O Parque Municipal Américo Renné Giannetti, no Centro de Belo Horizonte, ganha novas atrações neste fim de semana. “O anel”, do arquiteto Antônio Grillo, é uma estrutura construída em formato circular, com vergalhões de aço e tela de nylon, iluminada à noite, e pode receber projeções em 360 graus. Além disso, a obra possui bancos de madeira em seu interior, funcionando como um pequeno auditório. A instalação foi finalizada nesta sexta-feira (28/6), próxima à Alameda Ezequiel Dias e à Avenida Carandaí. As estátuas que vão homenagear a antropóloga belo-horizontina Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus também farão parte da paisagem do parque a partir de domingo (30/6).
“O anel” era inicialmente o “Ninho de Guacho II”, uma reconstrução da obra que estreou no evento CasaCor 2022, no Palácio das Mangabeiras. No entanto, a instalação precisou ser replanejada para a estrutura do parque, levando em consideração as folhas que caíram sobre a cúpula e a presença dos gatinhos que vivem no parque. “A gente pensou em uma tela que ficasse em um plano vertical para não ter problema de folha acumulando no alto da cúpula e solta do chão por causa dos gatos, senão iria ser uma ‘farra’ para eles. Daí a forma surgiu um pouco em função disso”, explica o arquiteto.
Em 2022, o projeto original foi concebido para funcionar como um pequeno pavilhão-auditório para eventos durante a Casacor. Ele foi projetado e construído com dois materiais: vergalhões de aço de construção e uma tela como pele, em formato de cúpula, fazendo alusão ao ninho da ave Guaxe. A iluminação de piso, refletida na tela e na estrutura, fez com que o pavilhão se apresentasse, à noite, como uma grande luminária nos jardins do Palácio. Na obra “O anel”, a estrutura começa a ser iluminada a partir das 16h30.
“A ideia era pegar os vergalhões de aço e fazer uma releitura do 'Ninho de Guacho', mas fora de um contexto tradicional. O formato foi surgindo à medida que fomos montando a estrutura. Havia um interesse em que essa obra pudesse funcionar como um um lugar de receber projeção, e a gente trabalhou com a tela mais regular para poder funcionar uma projeção 360 graus”, detalha Grillo.
O arquiteto ainda destaca as disparidades entre os públicos do Palácio das Mangabeiras, sendo “mais elitizado”, e do "Parque Municipal”. “É muito bacana trazer várias possibilidades para esse lugar. Já vieram pessoas para ensaiar uma dança, podem ser feitas apresentações e até um espetáculo. Eu estava falando com alguns amigos como seria se tivesse um casamento aqui; muitas pessoas se casam no parque. Acho que a tendência é que o monumento seja mais frequentado por pessoas que passam pelo centro da cidade diariamente”, pontua.
A ação é fruto de um termo de cooperação firmado entre a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e a ArcelorMittal Brasil. Para a Secretária de Cultura de BH, Eliane Parreiras, “essa é uma obra criada especificamente para aquele espaço, que dialoga profundamente com o urbano e com a própria natureza do parque”.
Segundo a chefe da pasta, o horário de funcionamento do parque foi expandido e funcionará às sextas-feiras das 7h às 21h; aos sábados das 7h às 21h; e aos domingos das 7h às 17h. Essa medida favorece a utilização do centro da cidade, e àqueles que forem visitar “O anel” poderão aproveitar a obra iluminada por mais tempo. Ela ainda afirma que não houve desprendimento de verbas do executivo municipal.
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Parreiras afirma que essa é mais uma oportunidade para as pessoas usufruírem desse espaço. “É um parque muito vivo no coração da cidade e com uma atividade muito dinâmica. O público é variado, tem famílias, gente que vai lá para almoçar e descansar um pouco, que vai fazer exercício, vai ao teatro ou só se conectar com a natureza, ler um livro. O parque oferece lazer de contemplação e descanso muito qualificado”, pontua a secretária de cultura.
“Este é um presente da ArcelorMittal para a cidade de Belo Horizonte, pelos 80 anos de presença da sede administrativa na capital mineira e 103 anos de trajetória em Minas Gerais. Somos vizinhos do parque, um dos principais símbolos da capital mineira. Essa obra de arte reforça nosso compromisso com a arte, a cultura e Belo Horizonte”, afirma Marina Soares, diretora jurídica, de relações institucionais e sustentabilidade da ArcelorMittal Brasil.
Circuito Literário
Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus são as primeiras mulheres negras a serem homenageadas no Circuito Literário de Belo Horizonte. Segundo o artista Léo Santana, as duas estátuas estarão com livros nas mãos. Ele também conta que criou um cenário e uma narrativa para a posição das obras, pensando também em como as pessoas as perceberão no Parque Municipal.
“Minha preocupação era fazer uma interligação entre as duas, não deixar uma coisa isolada. Então, planejei as duas juntinhas. Imagine a cena: as duas estão olhando para o livro na mão da Carolina, então chega alguém em frente a elas e as chama. É esse momento que capturei, então também é bom até para que as pessoas tirem fotos com elas”, contou ele à reportagem.
Para Eliane Parreiras, a inauguração das obras é um sonho coletivo. “O lugar é maravilhoso escolhido pelos próprios representantes dos movimentos negros de Belo Horizonte, é próximo do Teatro Francisco Nunes. Agora a gente passa por um processo de ação educativa relacionada às obras e aos conteúdos que elas representam. Do ponto de vista da literatura brasileira e do pensamento, é sobre a cultura brasileira e afro-brasileira”, pontua.
Estátuas dos escritores Carlos Drummond de Andrade, Henriqueta Lisboa, Pedro Nava, Roberto Drummond e Murilo Rubião já integram o circuito. As famílias das homenageadas estarão presentes na inauguração dos monumentos.
* Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata