O corpo da artista mineira Gabriella da Silva Borges, de 50 anos, foi encontrado dentro de seu apartamento no Bairro Santo André, na Região Noroeste de Belo Horizonte, na noite desta quarta-feira (26/6). A mulher trans, que participava de desfiles e batalhas de lip sync na capital - performances de sincronia labial -, morava na Itália há mais de 20 anos e anualmente voltava ao Brasil para passar férias e rever parentes e amigos.
Gabi Campbel era uma mulher educada, gentil, trabalhadora e guerreira. Adjetivos que, segundo Walkiria La Roche, diretora Estadual de Políticas de Diversidade de Minas Gerais, são da natureza da amiga de longa data.
Ao Estado de Minas, Walkiria contou que Gabi era fascinada por laces, um tipo de peruca mais realista. Da paixão pelos adereços, a mineira se estruturou no mercado europeu e se estabeleceu na Itália. Segundo a diretora de políticas de diversidade do estado, a amiga comemorou aniversário de 50 anos na última semana.
“Conheço a Gabi há mais de duas décadas. Ela vem ao Brasil todo ano, durante o verão europeu, e fica uns três meses, normalmente até meu aniversário em setembro. Era uma mulher muito alegre, linda, divertida, bem humorada, generosa e educada. O tipo de pessoa que quase não existe mais”, lamenta a amiga.
Pelas redes sociais, o Centro de Luta Pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais lamentou a morte de Gabi Campbel. A entidade cobrou que o caso seja explicado e os culpados responsabilizados. “Nossos corações entristecem junto aos familiares e amigos”.
A boate inclusiva Athenas Dancing Club também lamentou a perda “prematura e trágica” da artista. “Sua partida deixa um vazio imensurável no mundo da arte LGBTQIAPN+, na vida de todos que tiveram o privilégio de conhecer sua obra e sua pessoa. Descanse em paz, Gabi Campbel. Sua luz continuará a brilhar por meio de sua obra, eternamente viva em nossos corações”.
O crime
O corpo de Gabi Campbel foi encontrado, em avançado estado de putrefação, dentro de seu apartamento no Bairro Santo André. A Polícia Militar (PM) foi acionada pelo subsíndico do condomínio depois que vizinhos começaram a sentir mau cheiro vindo da residência e deram falta da moradora.
Conforme consta no boletim de ocorrência, os militares usaram a força para romper a porta do imóvel e encontraram a mulher deitada na cama de um dos quartos, com um cobertor enrolado no corpo e já sem vida. Além do carro da vítima, que não estava na garagem, um amigo afirmou que seu aparelho celular também não estava no apartamento, apesar de haver alguém acessando suas redes sociais e respondendo a mensagens.
Os dados do veículo Fiat Renegade foram repassados à polícia e, no início da madrugada desta quinta-feira (27/6), localizado com duas mulheres, de 18 e 22 anos, no Bairro Aparecida, na Região Noroeste da cidade. Em depoimento, elas relataram que estavam em um bar quando um amigo pediu para que assumissem a direção e entregassem o veículo para ele em uma rua próxima. No caminho, elas foram abordadas.
As suspeitas foram detidas por receptação. O homem, de 43 anos, foi identificado, mas ainda não foi preso. A perícia da Polícia Civil e o rabecão foram acionados. A suspeita é que Gabi foi vítima de enforcamento. O caso segue em investigação.
A motivação do crime ainda não foi esclarecida. Perguntada pela reportagem se Gabi estava sendo ameaçada ou possuía alguma desavença, Walkiria La Roche, diretora Estadual de Políticas de Diversidade de Minas Gerais, disse que não.
“Ela não estava sendo ameaçada, estava feliz, só conversou de coisas boas, de shows, da Batalha Drag de Lip Sync. Ela estava tranquila, só rindo. Era uma mulher muito alegre, linda, divertida, bem humorada, generosa, educada”, afirmou a amiga.