Um debate ganha as atenções de expositores na Feira Hippie: se o evento, realizado todos os domingos na Avenida Afonso Pena, no Centro da capital mineira, merece ou não ter seu horário estendido por mais uma hora.


A maioria das pessoas que se manifestaram a favor do acréscimo no horário da programação belo-horizontina é do setor de alimentação. Em vez de o evento finalizar às 14h, o horário seria estendido até as 15h. No entanto, mais de 90% dos feirantes, em geral artesãos, são contra a mudança. 


A Feira Hippie conta com 1.585 expositores, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), sendo que 118 deles são do setor que pede a mudança. Foi em uma audiência na Câmara Municipal do dia 19 de junho que se pôs à mesa o debate sobre o aumento de horário.

 

O vereador Irlan Melo (Patriota), quem solicitou a audiência, afirmou que foi procurado por alguns feirantes do setor sobre a questão, mas ela seguiu sem definição. Com isso, a reportagem conversou com alguns comerciantes favoráveis e contra a proposta. 

 




Vendedor de acarajé, Claudiano Mariano, mais conhecido como Dim, frisa a tradição da Feira Hippie e sua posição como patrimônio público da cidade, se diz completamente a favor da ampliação no horário e pede visibilidade e atenção aos feirantes que fazem o pedido. "É um programa que acontece desde a época da minha avó; a prefeitura poderia pensar em uma logística para os outros feirantes saírem, para que o setor da alimentação consiga finalizar as vendas e organizar as barracas para ir embora. A fiscalização passa avisando que encerrou a venda, e nesse horário ainda temos clientes com ficha na mão, aí eles dão esse tempo para vendermos, e a barraca ainda está cheia, porque é muita gente."


“Não são todos, não vou generalizar, mas muitos dos fiscais são até agressivos demais, chegam falando: 'Quer que eu te multe? Não falei para encerrar a venda?'. Eu já fui até ameaçado a ser multado, exatamente às 14h05 se não encerrasse a venda, cinco minutos depois que a feira encerrou”, ele enfatiza.


Além de integrante da Comissão Paritária, membros eleitos pelos feirantes para representar a categoria, Rosalee Gonçalves também vende bijuteria na feira. Ela afirma que, no setor de artesanato, o horário de venda se estende no máximo até as 13h, “depois disso as pessoas não andam mais para comprar”. 


Ela destaca que, para o restante da feira, fora do setor de alimentação, não é vantajosa a mudança. “Sou contra porque quero ir embora quando não tenho mais venda, só posso entrar com o carro a partir do fechamento da feira, às 14h. Com o aumento do horário, o pessoal dos outros setores não podem sair, ficam presos porque veículos não entram para podermos recolher as coisas. Para nós do artesanato, não tem mais benefício nem sentido estar ali, a feira tem mais de 1.500 expositores, a maioria deles com mais de 60 anos, para apenas 118 pessoas ficarem lá vendendo enquanto esperamos”.


“Saio da minha casa às 3h30 para montar a barraca, que fica pronta às 7h30. Às 10h30 é nosso maior alcance, e, depois disso, o público se dirige mais para o pessoal da alimentação, onde se começa a vender mais por volta desse horário. Temos pouco movimento quando eles (da alimentação) têm um público maior consumindo”, completa.


 

O argumento que aparece caminhando entre as duas opiniões é a extensão do horário apenas para o setor de alimentos.


Paulo Favaretto é feirante, vende produtos para pets na Feira Hippie e afirma que é inviável que uma minoria queira “mudar toda uma regra, sendo que a maioria é contra”. 


“Os feirantes chegam por volta das 2h, alguns dos montadores chegam na noite do sábado. Ficar até as 15h é muito difícil e cansativo”, diz. Porém, argumenta que um cenário próximo do que está sendo pedido poderia ser justamente o aumento do horário apenas nesse setor específico. “Se fosse possível o aumento do horário somente no setor de alimentos, talvez uma flexibilidade enquanto a limpeza acontece, seria ótimo, mas é muito complexo.”

 

A proposta é complexa porque o setor de alimentos se divide em três áreas (Y, X e Z) na extensão da Avenida Afonso Pena, com a Carandaí e Álvares Cabral e a Rua Espírito Santo. Para que essas partes da feira possam continuar funcionando, as vias precisam ser fechadas, evitando a entrada e saída de carros. “É preciso pensar toda a preparação e desmontagem, além do que, a hora também se estende para os outros funcionários que limpam as vias, agentes e bombeiros, que estão na dinâmica do fechamento da feira”, destaca Rosalee.


Maria Aparecida Buzzetti também é representante da comissão paritária e do setor de alimentos, mesmo assim, é contra a mudança de horário. “A maioria dos expositores é mais velha e não é fácil, sou da alimentação e não quero."

 


Com as vendas de churrasco e bebidas na feira, Robert Junior se posiciona a favor do acréscimo. “A maioria das famílias acorda mais tarde no domingo, e, com a feira acabando cedo, as pessoas acabam ficando em casa. Dá para adaptar. Muitos não tem movimento, mas tenho, como fica? Poderia ser criado uma hora de tolerância, não é nem a mais, è de tolerância, para terminar as vendas e desmontar as barracas.”


Consultada pelo EM, a prefeitura frisou a função da Comissão Paritária na decorrência dos assuntos da feira e informou que todo o serviço de desmobilização dura cerca de quatro horas, como: o recolhimento dos produtos, a desmontagem das barracas, a retirada dos contêineres de banheiros químicos, a coleta de resíduos, a lavagem de pontos das vias e a retirada da sinalização de trânsito provisória.


A PBH respondeu ainda que tem "o conhecimento de que a demanda por estender permanentemente o horário da feira tem sido levantada especificamente pelos feirantes de alimentação". "Já grande parcela dos demais feirantes, cujos setores correspondem a mais de 90% das vagas da Feira, é contrária à alteração do horário de forma permanente”, destaca.


E ressaltou que, atendendo à demanda dos feirantes representados pela Comissão Paritária, é concedido anualmente a extensão do horário durante o mês de dezembro. Em 2023, a autorização contemplou três dos cinco domingos do mês.


A feira


A Feira de Artes, Artesanato e Produtores de Variedades de Belo Horizonte, popularizada como Feira Hippie, nem sempre foi na extensão da Avenida Afonso Pena. Antes disso, foi idealizada por um grupo de artistas mineiros na Praça da Liberdade, ainda no fim da década de 1960.

 

Foi só em 1973 que a feira foi reconhecida e oficializada, e, em 1991, outras exposições de artesanato espalhadas por Belo Horizonte foram reunidas no centro da cidade.

 



Edital para novos feirantes


Foi divulgado nessa quinta-feira (27/6), no Diário Oficial do Município, um edital para novas vagas de expositores na Feira Hippie. Serão 71 vagas, em 13 setores. As inscrições podem ser feitas apenas por moradores de Belo Horizonte, de forma presencial ou on-line. A inscrição será aberta no dia 5 de setembro e se estende até o dia 18 do mesmo mês.


Os escolhidos serão selecionados por meio de sorteio e terão 30 dias para começar o processo de licenciamento. A data e horário do sorteio ainda serão divulgados. 

* Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata

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