A professora Jéssica Barbosa, referência na história do lugar:

A professora Jéssica Barbosa, referência na história do lugar: "A gente vê áreas desmatadas, água sendo retirada em grandes volumes sem qualquer controle"

crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Buritizeiro – Para que Paredão de Minas não seja figurativamente o fim do sertão, a professora Jéssica Guedes Barbosa, de 35 anos, uma referência sobre a história do distrito do município de Buritizeiro imortalizado na literatura por Guimarães Rosa, prega educação e consciência ambiental. “Aqui precisa ser o futuro. As pessoas pensam no sertão como um deserto, mas aqui é cheio de vida, de luta e de esperança. Lutamos pela população e pela educação. São as únicas formas de se desenvolver enquanto ser humano. Por outro lado, vemos que aqui não existe uma fiscalização ambiental eficiente. Então, a gente vê áreas desmatadas, água sendo retirada em grandes volumes sem qualquer controle”, denuncia.

 

Apesar da preservação, os impactos já são sentidos ali, sob a forma de seca prolongada, calor forte e falta de água, segundo a professora. Impactos climáticos que serão severos segundo previsão do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU). Se nada for feito para reduzir a degradação que leva às mudanças climáticas, Buritizeiro sofrerá, uma vez que está na faixa dos nove municípios que mais experimentarão aquecimento entre os 55 identificados pela reportagem como o sertão de Guimarães Rosa.

 

 

A estimativa é de 1,5°C de aumento das temperaturas máximas até 2040, previsão que põe Buritizeiro ao lado de Cristalina, João Pinheiro, Lagoa Grande, Paracatu, Pirapora, Ponto Chique e Várzea da Palma. A média nos 55 municípios do sertão de Rosa é de 1,4°C de elevação nos termômetros. No médio prazo, até 2060, a cidade também pode experimentar a pior alta, na casa de 2,6°C de máximas, ao lado de outros 19 municípios do sertão, enquanto a média dessa área ficaria em 2,52°C a mais.


O clima piora, o êxodo cresce

 

 

Se o calor tende a ser grande, os impactos com as chuvas não são menos preocupantes. Se nada for feito, a tendência é de que as tempestades que despejam grandes quantidades de chuva em um só dia aumentem em 5,3% seu volume em Buritizeiro até 2040, a sexta pior faixa entre 55 cidades do sertão – a previsão mais crítica é de incremento de 7,3%, nas vizinhas São Gonçalo do Abaeté e Três Marias. Já a precipitação anual distribuída pelo período chuvoso pode ter redução de 2,2%, o segundo pior patamar de seca, atrás dos 2,3% de diminuição que podem ocorrer em João Pinheiro, Lagoa Grande, Paracatu, Pintópolis, São Romão e Urucuia.

 

 

Caso cenários como esses se confirmem, os impactos para o ambiente e a população serão inevitáveis, gerando situações como o êxodo dos habitantes. “Tudo em paredão depende dos empregos gerados na região. É um lugar que vive desses ciclos. Houve épocas de garimpo de diamante, depois especulação para o ouro. Na época das filmagens da série (“Grande sertão: veredas”, da Rede Globo) houve muita movimentação. Havia uma esperança de que depois Paredão pudesse se desenvolver. Mas isso não ocorreu e muitas famílias foram embora”, afirma a professora Jéssica Barbosa. “Hoje, Paredão não mudou muito, permanece perdido nesse tempo do sertão, nessa esperança de um dia melhor, de uma estrutura melhor, de um investimento”, constata.

 

 

Com a família “esparramada por todos os lados”, o sertanejo Geraldo Guedes, de 54 anos, diz não ter sossego para trabalhar na roça. “As pessoas foram embora. Aí, nossas casas na cidade ficam vazias. Entra gente e rouba nossas coisas. Uma situação que não tinha aqui. Da última vez, me levaram sete galinhas. Acho que é assim que acaba tudo. Primeiro a gente acaba com a mata, com o rio e depois a gente se acaba um com o outro, não respeitando o outro. Assim”, diz, pessimista.