A disparada de casos de chikungunya no ano passado em Minas Gerais, estado que responde por mais de 60% dos casos prováveis da doença no país, pode estar ligada a outro vírus: o oropouche, causador da febre de nome homônimo, doença até então não identificada no estado e que em menos de uma semana teve confirmação de 68 novos casos. A declaração foi feita pelo secretário estadual de Saúde, Fábio Baccheretti, em coletiva de imprensa realizada na manhã desta terça-feira (4/6).


“Obviamente, a gente começa a olhar para trás diante desse novo cenário. Especialmente no Vale do Aço, onde a gente achava que a chikungunya estava vindo muito forte, percebemos que boa parte disso é febre oropouche”, aponta o secretário de Saúde. Isso indica que o vírus já estava em circulação em Minas Gerais desde o ano passado, quando o estado tinha 102.338 casos prováveis de chikungunya –ou seja, os notificados, exceto os descartados. Neste ano, Vale do Aço e Norte de Minas, somados, respondem por quase 40% dos registros de chikungunya no estado.

 



 

Agora, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG) irá reanalisar as amostras já fechadas por notificação, o que pode resultar em uma disparada de casos de febre oropouche nas próximas semanas. “A notificação nem sempre é por teste, ela é por sintomas. Então, se dentro da análise epidemiológica, demonstrar que o paciente provavelmente teve chikungunya, nosso boletim aparece como chikungunya. A gente normalmente não testa tantas amostras, especialmente em ano epidêmico como é o caso de agora e foi em 2023”, explica Baccheretti. Até o momento, o estado teve 72 contaminações de oropouche, a partir de 427 exames suspeitos de arboviroses –doenças febris transmitidas por mosquitos–, mas que não apresentaram resultados positivos para dengue, zika e chikungunya.


A febre oropouche só foi incluída no radar de Minas Gerais depois da explosão de registros em estados vizinhos, como Espírito Santo e Bahia, o que ligou o alerta das autoridades de saúde para a inclusão da doença na lista de exames de arboviroses da Fundação Ezequiel Dias (Funed). Até então, Minas não tinha nenhum registro da doença, identificada no Brasil em 1960 e mais comum na região Norte do país. Em dez dias, os casos no Vale do Aço saltaram 1650%, saindo de quatro confirmações em 24 de maio para 70 no último boletim divulgado nessa segunda-feira (3/6) pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG). Coronel Fabriciano, Joanésia e Timóteo são as cidades com maior número de infectados. Além do Vale do Aço, os registros se concentram no Rio Doce e na Região Central de Minas. Nos próximos dias, os registros devem disparar ainda mais. 


Outros três casos foram identificados em Belo Horizonte, mas, segundo a SES-MG, são importados de Santa Catarina, e já notificados ao estado. Desde então, o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Estado (Cievs-Minas) “está acompanhando a evolução do cenário e conduz a devida investigação epidemiológica no estado” para entender o comportamento da doença. Nos próximos dias, o número de casos deve disparar, adianta o secretário de saúde. 


Transmitida principalmente pelo mosquito Culicoides, também conhecido como borrachudo, a doença é mais comum em áreas rurais. A maior preocupação é que ela possa ser transmitida pelo Aedes aegypti, vetor da dengue, zika e chikungunya, cujo controle de proliferação já é um desafio para as autoridades de saúde. Hipótese que já está sendo estudada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Acre. “Provavelmente não teremos uma grande expansão da doença, porque ela não é transmitida pelo Aedes aegypti. Até o momento não há nenhum registro disso, porque ele, sim, se prolifera em copos de água, em calhas, diferente do mosquito da febre de oropouche”, aponta o secretário de Saúde. Está sendo feita a investigação pela Fiocruz no Acre, neste momento.


Com sintomas semelhantes à dengue, a chegada da doença no estado não muda a rotina nos postos de saúde, já que a febre gera quadros mais brandos, costuma ser autolimitada e pode ser controlada com tratamento para aliviar os sintomas. “Não vai mudar a rotina do profissional de saúde nem do paciente. O que vale, especialmente nas regiões onde tem o mosquito circulando, é reforçar os cuidados para não ser picado e, claro, a hidratação”, alerta Baccheretti. 

 

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