Projetos com ares de modernidade compõem as páginas presentes no objeto considerado um patrimônio

FOTOS: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

 

Melissa Souza*

 

Inaugurada em 12 de dezembro de 1897, Belo Horizonte passou por transformações até ser o que conhecemos hoje. BH se tornou a capital de Minas Gerais, que, antes, tinha como sede Ouro Preto, em meio a ideias positivistas e o progresso propagado foi alicerçado nos projetos arquitetônicos elaborados para a cidade. O Álbum de Vistas Locais, primeiro a reunir fotografias institucionais do município, registrou a transição e os acontecimentos daquela época.

 

O artefato foi criado em 1895, dois anos antes da inauguração de BH. No século 19, a produção de álbuns de fotografias era considerada quase um artigo de luxo por causa do alto custo. O intuito era registrar as transformações que a capital já passava e acabou virando uma espécie de propaganda para os trabalhos que estavam sendo realizados. Por meio de várias cópias, os álbuns eram distribuídos às autoridades como uma referência do período de modernidade.

 

Segundo o professor de história Guilherme Guglielmelli Silveira, que defendeu a dissertação “Álbum de Vistas Locaes: entre a memória e a representação da cidade”, o objeto histórico tem uma narrativa imagética e fotográfica. De acordo com Silveira, o álbum traça o desenvolvimento da cidade da época do Curral del-Rei até o projeto da criação da nova capital. Os registros iniciais mostram um espaço rural, que era visto como atrasado, até a construção da metrópole idealizada.



O historiador, que estuda a trajetória da capital mineira, já trabalhou no Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH) e no Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). Ao tomar conhecimento sobre a existência do álbum, decidiu examinar minuciosamente suas páginas.

 

“Começo mostrando que foi uma tentativa de criar uma memória elogiosa sobre a construção de Belo Horizonte. Quando eles pensaram em lançar o álbum, a ideia era que fosse utilizado para contar a história de uma cidade que estava sendo erguida para ser uma capital do futuro, para representar essa modernização no Brasil”, conta Silveira.

 

Para ele, além do interesse próprio em analisar o álbum, é importante que a população também conheça a relíquia. Isso porque, segundo o professor, preservar esse registro é importante para a memória da cidade. “É a história de Belo Horizonte, mas a nossa história também. Todo mundo que vive Belo Horizonte e é apaixonado pela cidade deve reconhecer a importância não só do álbum, mas de qualquer documento que conte a história da cidade”, defende.

 

 

Técnico de patrimônio cultural da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Álvaro Sales defende a importância desse tipo de registro para a memória da história de BH

FOTOS: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press


Representação documental

Atualmente, uma das mais de 5 mil cópias que foram impressas e distribuídas para diversas localidades do Brasil e de outros países, ainda no século 19, está no Museu Histórico Abílio Barreto, localizado no Bairro Cidade Jardim, na Região Centro-Sul da capital. O álbum é considerado uma representação histórica fotográfica documental do fim do Curral del Rey e o início do projeto de BH. Segundo o técnico de patrimônio cultural da Fundação Municipal de Cultura (FMC) Álvaro Sales, é importante ter esse tipo de registro do ponto de vista histórico e da memória.

 

“O álbum é uma fonte primária de pesquisa. Ao olhar uma fotografia histórica, podemos analisar várias camadas, como a transformação da paisagem, do urbanístico, as figuras representadas, como era a composição da sociedade, entre outras coisas”, relata Sales, que também é responsável pela gestão do acervo fotográfico do Abílio Barreto.

 

De acordo com o técnico, o local desempenha papel fundamental na preservação da história de Belo Horizonte, já que coleta itens para o acervo desde muito antes da idealização da cidade. O Álbum de Vistas Locais, por exemplo, chegou à organização através de uma doação do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH), que garante a preservação e a acessibilidade ao patrimônio documental da cidade desde 1991.

 

* Estagiárias sob supervisão do subeditor Rafael Rocha

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