Em 1º de novembro de 1933, as páginas do Estado de Minas trouxeram a intrigante e triste história de Eugenia Sant’Anna. Mais conhecida como Goiana, a jovem, de 22 anos, havia morrido em decorrência da queda da escada da casa onde vivia. O caso, diga-se de passagem muito mal contado pelos envolvidos, instigou a reportagem do EM, que saiu pelas ruas à procura do viúvo de Goiana, um homem chamado José de Abramo e conhecido como “Lulu”.


O Arquivo EM desta semana traz um pedaço dessa história, que decorreu em uma época em que a capital mineira não tinha completado ainda 40 anos de existência. As pesquisas têm como base o acervo de 96 anos de páginas impressas da Gerência de Documentação (Gedoc), em Belo Horizonte.




 

“Caiu de uma escada – esclarecendo a morte de Goiana”, dizia a manchete daquele dia, sobre o fim da pobre mulher, que havia sucumbido dois dias antes. A história era que, após sofrer uma “síncope” ao ver o companheiro chegar de viagem, Eugenia caiu rolando pelas escadas da residência da Rua Diamantina, 401, no Bairro da Lagoinha, no sábado anterior. 


Foi levada pelo companheiro ao médico, o doutor Mello Alvarenga – mais tarde, um dos fundadores da Escola de Enfermagem da UFMG. Mas o médico não detectou nada diferente e mandou Goiana para casa. Ainda suspeitando de que podiam haver lesões internas, Lulu mandou chamar o doutor Alfredo Balena – que hoje dá nome a uma das principais avenidas da Região dos Hospitais, em BH –, que confirmou o diagnóstico do colega: estava tudo bem. Mas não estava, e Goiana morreu três dias depois.


No rastro de Lulu

 

É aí que começa a busca pelo viúvo. A fim de esclarecer a misteriosa morte, a reportagem do Estado de Minas foi ao Lagoinha tentar descobrir a residência do casal. Com uma indicação de que o endereço seria na rua Diamantina, os jornalistas se depararam com duas garotas. "Perguntamos-lhes: Vocês sabem onde mora uma senhora que caiu da escada e morreu? – Sabemos, sim. É à esquerda de quem sobe, no porão da casa de um médico. O senhor verá na placa”, dizia o jornal.


Pois Goiana morava na casa de outro médico, dr. Sady Valle. Foi a irmã deste que atendeu a reportagem e informou que Abramo havia ido à casa do pai depois do enterro de Eugenia. O repórter se dirigiu para a Rua Itapecerica e, depois de assuntar com os pedestres, descobriu o paradeiro de Lulu.


 

O viúvo já sabia o motivo da visita. Contou que Eugenia havia nascido no município de Posse, em Goiás – daí o apelido. Quando haviam se conhecido, quatro anos antes, a mulher já era viúva e tinha uma filha do casamento anterior. Os pais dela também eram falecidos. “Morávamos na Rua Diamantina faz dois meses mais ou menos. Geralmente sadia, no entanto, Eugenia, de quatro dias para cá, não se alimentava direito. Sábado, às 6h45, mais ou menos, para nossa moradia me dirigi e, como notasse sua ausência, comecei a acender as luzes”, descreveu José de Abramo.


"Como Eugenia estava em cima e notasse a minha chegada, resolveu descer, para comigo encontrar. Ao começar a descer a escada, sofreu uma síncope, rolando pelos degraus até embaixo. Conduzi-a imediatamente ao Pronto Socorro", prosseguiu Lulu, que citou os médicos que a examinaram. Depois de medicada, ela sofreria na terça-feira outra síncope, que seria a derradeira.


 

A matéria do EM daquele 1º de novembro de 1933 encerrava contando que a Goiana deixava uma filha, Maria Sant'Anna, então com seis anos, fruto do primeiro casamento, com Joaquim de Faria. Segundo José de Abramo, a menina ficaria sob a proteção dele, "até que os parentes da mesma por ela se interessem". 


 

E a história, tão cheia de interrogações, terminou por ali. Nos dias e semanas seguintes, nenhuma linha a mais foi assunto nas páginas do Estado de Minas. Se envolvida, a polícia não fez saber de investigações. Quase um século depois, ainda fica a pergunta: Goiana caiu mesmo da escada?

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