Ibituruna é o povoado mais antigo de Minas Gerais  -  (crédito:  Leandro Couri/EM/D.A Press)

A cidade atesta o título por meio do Marco de Sesmaria, uma pedra fincada por Fernão Dias

crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press

Ibituruna, município que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), conta com 2.698 habitantes na Região Oeste de Minas, é a cidade mais antiga do estado? A informação está errada, mesmo que o site do governo de Minas mencione isso. 


A informação dada no site da Secretaria de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult) com dicas de atrações culturais foi retirada do IBGE, segundo a pasta. Mas no site do órgão não consta o dado. A secretaria foi alertada pela reportagem, porém o erro não havia sido corrigido até a publicação desta matéria. 

 

 

Site da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult-MG)

Site da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult-MG)

Reprodução/Secult

 

Historicamente, sabe-se que a primeira cidade de Minas foi Mariana, em 1745, além de capital em 1712, instituída por bandeirantes na Região Central do estado. Mas qual teria sido o motivo da confusão?


O erro deve-se ao fato de que Ibituruna, na verdade, ter sido o primeiro povoado de Minas Gerais.

 

 

 

Ibituruna


Com um marco de pedra fixado na sesmaria ainda na segunda metade do século XVII, a cidade de Ibituruna foi “apossada” pelo bandeirante paulista Fernão Dias. Essa informação predomina em razão das pesquisas do historiador Diogo Vasconcelos e caracterizou o município mineiro como o povoado mais antigo do estado. 


No Brasil, inspirado pelo projeto de invasões da coroa portuguesa, os bandeirantes também realizavam a “posse” das terras. Quando isso acontecia, era fixado um marco de pedra. 

 

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No entanto, a chegada dos paulistas em regiões interioranas "foi muito romantizada", afirma o historiador Francislei Lima. “Com o passar do tempo, essa heroicização dos bandeirantes puderam ser melhor analisadas, essas chegadas foram muito violentas. Os povos indígenas, em especial, das regiões eram expulsos, assassinados ou ambos". O professor coordenou junto à Escola Estadual Professor Júlio Bueno, enquanto trabalhava no departamento de história da UEMG em 2017, um projeto na cidade de Educação para o Patrimônio.


Ele explica que a presença da comunidade indígena na cidade é evidenciada, além das histórias locais, por seu próprio nome. De origem Tupi-Guarani, o topônimo significa “serra negra”. Francislei diz que, conforme relatam os moradores, sua denominação é por causa da sombra formada por sua posição geográfica em relação ao sol. 


Ibituruna foi um povoado (pequeno aglomerado rural ou urbano, sem autonomia administrativa), mas também foi constatado como arraial (povoação de caráter temporário, geralmente formada em função de certas atividades extrativas) e, depois, freguesia (circunscrição eclesiástica que forma a paróquia). Tornou-se cidade apenas no início da década de 1960, quando foi emancipada do título de distrito de Bom Sucesso. 

 

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Ibituruna é o povoado mais antigo de Minas Gerais

Ibituruna é o povoado mais antigo de Minas Gerais

Leandro Couri/EM/D.A Press

 

 


Passados tensionados


A capela de Nossa Senhora do Rosário fica próxima ao marco de Fernão Dias, na Região Central da cidade. “A irmandade de Nossa Senhora do Rosário servia como uma instituição que ajudava na conquista por direitos do povo negro, seja compra de alforria, assistência médica e alimentar ou até mesmo sepultamento, além da preservação de traços culturais”. A devoção ao Rosário e aos santos negros, São Benedito e Santa Efigênia, também confirmam, segundo Lima, a forte herança escravocrata do povoado.

 

Ibituruna é o povoado mais antigo de Minas Gerais

Capela de Nossa Senhora do Rosário

Leandro Couri/EM/D.A Press

 

Com isso, o historiador argumenta que, de certa forma, é como se essa proximidade fizesse com que a identidade e memória local pudessem ser convergidas e tensionadas, mesmo com a falta de estudos e pesquisas sobre o território. Ele reitera que, infelizmente, a documentação que chega não consegue contar todas essas histórias apagadas – e destruídas. 

* Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata