O inverno começou com a Praça da Liberdade menos colorida devido ao atraso na floração dos ipês -  (crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

O inverno começou com a Praça da Liberdade menos colorida devido ao atraso na floração dos ipês

crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

Os ipês, que sempre colorem a cidade na passagem do outono para o inverno, atrasaram este ano e ainda não floresceram. Em anos anteriores, julho já iniciava com exemplares de várias cores exibindo suas flores, mas, desta vez, apenas alguns poucos ipês-roxos perderam a timidez e mostraram toda a sua beleza.

 

"Está bem apagado mesmo. E a praça acaba ficando bem menos bonita. Os ipês ajudam a colorir a cidade", conta a cuidadora de idosos Izalda Alves de Souza. Ela, que ficou um mês sem passar pela Praça da Liberdade, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, reparou hoje no atraso da floração dos ipês.

 

"Um roxo que fica na rua da minha casa não floriu esse ano. E, nessa época, ele já fica bem colorido", relata a cuidadora de idosos, que mora no Bairro Trevo, na Região Pampulha.

 

"Estou vendo poucos ipês floridos pela cidade", observa a médica veterinária Gabriela Duarte, que também sentiu o atraso na floração. Ela diz ser daquelas pessoas que correm para tirar fotos dos ipês assim que eles florescem. "Sou apaixonada pelos amarelos. Os roxos também são lindos", conta Gabriela.

 

 

 

Clima de atraso

 

A causa para esta demora no florescimento dos ipês está ligada à onda de calor que Belo Horizonte enfrenta desde o começo do ano, explica Edinilson Santos, engenheiro florestal da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

 

"Os ipês florescem no inverno, num período que vai do final de maio a setembro. A variação de temperatura, de umidade, o comprimento dos dias, que são mais curtos no outono, entre outros fatores, podem fazer com que a floração comece mais cedo ou mais tarde, dependendo do ano", detalha.

 

 

 

 

Segundo o especialista, o descontrole climático nas grandes cidades tem sido cada vez mais intenso e isso tende a alterar os ciclos das árvores, como a polinização e a floração. "Os ipês demorarem a florescer não é o fim do mundo, mas pode ser visto como um sinal de mudanças climáticas", aponta.

 

O engenheiro florestal também explica que, devido à floração dos ipês ocorrer nos períodos mais secos entre o outono e o inverno, o atraso deste ano pode fazer com que o desabrochar das flores dure mais tempo e acabe adentrando na primavera.

 

A floração dos ipês costuma durar cerca de uma semana. No caso dos ipês-amarelos, ela pode se estender por até 10 dias. Já as flores dos ipês-brancos persistem por menos tempo, mantendo-se por apenas três dias.


 

Ipês da cidade

 

Belo Horizonte tem quase 29 mil ipês, segundo dados mais recentes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. São árvores de 9 espécies diferentes, com origens de várias partes do mundo, cada uma com sua cor única.

 

Os mais comuns são os ipês rosa, com 9.768 árvores. Em seguida vem os tabacos, também chamados de ipê-felpudo, com 6.054 exemplares.

 

Os ipês-amarelos somam 4.034 árvores na cidade. Essa espécie, inclusive, é considerada a Flor Nacional do Brasil desde um decreto de 1961, assinado pelo então presidente Jânio Quadros. Um dos motivos para esta nomeação é porque as flores amarelas, ao caírem, dividem espaço no chão com a grama verde, e as duas cores, juntas, estão presentes na bandeira nacional.

 

Seguindo a lista vem os ipês-roxos, que abrem a temporada de floração, com 2.678 árvores. Os ipês-brancos, também conhecidos como “véu de noiva”, contabilizam 2.493 exemplares em BH. Em seguida vem os ipês-mirins (2.491), os sete-folhas (906) e os ipês-do-cerrado (147).

 

Os mais raros são os ipês verdes, com apenas 24 árvores em toda a cidade. Além de serem poucos, a tonalidade de suas flores se misturam às folhas de outras vegetações, o que dificulta para serem identificados.