Historicamente castigada pelas secas, em um paradoxo, a Região do Norte de Minas Gerais também conta com municípios em risco crítico para ocorrência de desastres naturais, listados pela Secretaria Especial de Articulação e Monitoramento da Casa Civil da Presidência da República. São Francisco e Itacarambi, banhadas pelo Rio São Francisco; Jaíba, cortada pelo Rio Verde Grande; e Salinas são as cidades ameaçadas, conforme o levantamento revisado neste ano.
Salinas, conhecida como a Capital da Cachaça, enfrentou sérios problemas com inundação no final de 2021, quando mais de 1 mil ficaram desalojadas. Em 15 de novembro do ano passado, voltou a sofrer danos com uma forte chuva. De acordo com os números segmentados pelo Núcleo de Dados do EM, o município tem 500 pessoas em risco de enxurradas e inundações.
O desastre de 2021 arrancou o asfalto de ruas, derrubou pontes e causou perdas no comércio de Salinas, além de outros danos. Já em 15 de novembro do ano passado, em uma hora, foram registrados 137 milímetros de precipitação na cidade. O dilúvio deixou outro rastro de prejuízos.
Hoje, além de dar prosseguimento às obras para tentar recuperar os estragos provocados pelas chuvas do passado, a prefeitura do Norte de Minas adota providências para prevenir outros desastres naturais. O coordenador da Defesa Civil de Salinas, Richarley Viana Dias, informa que o município possui um plano de contingência para conter danos das inundações. “A Defesa Civil realiza constantemente atualizações do mapeamento das áreas de risco, além de efetuar vistorias em inúmeros pontos críticos”, diz.
Richarley afirma que o órgão municipal também realiza o acompanhamento constante do nível da barragem do Rio Salinas e “acompanha os índices pluviométricos, gráficos, dados e demais informações para evitar desastres”. Ele salienta ainda que a área da cidade mais vulnerável às inundações é o Alto São João, onde é feito o monitoramento com “ações mitigadoras” para impedir os prejuízos durante os períodos de chuvas intensas.
Passado acende o alerta
Já em São Francisco, onde 721 cidadãos estão em risco de enxurradas e inundações a cada período chuvoso, sofreu com cheias do Velho Chico recentes e no passado. A maior delas aconteceu em 1979, quando uma enchente histórica atingiu o Norte de Minas e o Sul da Bahia. Logo depois daquele ano, em um projeto capitaneado pelo governo federal, o poder público construiu um sistema de proteção em diques na cidade, mesma medida adotada em outros municípios ribeirinhos – como Januária, Itacarambi e Pirapora.
O superintendente municipal da Defesa Civil de São Francisco, Rumenig Barbosa Martins, lembra que, além de estar sujeita às inundações provocadas pelo Velho Chico, o município conta com áreas baixas, onde ocorrem alagamentos por fortes chuvas, como os bairros Luzia, Sagrada Família, São José e Centro. Porém, ele assegura que a cidade está atenta às medidas preventivas contra os desastres naturais. “A Defesa Civil municipal conhece (a situação), tem o mapeamento das áreas de risco e monitora constantemente o nível do Rio São Francisco por meio de uma régua instalada na orla”, afirma Rumenig. A prefeitura local também monitora os riscos ambientais a partir do Sistema Hidro-Telemetria, administrado pela Rede Hidrometeorológica Nacional (RHN), que monitora o São Francisco em todas as cidades cortadas pelo curso d’água.
“Monitoramos também a usina hidrelétrica de Três Marias, que tem importante influência nas águas do Velho Chico, bem como os rios afluentes, que quando estão cheios provocam uma elevação do seu nível, principalmente nos períodos chuvosos. Além disso, mantemos atenção ao tempo por meio do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e dos demais órgãos do governo”, afirma Rumenig, superintendente da Defesa Civil de São Francisco.
O gestor ainda sustenta que a prefeitura adotou providências para impedir os prejuízos com as frequentes inundações. “Nosso município tem sistemas de drenagem que estão sendo aprimorados. Temos sistemas preventivos, como casas de bombas que evitam o transbordamento de bacias de contenção, principalmente nos bairros Luzia e Quebra, os mais vulneráveis a esse tipo de desastre”, diz. Ele acrescenta que a cidade já tem duas casas de bombas e está sendo construída uma terceira para mitigar os efeitos da combinação entre chuva e falta de infraestrutura.
Outras cidades
A Prefeitura de Itacarambi, onde 790 pessoas correm risco de enxurradas e inundações, segundo a Casa Civil, também garante que tomou as medidas preventivas para evitar os desastres naturais. A cidade também é banhada pelo Rio São Francisco. “Fazemos e sempre atualizamos nosso plano de contingência, a partir do mapeamento das áreas de riscos na zona rural e no perímetro urbano”, afirma a Defesa Civil de Itacarambi em nota. “Acompanhamos os alertas emitidos pelos órgãos ambientais e por sites confiáveis. Depois, emitimos informações de alerta constantes aos moradores das áreas de risco”, completa o órgão municipal. A Prefeitura de Itacarambi informa, ainda, que recentemente fez obras de drenagem pluvial nos bairros Nossa Senhora de Fátima e São José, a fim de amenizar os problemas de alagamento.
O coordenador da Defesa Civil de Jaíba, Jalisson Costa Oliveira, garante que a prefeitura está sempre atenta para os riscos de inundações de terrenos mais baixos na área urbana, situadas nas margens do Rio Verde Grande e no Bairro Jardins, localizado junto a duas lagoas. São locais onde os moradores sofreram com alagamentos no passado. “A prefeitura adota medidas preventivas e sempre está atualizando o plano de contingência e mantendo a população sempre alerta. O município sempre executa obras estruturais de drenagem para reduzir os impactos dos alagamentos. Em algumas situações, até fazemos instalações de bombas em algumas lagoas para evitar inundações”, afirma Jalisson.