Ciclistas chegam ao Parque Municipal, onde outras atividades aconteciam. Entre elas, uma exposiÃ?§Ã?£o sobre a bacia do Rio das Velhas  -  (crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Ciclistas chegam ao Parque Municipal, onde outras atividades aconteciam. Entre elas, uma exposi�§�£o sobre a bacia do Rio das Velhas

crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

O Parque Municipal, no Centro de BH, recebeu um evento em comemoração ao Dia do Rio das Velhas, neste sábado (29/6). Promovido pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), o objetivo do encontro é destacar os principais impactos sofridos pelo manancial, responsável pelo abastecimento de cerca de metade da Grande BH e 70% da capital. O parque também foi o ponto de chegada de uma ciclo expedição pelo Ribeirão Arrudas, um dos afluentes da bacia e que corta a capital. 


A presidente do CBH Rio das Velhas, Poliana Valgas, destacou que a data deve ser celebrada pela importância da bacia para Minas Gerais e Grande BH. “Mas também é data de reflexão, de discutir os problemas locais e as pressões que esse rio tem enfrentado.”

 

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Poliana conta que a ideia foi trazer o evento para o Centro de BH e da Região Metropolitana, com o objetivo de chamar a atenção da comunidade e da sociedade sobre os problemas locais, além de apresentar, para quem participa da ciclo expedição, a bacia do Ribeirão Arrudas. “Que, infelizmente, contribui de forma negativa para a qualidade de água do Velhas. O objetivo é discutir com a comunidade do Parque Municipal sobre como a sociedade, de forma integrada com os outros setores, pode contribuir para que tenhamos água de maior qualidade na bacia”, afirma. 


Esgoto e segurança hídrica


A presidente do CBH Rio das Velhas ressalta que existem várias pressões sobre a bacia, mas destaca as duas maiores: esgotamento sanitário e segurança hídrica. “Temos um rio ainda muito degradado. A maior pressão ainda é o esgoto, só vamos avançar com a retirada desse esgoto pelos municípios.” Segundo ela, muitos municípios da Grande BH não tratam ou têm deficiência no tratamento do esgoto. “A qualidade da água do Arrudas e do Onça ainda estão muito longe do que esperamos.”


Em relação à segurança hídrica, Poliana lembra que a Grande BH é uma região com diversas barragens. “Se uma dessas estruturas se romper, compromete a bacia. Nosso sistema é todo a fio d'água e a segurança hídrica de mais de 40% da RMBH estaria comprometida. Essa é nossa preocupação porque não dá para beber minério. A gente torce para que os empreendimentos minerários caminhem para a descaracterização (das barragens). Precisamos que ela seja acelerada nas barragens do Alto Velhas.”

 


Para ela, a solução seria uma aliança do governo estadual, com uma política pública de revitalização do rio, junto com os municípios. “Porque se a raiz do problema ainda é o esgotamento sanitário, precisamos avançar. E o estado tem um papel preponderante, de ser esse grande articulador, junto com os comitês e as prefeituras, que são os titulares do saneamento. A Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente) precisa avançar mais com o diálogo e acelerar esse processo da descaracterização nesses empreendimentos que oferecem tanto risco para a bacia.”

 

A população também tem um papel importante nesse processo, segundo Poliana. “Quando falamos em esgotamento sanitário, não adianta só ter Estação de Tratamento. Precisamos que a população conecte seus sistemas à rede coletora. A população precisa se conscientizar, entender sua responsabilidade dentro do processo para que possamos de fato avançar.”


Ciclo Expedição


Uma das atividades promovidas pelo CBH Rio das Velhas para a comemoração foi uma ciclo expedição pelo Ribeirão Arrudas. O percurso teve início no Parque Ecológico Roberto Burle Marx, aos pés da Serra do Curral e terminou, cerca de duas horas depois, no Parque Municipal. 


O vice-presidente da entidade e membro do Projeto Manuelzão, Ronald Guerra, conhecido como Roninho, disse que a iniciativa acontece também para comemorar os 26 anos do CBH Rio das Velhas. “Aproveitamos para valorizar a Região Metropolitana e expor todos os impactos que ela causa tanto na calha do Velhas mas, principalmente, no Arrudas, que continua ainda muito poluído.”

 

A Ciclo Expedição percorreu vias ao longo do Ribeirão Arrudas, um dos afluentes da bacia

A Ciclo Expedição percorreu vias ao longo do Ribeirão Arrudas, um dos afluentes da bacia

João Alves/ TantoExpresso/ CBH Rio das Velhas


Ele destaca que as políticas públicas que dependem muito do governo, andam a passos lentos. “Precisamos ampliá-las. Fiz a expedição do Rio das Velhas em 2003, o rio era muito poluído. Em 2009, repeti. Houve um avanço. Existiu um esforço político para isso. Em 2017, voltei e percebi que estamos perdendo esse rigor nos programas de despoluição do Rio das Velhas, principalmente, porque as estações de tratamento do Arrudas e do Onça estão prontas, podem receber todo o esgoto, mas os programas voltados para interceptar esse esgoto não estão tendo a velocidade e os investimentos necessários.”


Para Guerra, com vontade política, é possível ter rios sem poluição nas cidades. “Queremos cidades com mais qualidade de vida.”


Com as mudanças climáticas, surgiu a ideia de fazer de bicicleta a expedição deste ano. “Diminui a poluição e é uma forma de contemplar melhor a paisagem, além de cuidar da saúde. Fizemos um olhar diferenciado pela margem do rio e pela cidade que caminha junto com esse rio, para mostrar o tanto que ele está poluído.”


Na expedição deste ano, Guerra diz que percebeu menos avanços. “A cidade está crescendo, com mais impactos, e os investimentos do governo estão menores. Preocupante, já que deveria ser o contrário. Isso sem contar o problema com as enchentes. Teremos chuvas cada vez mais intensas em um rio que não está preparado para isso.”


A bióloga Janaína Mendonça, de 42 anos, participou da expedição e avalia como uma experiência incrível e triste ao mesmo tempo. “Podemos percorrer o Rio Arrudas, ver diferentes pontos e realidades: onde ele está mais poluído, onde notamos uma presença de mata ciliar. Há lugares em que ele corre livre, outros de forma subterrânea. Deu para ver diferentes realidades.”


Moradora de Contagem, a bióloga diz que precisamos lutar pela revitalização dos rios. “Somos mais água do que qualquer outra coisa e ver nossas águas contaminadas é uma tristeza, porque isso impacta diretamente na saúde pública.”


O Estado de Minas pediu um posicionamento para a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) a respeito das reclamações feitas pelos representantes do CBH Rio das Velhas, mas até o momento não obteve retorno.