Dois jovens, J. F. S., de 18 anos, e S. R. S. F., de 19, acusam os seguranças do Mercado Central, em Belo Horizonte, de agressão e racismo. A violência teria ocorrido em 11 de junho, quando ambos foram ao local comprar uma cesta de vime para presentear a namorada de um deles. Eles são irmãos e tinham deixado o trabalho – um deles é menor aprendiz e o outro, montador de estruturas de shows.

 

Eles afirmam que levaram socos e tapas na cara e golpes de cassetete e foram levados para o subsolo do mercado ao reclamar de estarem sendo seguidos pelos seguranças enquanto faziam compras no setor de artesanato.

 



 

“Eles nos chamaram de 'preto favelado' e deram três tapas na cara do meu irmão. Logo depois, deram um mata-leão e nos arrastaram lá pra baixo, pro banheiro, tipo um subsolo do mercado, e bateram na gente lá”, afirma S.R.S.F, identificado na reportagem, a pedido do pai, somente pelas iniciais.

 

O jovem também conta que teve o celular danificado com uma pancada de cassetete dada por um dos seguranças. “Eles fizeram isso porque a gente é preto, estava de boné e bermuda simples”, afirma S. R. S. F, que garante que nunca mais vai entrar no Mercado Central. O centro comercial nega as agressões.

 

S. afirma que conseguiu fugir do subsolo e chamou o pai, Flávio dos Santos Fernandes, 47 anos, técnico de som, que se dirigiu ao local. Chegando lá, Flávio foi informado que o filho tinha sido levado pela Polícia Militar (PM) para a 6ª Companhia da PM, no Centro da cidade, onde foi lavrado um boletim de ocorrência.

 

Na sequência, o pai dos garotos procurou uma delegacia da Polícia Civil, onde registrou uma denúncia e pediu abertura de investigação. Também foi feito, segundo ele, exame de corpo delito no Instituto Médico Legal (IML).

 

 

No mesmo BO, dois seguranças afirmaram que estavam fazendo o “acompanhamento” dos jovens quando um deles não teria gostado, passando a ameaçá-los dizendo que era da favela, que o pai era chefe do tráfico e iria pegá-los posteriormente. Ao tentar contê-lo, segundo os seguranças no BO, os funcionários teriam sido agredidos por um dos jovens.

 

O pai contesta a informação e diz ser impossível o filho agredir os seguranças, pois ele “é menor do que eu, franzino”. “Ele não tem nem corpo para bater em alguém, e os seguranças são enormes", acrescenta.

  

Flávio conta que pediu ao mercado para solicitar as imagens da câmera de segurança para confrontar as versões, mas não obteve garantia do centro comercial de que isso seria feito. Ele afirma que, no corredor onde o fato ocorreu, há câmeras nas lojas. Para ele, os filhos, “que são trabalhadores”, foram vítimas de preconceito.

 

“Eles agem mais com preconceito. Isso não é só dentro do mercado não, é em tudo quanto é lugar”, afirma o técnico de som, que diz também ter sido ofendido pelos seguranças ao reclamar do ocorrido. “Disseram que sou traficante. Quero que provem”, afirmou. Segundo Flávio, lojistas que presenciaram o fato prestaram solidariedade a ele e aos filhos. Ele defende que os comerciantes também sejam ouvidos para dar sua versão.

 

 

Flávio diz que foi na loja onde o filho comprou uma cesta de vime para presentear a namorada e pediu a nota da compra para garantir que eles não sejam acusados de roubo. A reportagem tentou, sem sucesso, contato com o estabelecimento. 

 

Mercado vai pagar celular

 

Nesta sexta-feira (14/6), Flávio dos Santos foi chamado pela direção do Mercado Central para uma conversa. No encontro, a administração se comprometeu a pagar um celular novo para substituir o que foi danificado e pediu desculpas ao pai dos jovens. A direção do mercado também pediu ao pai que orientasse os filhos a procurar a gerência do mercado ou de qualquer outro estabelecimento se forem seguidos por seguranças. E também a andar sempre com documento.

 

Flávio conta que levou a nota da compra do celular danificado para tentar obter o reembolso e também para provar que o telefone do filho “não foi roubado”. A direção do mercado tirou uma cópia da nota fiscal e se comprometeu a fazer um PIX de R$ 900 até a semana que vem.

 

 

O superintendente do mercado, Luiz Carlos Braga, afirma que os seguranças e os jovens “foram às vias de fato”, mas ele nega que os dois tenham sido agredidos no subsolo e com tapas na cara e alega que os funcionários apenas revidaram as agressões que teriam partido dos jovens. Braga também nega que os jovens estivessem sendo seguidos pelos seguranças.

 

Segundo ele, todo mundo que entra no mercado é monitorado. “Aqui pode vir gente de chinelo e ministro. Não fazemos distinção”, afirma. Questionado se chegou a pedir as imagens das câmeras e procurou os comerciantes para apurar as versões, Braga diz que isso não é responsabilidade dele e sim da polícia, até porque, segundo ele, as câmeras citadas pelo pai dos jovens não pertencem ao mercado e, sim, aos comerciantes.

 

O caso veio a público a partir do relato de um funcionário público que conhece os adolescentes e contou o ocorrido em suas redes sociais. A investigação está a cargo da 4ª Delegacia Distrital.

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