Tatiane denunciou Secretário de Defesa Social de Vespasiano durante sessão plenária  -  (crédito: Reprodução/Arquivo pessoal)

Tatiane denunciou Secretário de Defesa Social de Vespasiano durante sessão plenária

crédito: Reprodução/Arquivo pessoal

A perita da Polícia Civil (PCMG) Tatiane Albergaria esteve na sessão plenária na Câmara Municipal de Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, nessa terça-feira (25/6), mas foi impedida de falar. Segundo ela, o objetivo era cobrar apuração de casos de abuso sexual e moral cometidos na prefeitura da cidade. 


Tatiane é líder de um movimento de mulheres chamado “Assédio Não” e compareceu na sessão acompanhada de integrantes da iniciativa. Ela afirma que oito mulheres que prestam serviços para a Prefeitura de Vespasiano já denunciaram o secretário de Defesa Social por assédio, e todas formalizaram boletins de ocorrência, porém nenhuma medida foi tomada até o momento. 


A policial relata que não teve a oportunidade de iniciar sua fala, mas começou seu pronunciamento mesmo sem microfone, e que, naquele momento, os vereadores começaram a se retirar do local. “Eles nem me deram a oportunidade, mas me levantei, sem microfone, e comecei a falar, no entanto, eles começaram a correr”, conta.


 

Segundo ela, o pedido para instaurar uma CPI precisava de pelo menos seis assinaturas, porém apenas cinco vereadores assinaram o documento.


Além disso, Tatiane conta ainda que pediu para falar na sessão plenária na semana anterior. Só que ela foi informada que não seria possível discursar, pois já havia muitas pessoas inscritas. “No dia 13, não teve ninguém lá, só que a pauta estava cheia. A sessão terminou em menos de 20 minutos”, afirma. 


 


Acusações


Segundo os relatos, as mulheres eram chamadas de “burras” e “jumentas” e que “comiam capim”, quando cometiam algum erro. Além disso, o secretário de Defesa Social teria entoado falas constrangedoras como “já transou hoje?” e “você está precisando gozar”. Uma mulher, em período de amamentação do filho, relatou que ele pediu para “mamar” e que queria “leitinho quente”; outra registrou boletim de ocorrência ressaltando uma mordida no seio.  


“Elas fizeram essas denúncias no Ministério Público, inclusive possuem testemunhas, áudios. Eu jamais iria à Câmara falar ou tentar falar alguma coisa sem ter prova”, declarou Tatiane.

 

 

Após as denúncias, as mulheres foram realocadas para outros departamentos da prefeitura. As mulheres evitavam se expor publicamente, mas, ao saber das queixas, o secretário expôs as denunciantes em sua rede social, mostrando seus rostos e dizendo que tudo se tratava de uma perseguição política.  


Tatiane reforça a importância de denunciar os casos de assédio, para que o culpado seja punido e não tenha a oportunidade de fazer novas vítimas. 

 

Posicionamentos

 

Em nota, a Prefeitura de Vespasiano declarou que foi instaurado um procedimento administrativo, já encerrado. Foi afirmado ainda que, caso outras denúncias sejam apresentadas, novos procedimentos administrativos serão instaurados. Confira a nota na íntegra:

 

“A Prefeitura de Vespasiano, através da Procuradoria Geral do Município, informa que foi instaurado procedimento administrativo para identificação dos fatos envolvendo o Secretário Municipal de Defesa Social e uma possível denúncia de assédio. Após manifestação da vítima o procedimento foi encerrado.

 

A respeito de possíveis novas denúncias, a Procuradoria Geral comunica que não recebeu, até a presente data, nenhuma informação neste sentido.

 

Caso novas denúncias sejam apresentadas, novos procedimentos administrativos serão instaurados”.

 

A Câmara Municipal de Vespasiano informou por meio de nota que a sessão foi interrompida devido à desordem no plenário: “Durante a sessão, diversas manifestações comprometeram o andamento das atividades legislativas, faltando ordem e respeito necessários para a condução dos trabalhos. Apesar dos esforços da presidência, não foi possível prosseguir com a pauta”.

 

O documento ainda afirma que, diante das manifestações sobre supostos assédios cometidos pelo atual Secretário de Defesa Social, a Mesa Diretora imediatamente “protocolou ofício, pedindo providências à prefeita sobre as possíveis acusações”.

 

Assédio na Polícia Civil


A perita criminal Tatiane Albergaria foi afastada do seu cargo em julho de 2023 após denunciar ter sido assediada por uma chefe da delegacia de Vespasiano e um superintendente da Polícia Civil. Ela estava lotada na Unidade Pericial da corporação, onde trabalhou por dois anos, quando os primeiros problemas começaram a acontecer. 


"A chefe da delegacia entrou de licença e me pediu para substituir. Durante o período da licença dela, tive contato com chefes de departamento, acabei conseguindo várias melhorias para a perícia. Acabou ficando um clima mais agradável na delegacia", conta à reportagem.


 

Quando a chefe voltou na delegacia, as novas conquistas não foram bem-vistas por um superintendente da região. A partir daí, a perita passou a ser prejudicada dentro da unidade. O homem foi o responsável pelos assédios e perseguição cometidos contra ela dentro da unidade. A perita foi até a ouvidoria do estado para reclamar dos incidentes, mas, mesmo assim, não conseguiu suporte. 


Semanas depois, foi publicada a transferência para uma unidade de Betim, na Grande BH, a pedido do superintendente que começou a assediá-la. Meses depois, a perita tentou uma nova transferência para Vespasiano que foi negado. Segundo ela, a decisão foi assinada pelo próprio assediador. Ela foi então realizada no Instituto de Criminalística em Belo Horizonte. 


Lá, os problemas voltaram a acontecer, já que um dos médicos legistas, conforme seu relato, era próximo da sua ex-chefe e, posteriormente, acabou assinando o laudo supostamente falso que recomendava a aposentadoria. No laudo emitido e assinado por quatro médicos legistas da Polícia Civil, foi declarado que Tatiane tinha "incapacidade permanente para o exercício do cargo".