O ritmo frenético do Centrão de Belo Horizonte pode dificultar a busca por lanchonetes com bom custo-benefício. Diante da rotina corrida, o influenciador Jorge Valença precisou se adaptar para consumir bons salgados no Centro da capital. Atualmente, ele conta o que acha dos mais variados quitutes que come nos estabelecimentos da região aos seus quase 40 mil seguidores e faz disso seu emprego.
Tudo começou em 2022, quando trabalhava no Centrão e tinha pouco tempo para escolher boas opções de lanche, considerando a variedade de estabelecimentos disponíveis. Jorge escolhia a dedo sua alimentação e, em determinado momento, decidiu fazer um vídeo compartilhando suas impressões sobre uma lanchonete. O vídeo viralizou e, pouco tempo depois, ele passou a trabalhar com isso.
“Eu gravei brincando e a minha esposa falou ‘Ah, posta’. Então eu postei só de brincadeira no Instagram, sem pretensão nenhuma. Quando eu fui ver tinha 35 mil visualizações e a galera começou a gostar. O pessoal começou a assistir muito”, conta o influencer, que grava vídeos comentando os pontos positivos e negativos de diferentes estabelecimentos de BH.
Através de vídeos divertidos e “sincerões”, Jorge cativou cerca de 37,7 mil seguidores no Instagram e compartilha suas impressões sobre diversos locais que frequenta, incentivando seu público a escolher bons lugares para comprar principalmente salgados na hora que a fome bater.
O blogueiro conta que a forma como grava seus vídeos é natural, como fala no dia a dia e como falaria com um amigo. Ele valoriza a espontaneidade no momento de fazer os vídeos e acredita que isso é o que o aproxima do público.
“Se algum restaurante entra em contato comigo querendo que eu grave lá seguindo algum tipo de roteiro, eu não consigo fazer. Eu não consigo fazer se não for totalmente espontâneo, como gravar e depois narrar. Eu tenho que fazer as piadinhas que vêm na minha cabeça”, explica.
Ameaças
Embora a jornada tenha sido divertida e o rapaz goste do trabalho, as críticas geram certa intimidação por parte dos funcionários dos restaurantes visitados que, muitas vezes, ameaçam o influenciador. Segundo ele, as ameaças ocorrem desde o início da vida na internet e ocorrem tanto no âmbito virtual quanto no presencial. No entanto, as ofensas subiram de tom recentemente e até a esposa de Jorge, Jaini Oyakawa, foi ameaçada. O último caso fez com que o blogueiro tomasse medidas jurídicas.
Depois de visitar uma padaria na Região de Venda Nova, um homem postou um vídeo criticando Jorge e a esposa, ofendendo ambos. As ofensas e ameaças tiveram teor gordofóbico e o rapaz chegou a dizer que mataria o casal, pois não admitia que falassem mal da padaria em questão. O vídeo foi repostado pelo blogueiro, que tomou medidas judiciais em seguida e entrou em acordo com o rapaz, que se retratou em outro vídeo.
“A primeira vez que aconteceu foi em uma lanchonete do Centro que eu comi a empada, achei meio ruim e tal. Eu gravei da forma que eu gravo sempre. Passou uns meses, eu passei na frente da lanchonete e o pessoal começou a me ameaçar, falaram que o pessoal ia matar e eu filmei. A mulher gritou lá de dentro, eu tirei o telefone e já gravei. Não tem como eu falar que eu sou ameaçado sem provar, né?”, relata.
O influenciador conta que até hoje os funcionários daquela lanchonete o xingam quando ele passa por ela, mas isso não o intimida. Ele também já foi alvo de outras lanchonetes que passaram a assediá-lo quando ele gravou um vídeo sobre um pastel que até gostava, mas havia um fio de cabelo dentro da comida. Desde então, ele recebe ameaça de vários perfis nas redes sociais. A esposa, Jaini, também foi abordada na rua.
Questionado sobre as motivações das ameaças, Jorge faz uma reflexão, mas acredita que deve haver limites.
“Eu entendo, porque provavelmente os funcionários se sentem ameaçados, eles devem sentir que o trabalho deles está ameaçado de alguma forma. Se a galera parar de ir, eles vão parar de vender, o chefe deles vai parar de ter dinheiro para pagar eles e vai mandar eles embora. Eu penso que seja isso, mas eu acho que o pessoal que me acompanha não boicota o lugar caso seja ruim”, conta.
Ocupação
Desde novembro de 2023 Jorge vive apenas dos vídeos que produz na internet. De acordo com ele, é o próprio público quem banca seus reviews. Ele conta que os seguidores enviam uma quantia para ele e pedem que ele visite algum estabelecimento para experimentar o menu de lá. A remuneração não oferece muita coisa, apenas o suficiente para pagar as contas e os alimentos consumidos nos estabelecimentos, mas Jorge gosta da rotina.
“Quando eu fui demitido, a pessoa que me demitiu falou ‘Agora que você está gravando vídeo na internet, você não precisa trabalhar mais aqui não’. Eu consigo pagar as contas (com os vídeos) junto da minha esposa e sobra um pouco de dinheiro para poder gravar os vídeos, mas é rentável apenas a nível de conseguir pagar as coisas. Não sobra nada além disso”, diz.
Jorge também explica que é graças ao público que ele pode continuar fazendo vídeos, pois como seu foco é, principalmente, o Instagram, ele não recebe monetização pelas publicações. Em relação às publicidades, ele diz optar por não fazer, pois acredita que perderia a credibilidade em seus reviews. A preferência é por estabelecimentos que o convidam para comer sem nada em troca, para ele conhecer o local e, caso sinta vontade e goste do cardápio, faz um vídeo.
Em relação ao impacto de seus vídeos, o influenciador acredita que realmente influencia as pessoas a consumirem em determinados estabelecimentos. Pelos comentários das publicações, ele percebe que algumas pessoas deixam de frequentar algum lugar. Por outro lado, quando vai a algum estabelecimento depois de ter feito uma crítica positiva, o feedback dos proprietários é de que os vídeos ajudam na clientela.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice