Uma dúvida bastante comum entre as pessoas é se jogar papel higiênico no vaso entope ou não a rede de esgoto? Para o gerente da Unidade de Serviço Macro-operação de Esgoto da Copasa, Filipe Bicalho, a resposta é simples e a prática pode causar danos nas tubulações de esgoto. “Em média, recebemos 150 reclamações de entupimentos esgoto por dia, aqui na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O que dá anualmente mais de 50 mil, por ano”, afirma.
Opinião reforçada pelo engenheiro ambiental Rafael Pessoa, que fez mestrado na área de saneamento, meio ambiente e recursos hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“Se o papel higiênico possui a devida característica de desintegração, como acontece em outros países, a rede de esgoto e a vazão de descarga é adequada. O entupimento não deveria ocorrer, exceto se o descarte for em quantidades muito grandes”, explica.
Porém, a realidade no país é bem diferente, e o estudo do Rafael revela que a maioria dos papéis higiênicos, pelo menos os comercializados em Belo Horizonte, não possuem desintegração, sendo um entre 11 que tem a característica.
“Não necessariamente isso significa que ocorrerá entupimento, já que a quantidade de papel higiênico descartada pode ser um fator relevante a se considerar, mas o fato de o papel higiênico não se desintegrar pode contribuir para ocorrência de entupimentos”, diz.
Além de observar o material do produto, o especialista de esgoto da Copasa ressalta outra questão. “O que complica é a nossa tubulação interna em casa, que pode ter tubo velho e sem caída. Isso pode fazer com que o esgoto não tenha uma condição de escoamento favorável e esse papel higiênico pode acumular na rede e trazer esse entupimento”, destaca.
O papel higiênico é um entre vários materiais que podem entupir a rede de esgoto. “Guimba de cigarro, camisinha, cotonete, fio dental e absorvente. E todo esse lixo que é jogado de forma irregular é um veneno para as redes”, expõe Filipe Bicalho.
Jogar ou não?
Como já afirmou, a recomendação principal de Filipe é destinar os materiais no cesto de lixo, para que não ocorra o entupimento das tubulações. Entretanto, para o engenheiro ambiental Rafael Pessoa, o descarte no vaso é mais vantajoso por ser uma forma de redução de riscos de contaminação.
“Reduz o odor para o usuário e, quem sabe no futuro, até uma forma viável de reaproveitamento dessa celulose do papel higiênico, como já fizeram na Holanda”, afirma.
O descarte de papel higiênico em grandes quantidades pode ocasionar o entupimento, mas Rafael Pessoa evita recomendar a ação de não jogar o papel no vaso, porque acredita que uma campanha para regulamentar o material desintegrável seja mais eficiente do que mudar a rotina de descarte no vaso.
“É muito complicado fazer uma camisinha não entupir uma rede de esgoto, as características dela não são compatíveis com o transporte pela rede coletora de esgoto. Mas o papel higiênico, no caso, a solução é simples, tanto que vários outros países já têm isso há bastante tempo. Não sei exatamente o que tornaria o papel higiênico desintegrável, mas é uma solução técnica simples e que resolveria o problema”, destaca.
Rafael Pessoa vai além e afirma que, do ponto de vista de destinação final, jogar no cesto de lixo ou no vaso sanitário dá no mesmo. “Uma vez que o papel higiênico, seja ele removido na manutenção das redes de esgoto ou com o lodo nas Estação de Tratamento de Esgoto, normalmente acaba indo para um aterro sanitário. E há ainda, o que acontece na maioria das cidades brasileiras, a falta de tratamento do esgoto e a falta de aterro sanitário, nesses casos, infelizmente, haverá uma destinação inadequada, não só do papel higiênico seja via lixeira ou via vaso sanitário, mas dos resíduos e do esgoto de forma geral", diz.
Diferença entre rede de esgoto e pluvial
O excesso de materiais jogados no vaso podem entupir as redes, mas o especialista da Copasa destaca que existe um outro problema: a ligação da rede de esgoto com a pluvial, que seriam aquelas bueiros que ficam nos cantos das ruas e recebem as águas de chuvas. “Muitas pessoas jogam água de chuva nas redes de esgoto e aí quando chega esse grande volume de água, a rede não suporta, e começa a vazar esgoto para tudo quanto é lado”, diz.
Durante o período chuvoso, Rafael esclarece que as reclamações de transbordamento de esgoto aumentam bastante e o ideal é que não haja interligação entre as redes, mas que cada uma fique com apenas uma função: a rede de esgoto para esgoto e rede pluvial para as águas de chuva.
*Estagiário sob supervisão do subeditor Gabriel Felice