Nas férias de julho ou a passeio em qualquer época do ano, Minas Gerais é um celeiro de história, cultura e nobreza do patrimônio. No interior de igrejas e capelas barrocas e no estilo rococó, moradores e visitantes podem admirar altares, imagens e demais peças sacras que trazem beleza, conduzem à espiritualidade e fortalecem a memória nacional.
A fachada dos templos coloniais, com portadas (ornamentos em pedra-sabão) artisticamente trabalhadas, oferece a todos um convite para desfrutar o trabalho de mestres, a exemplo do arquiteto, escultor e entalhador Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), e do pintor Manoel da Costa Ataíde (1762-1830). Em cada recanto mineiro, há uma boa surpresa para fotografar (quando permitido!) e guardar nas melhores lembranças.
Para guiar o olhar dos interessados em conhecer tantas maravilhas, o professor de história da arte Alex Fernandes Bohrer, titular do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), em Ouro Preto, apresenta um roteiro com 10 igrejas mineiras que merecem a visita. “São muitos templos espetaculares em Minas, é difícil fazer uma seleção, mas está aqui uma essência da nossa arte sacra, contemplando estilos diversos, do final do século 18 ao início do século 19”, diz o professor.
Natural de Cachoeira do Campo, um dos distritos mais antigos de Ouro Preto, na Região Central, Bohrer é autor de vários livros, entre eles “Igrejas e Capelas – Ouro Preto”, em parceria com o jornalista Mauro Werkema, “Ouro Preto – Novo Olhar” e “O discurso da imagem”. Quem conhecer esses 10 templos católicos, muitos em áreas destacadas como Patrimônio Mundial, “terá uma compreensão da grandeza de Minas Gerais”, garante o historiador. Vale lembrar que Ouro Preto, Diamantina e Congonhas têm reconhecimento como Patrimônio Mundial.
DEZ TEMPLOS DE FÉ E ARTE EM MINAS
1) Estilo Barroco português (do fim do século 17 a 1725)
- Matriz Nossa Senhora de Nazaré, no distrito de Cachoeira do Campo, em Ouro Preto, na Região Central: Considerada uma das primeiras e mais ricas igrejas do estado, é testemunha de grandes fatos históricos importantes, como a batalha decisiva, em 1708, da Guerra dos Emboabas. A construção guarda em seu interior características originais, com retábulos dourados e dezenas de pinturas.
- Matriz Nossa Senhora da Conceição, em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte: Tombada em 1938 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Igreja Nossa Senhora da Conceição, no Bairro Siderúrgica, e uma das primeiras de Minas. As datas da construção (1701) e consagração da igreja (1710) não podem ser precisadas, pois os registros teriam sido queimados por um padre, cujo antecessor havia contraído lepra. Para se livrar do risco de contágio, ele teria incinerado tudo o que estivera em contato com o doente – incluindo os papéis.
2) Estilo Barroco joanino, de 1730 a 1760
- Basílica Nossa Senhora do Pilar, no Centro Histórico de Ouro Preto: Em 2021, o templo foi destacado pela agência espanhola Civitas como um dos mais bonitos do país. Os entalhadores da capela-mor, cuja talha (madeira esculpida) é considerada obra-prima, foram os portugueses Francisco Xavier de Brito, que chegou a Vila Rica em 1741, trabalhou no Pilar de 1746 a 1750, e José Coelho de Noronha. conforme estudos e registros históricos, teria sido mestre de Aleijadinho.
- Matriz Santo Antônio, no Centro Histórico de Tiradentes, na Região do Campo das Vertentes: Logo ao chegar ao adro da igreja, os visitantes se encantam com o relógio de Sol, feito em pedra-sabão e datado do século 18. Já no interior, merecem destaque os altares mais antigos, que são os de Nossa Senhora da Conceição e São Miguel e Almas. Os altares da Irmandade do Bom Jesus do Descendimento (1734) e Bom Jesus dos Passos (1730) são de autoria de Pedro Monteiro de Souza.
3) Estilo Rococó, de 1770 ao início do século 19
- Igreja São Francisco de Assis, no Centro Histórico de Ouro Preto: Com projeto arquitetônico de Aleijadinho (1730-1814), responsável também pelo risco da portada, púlpitos, retábulo-mor, lavabo e teto da capela-mor, e pinturas de Manuel da Costa Ataíde (1762-1830), o templo recebeu, em 2011, a certificação como uma das sete maravilhas de origem portuguesa no mundo. Ataíde é considerado um expoente da arte colonial brasileira.
- Igreja São Francisco de Assis, de São João del-Rei, no Campo das Vertentes: Projetada por Aleijadinho, tem portada esculpida em pedra-sabão, possui talhas de grande beleza e um gigantesco lustre de cristal bacarat. O tempo está localizada em meio a um jardim de palmeiras imperiais. No cemitério da igreja, está sepultado o ex-presidente eleito Tancredo Neves (1910-1985).
4) Arquitetura do Barroco italiano e elementos artísticos no estilo rococó, a partir de 1770
- Igreja Nossa Senhora do Rosário, no Centro Histórico de Ouro Preto: Em termos arquitetônicos, é considerada a melhor expressão do Barroco ao gosto italiano. A nave e a capela-mor em formato de duas elipses, o frontão e as torres cilíndricas são características que a tornam única, na avaliação dos especialistas. Há registro de apenas duas igrejas no Brasil com desenho semelhante, ambas dedicadas a São Pedro dos Clérigos – no Rio de Janeiro (já demolida) e em Mariana (MG).
- Basílica Nosso Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, na Região Central: Templo formado pela igreja, adro murado e escadaria externa decorada com as esculturas dos 12 profetas em pedra-sabão. O conjunto se completa com seis capelas nas quais se destacam 66 imagens recriando a via-crúcis. As obras são de Aleijadinho, incluindo as esculturas de madeira policromada em tamanho natural.
5) Em vários estilos
- Igreja Nossa Senhora do Carmo, de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha: Construção em estilo rococó, de 1780, financiada pelo contratador de diamantes português João Fernandes de Oliveira, amante da célebre Chica da Silva – tanto que foi erguida diante da casa da escravizada alforriada. O interior contém belas pinturas no forro. A torre, construída nos fundos da igreja, é um detalhe raro. Destaque ainda para o órgão musical.
- Catedral da Sé, de Mariana, na Região Central: Erguida de 1720 a 1780, reúne os estilos barroco português, joanino e rococó. A Catedral Nossa Senhora da Assunção, conhecida como Sé de Mariana, conserva, de acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (iphan), características originais, enquanto a maioria das catedrais contemporâneas a ela foi modificada ou demolida. Trata-se da primeira catedral do estado, primeira do interior brasileiro e a sexta do país.