Parte da restauração do Palácio da Liberdade, antiga sede oficial do governo estadual, situado na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, já foi concluída. O anúncio foi feito em cerimônia no edifício histórico na manhã desta segunda-feira (22/7). A previsão é que as obras estejam finalizadas até outubro deste ano, bem antes do prazo estabelecido no início das intervenções, estipulado para abril de 2025.
A reforma permitiu a recuperação da pintura original, revitalização de telas artísticas e do forro e ainda eliminou problemas de infiltração no teto, após quase duas décadas sem esse tipo de intervenção no edifício - a última ocorreu entre 2004 e 2006. “Essa é a mais completa obra de restauração que o Palácio já teve em sua história. Ele passou por restaurações antes, porém mais voltadas à manutenção do que ao resgate do esplendor original. O telhado, por exemplo, não tinha sido completamente recuperado; agora foi totalmente restaurado. Fizemos uma recuperação completa e, como havia infiltrações no salão de banquetes, chegou a ter um dia em que a água escorria pelo hall, de tão problemático que estava, afetando principalmente os quartos e as dependências mais internas”, detalha o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira.
A estrutura do prédio é constituída por três pavimentos. No primeiro pavimento estão o Vestíbulo, as Salas de Recepção e a Galeria de Retratos dos Governadores, cronologicamente dispostos. O segundo pavimento compreende cozinha, copa, salas e banheiros. No último pavimento estão o Salão Dourado, o Salão das Medalhas e o Salão de Honra que dão o tom da nobreza ao exibirem móveis Luís XV e Luís XVI, o imponente Salão de Banquete, a Sala da Rainha e o Salão Vermelho, além de gabinetes e cômodos particulares dos governadores, como o quarto de dormir em estilo Luís XV. Os torreões laterais possuem varandas de onde muitos governadores se dirigiram ao povo mineiro ao longo das décadas.
Uma das características mais marcantes do prédio, a fachada de pedra de cantaria — uma combinação de pedra sabão e granito— foi meticulosamente restaurada. Antes pintada de salmão para combinar com as cores das paredes, o que dava um aspecto de sujo ao prédio, a área externa agora revela sua cor original, resgatando a beleza autêntica das pedras. “Nós tivemos uma dificuldade muito grande em limpar essa pedra”, aponta Leônidas. No quarto da rainha, que recebeu a então rainha Elizabeth da Bélgica em 1920, e no quarto do governador, as molduras decorativas que adornavam o alto das paredes e desabaram em um dia de chuva forte foram completamente restauradas.
Palácio da Liberdade segue em obras
Os restauradores ainda têm muito trabalho pela frente. A próxima fase das obras se dedica à recuperação do interior, incluindo a escadaria, o salão de banquetes e a sala de recepção. Também serão restaurados os pisos de mármore e madeira, tanto no térreo quanto no andar superior, além das pinturas parietais — aquelas feitas sobre uma parede — que adornam as salas das antigas secretarias e atualmente apresentam descascamento e mofo.
Além das intervenções estruturais, os jardins do Palácio, planejados por Paul Villon em estilo inglês, serão revitalizados em sua composição original, que possui uma tenda de eventos há mais de 20 anos. O mobiliário, datado dos séculos XIX e XX, também passará por uma cuidadosa restauração após anos de uso. As ações incluirão ainda a renovação do telhado do coreto, a drenagem do lago artificial e o paisagismo, assegurando que os jardins mantenham seu desenho original. Dentro do projeto, ainda está prevista a iluminação cênica para destacar as fachadas externas e jardins.
Para a empreitada, ainda serão anunciados novos recursos, além dos R$ 10,3 milhões, custeados por ações civis públicas e acordos judiciais do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). O montante não foi divulgado. “A degradação do Palácio da Liberdade é a caracterização da falência do estado. Se não conseguimos preservar nosso principal patrimônio cultural, é porque tem alguma coisa errada”, afirma o procurador-geral de Justiça de Minas, Jarbas Soares Júnior.
História
No fim do século 19, Belo Horizonte foi planejada para ser a nova capital de Minas, sendo a Praça da Liberdade o lugar escolhido para abrigar o centro administrativo e o Palácio da Liberdade - sede e símbolo do governo. Conforme estudos divulgados, a arquitetura eclética da construção projetada pelo arquiteto José de Magalhães (1851-1899) reflete a influência do estilo francês, com requintes de acabamento e riqueza de elementos decorativos.
No interior do palácio, há candelabros em bronze dourado, piso em parquet, lustres de cristal, painéis alegóricos, escadaria principal encomendada a uma empresa da Bélgica e rico mobiliário. Na área externa, podem ser vistos os jardins planejados por Paul Villon (1841-1905), seguindo o estilo inglês, mas alvo de reformulações ao longo do tempo, quando foram incluídos elementos decorativos como esculturas e fontes.
O Palácio da Liberdade se tornou testemunha de fatos marcantes da história de Minas e do Brasil. Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), milhares de mineiros protestaram, na Praça da Liberdade, contra os países do Eixo, formado por Alemanha, Itália e Japão, quando navios brasileiros foram torpedeados no Oceano Atlântico.
Um dos momentos mais marcantes do Palácio da Liberdade foi o velório do ex-presidente Tancredo Neves (1910-1985), morto em 21 de abril de 1985. Houve comoção geral. A grade arrebentou, devido à pressão da multidão reunida na portas da sede do governo, e sete pessoas morreram. Na sacada do palácio, a viúva Risoleta Neves (1917-2003), com a voz embargada, pedia calma aos mineiros, apelo dramático para conter o povo aglomerado que queria se despedir do ex-presidente.
Mas a alegria também dominou a praça, que teve grandes celebrações: a posse do presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976), em 1951; a aclamação de Nossa Senhora da Piedade, em 1969, como padroeira dos mineiros; e, bem antes de todos esses fatos, lá em 1920, a recepção aos reis da Bélgica.
De acordo com o Iepha, a última obra de restauração começou em 2004 e terminou em dezembro de 2006. Conforme registro da instituição, "foi uma intervenção global, que assumiu caráter de restauração abrangente; a restauração da cobertura, estrutura complexa de madeira e metal, com claraboia de vidro, foi de grande importância, por sanar graves problemas de infiltrações que prejudicavam o prédio e seu acervo artístico".