Minas Gerais registrou, em média, 111 incêndios florestais por dia no mês de junho, até esta quarta-feira (26/6), somando mais de 2,9 mil episódios em todo o estado. Em comparação ao mesmo período no ano passado, o número representa um crescimento de 38%. O dado corresponde aos registros em Unidades de Conservação e nas áreas urbanas. Diante desse cenário, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) ampliou o efetivo de brigadistas para atuar no combate às chamas, que, segundo a corporação, é um cenário que tende a piorar. 


Este é o primeiro ano dos Bombeiros coordenando a prevenção e combate a incêndios florestais nas 95 Unidades de Conservação do estado, que abrangem mais de 2 milhões de hectares de área protegida. Antes, o gerenciamento era feito pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF). Das 95 áreas, 76 são de proteção integral e 19, de uso sustentável. Uma equipe constituída por 115 bombeiros militares passará a atuar em todas as 17 unidades operacionais do estado, com empenho de profissionais nas Unidades de Conservação com maior registro anual de área queimada. A Região Norte de Minas abriga 65% das dessas unidades e registra cerca de 30% dos incêndios. 

 

 


Serão montadas bases operacionais no Parque Estadual Serra do Cabral, em Joaquim Felício, Região Centro-Norte do estado; APA Cochá e Gibão, em Bonito de Minas, Região Norte; Apae Alto do Mucuri, em Teófilo Otoni, no Nordeste, e Parque Estadual Serra do Rola Moça, na Região Central de Minas.


Além disso, segundo divulgado pela corporação, 90 profissionais serão contratados por meio de compensação minerária, que irão atuar junto dos 280 brigadistas que passaram a integrar o CBMMG no início deste ano. Há também um projeto de aquisição de internet via satélite e estações meteorológicas portáteis para facilitar as análises e acompanhamentos. Em maio, o efetivo contava com cerca de 550 profissionais.

 

 


 

O tenente Leonan Soares explica que a preservação das Unidades de Conservação gera benefícios para toda a população. “A proteção dos cursos d’água, da flora e a manutenção da fauna contribui para a dispersão das sementes e o reflorestamento das nascentes, garantindo o abastecimento de água nas cidades. Neste sentido, a instalação das bases poderá intensificar o atendimento, que contará também com a dedicação diária de mais de 100 bombeiros, mais aeronaves e equipamentos", comenta o oficial, que integra a Coordenadoria de Meio Ambiente da corporação.

   

 


El Niño

Em maio, Minas registrou em média 104 incêndios em vegetação por dia. Os números revelaram um aumento de 43% em relação a maio de 2023, que atingiu em média 51 incêndios por dia. Neste ano, de maio a abril, o crescimento foi de 77%. 


O tenente do CBMMG, Henrique Barcelos, explicou que o cenário pode piorar nos próximos meses. “Ainda não atingimos o pico. Percebe-se que as ondas de calor estão tornando esse período mais incisivo, a mata muito seca com umidade baixa. O que era para começar no mês de julho já está acontecendo”, afirmou Barcelos.  


O oficial destacou as particularidades de cada tipo de incêndio. “O Sul de Minas é o maior atingido em relação ao volume de atendimentos, principalmente em cidades que fazem fronteira com São Paulo. Estatisticamente, as áreas urbanas não protegidas correspondem a 70% dos incêndios registrados”, explicou. 


“As ondas de calor atuam no incêndio em área urbana e há uma tendência de aumentar pela proximidade com a ação do homem. Esses incêndios acontecem, por exemplo, a partir da queima de entulho em lotes vagos, com vegetação seca exposta”, detalhou Barcelos. 

 

O meteorologista Ruibran dos Reis, do Instituto Climatempo, ressalta o fenômeno El Niño, que acabou no dia 13 de junho, mas impactou diretamente no aumento das temperaturas para o ano todo.  “O período chuvoso em Minas começa em outubro e termina em abril. Em função do El Ninõ, as chuvas chegaram no final de dezembro, então choveu menos e em forma de temporais. Isso significa que não houveram chuvas intermitentes que inundam o solo, o solo não encharcou.” 


Ele lembra que os efeitos das mudanças climáticas e do El Ninõ vêm sendo fortemente sentidos desde o ano passado. “Passamos por três ondas de calor nesse período e desde o fim de abril começou uma massa de ar quente no estado. A partir de junho não tem mais El Niño, mas de junho até agosto não chove. A temperatura vai ficar mais elevada em Minas, de 2 a 3°C acima da média até setembro”, pontuou o meteorologista 

 

*Estagiária sob a supervisão do subeditor Fábio Corrêa

compartilhe