garoto.


“Deixar uma criança morrer de fome, é imperdoável”, diz o aposentado R., de 65 anos, que conta que tem três netos. “A melhor coisa do mundo são meus netos. Eles fazem o que quiserem comigo. Eles sempre pedem para eu fazer uma comida, uma pipoca pra eles. E esse menino morreu de desnutrição. Imperdoável”, relata o aposentado.

 


Uma moradora, M., de 40 anos, conta que achava estranho o casal, que nunca permitia que os filhos saíssem, nem mesmo para brincar com os outros meninos do condomínio.


O caso


O corpo do menino José Guilherme foi sepultado no último dia 11, no Cemitério Campo da Saudade, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ele morreu na sexta-feira (7/6), na Santa Casa de Lagoa Santa, onde deu entrada, com quadro de desnutrição.


Segundo os médicos que atenderam a criança, ela tinha sinais graves de desnutrição, e decidiram chamar a polícia. Um dos médicos relatou à polícia que a criança chegou no hospital muito magra. "Era pele e osso", ressaltou no momento da denúncia.


O menino chegou à Santa Casa acompanhado da mãe, Crislaine, que estava com um recém-nascido, de pouco mais de um mês e meio, no colo. O pai, Vitor, não estava com eles. Depois ele alegou, ao ser preso, que tinha medo de ir ao hospital e ser acusado e detido.

 


Num contato dos policiais com o pai, Vítor, este alegou que o enteado, no caso José Guilherme, tinha ficado doente, e que estaria vomitando, muito, um líquido na cor esverdeada. Alegou, também, que a criança não conseguia se alimentar. Disse, também, que no momento que Crislaine levou o menino ao hospital, ele estava trabalhando, como ajudante de mudança, portanto, não estava em casa.


Afirmou, também, aos policiais, que não foi ao hospital, por medo de ser preso. Confessou, então, que algumas vezes privava a criança de comer, pois a comida, para a família era pouca, e o “menino comia muito”, teria dito, segundo o Boletim de Ocorrências (BO) da PM.


Nas investigações surgiram as denúncias de que o padrasto impedia a criança de se alimentar. A mãe, ao prestar depoimento, disse que já tinha flagrado José Guilherme comendo ração de cachorro.