Pacientes relatam sequelas após procedimentos com dentista

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Pacientes relatam sequelas após procedimentos com dentista

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Pacientes denunciam o cirurgião-dentista Fernando Lucas Rodrigues Alves por sequelas decorrentes de procedimentos estéticos feitos na clínica dele em Belo Horizonte. Até o momento, são cerca de 20 pessoas. O advogado Carlos Felipe Velloso representa sete delas. Mas, ele diz que com a repercussão do caso, foi procurado por outras duas vítimas, inclusive do interior e de outros estados.  


“Já fiz denúncias no CRO (Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais), ele está suspenso por 30 dias. E nesta semana vou procurar o MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) para que possa acompanhar o caso de perto”, afirma.

 

 



Velloso explica que todos os processos estão em fase inicial, aguardando a citação do dentista. “A PC (Polícia Civil) ainda não concluiu as investigações, como tudo é muito recente acredito que a polícia precisará de mais uns 30 dias para concluir o inquérito. Com a conclusão do inquérito é enviado para o MPMG e, posteriormente, será denunciado.”


Em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que há duas investigações envolvendo o dentista. “Em relação à denúncia de assédio contra o suspeito, a Polícia Civil esclarece que o homem, de 42 anos, é investigado por violação sexual mediante fraude, a qual encontra-se em andamento na Delegacia Especializada de Combate à Violência Sexual em Belo Horizonte.” A PCMG também instaurou inquérito para investigar a ocorrência registrada em 12 de abril, envolvendo uma mulher de 63 anos. “A PCMG esclarece que os procedimentos estão em andamento, inclusive com realização de oitivas. Com o avançar da investigação, outras informações serão divulgadas.”

 

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Na última terça-feira (16/7), a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica - Regional Minas Gerais fez uma denúncia contra o dentista, ao MP, por prática de exercício irregular da profissão.


Sequelas físicas e emocionais


A aposentada da Polícia Civil, Adriene Silva, de 59 anos, conta que fez cinco procedimentos no rosto de uma só vez. Ela queria fazer apenas um, mas foi convencida por ele a fazer os demais porque o pacote ficaria mais barato. Os procedimentos foram feitos em 5 de dezembro de 2023. 

 


Segundo a paciente, um dia após as intervenções observou que seu pescoço estava muito inchado, cheio de líquido. “Eles chamam isso de seroma.” Ela diz que entrou em contato com o dentista e foi orientada a fazer drenagem, com uma massoterapeuta indicada por ele. A profissional, porém, se recusou a fazer o procedimento por causa do excesso de líquido no pescoço. A aposentada então reclamou da situação com a enfermeira e, no dia da retirada dos pontos, foi feita uma punção, para drenar o líquido. 

 

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Adriene ressalta que o procedimento não foi feito pelo cirurgião-dentista e sim por uma enfermeira e outro profissional que a paciente não sabe se tem formação adequada. Ela precisou passar pelo procedimento de retirada do líquido por três vezes. 


A paciente teve fibrose no rosto e pescoço. “Fiquei com um problema nos olhos. Ficam como se tivesse areia dentro. O direito me incomoda na parte superior e o esquerdo na inferior. Além disso, apareceram duas aderências, que nada mais são do que dois buracos no meu rosto, desde o dia da cirurgia”, relata.

 

Ela conta que retornou ao consultório e o dentista disse que faria outros procedimentos para corrigir as sequelas, mas a aposentada não aceitou. “Sabe quando você não sente confiança na pessoa, ela não fala coisa com coisa. Ela não te deixa confortável nas respostas que te dá.” 


Antes de contratar o advogado, a aposentada disse que queria dar a chance do cirurgião-dentista reparar as sequelas. Mas depois da última consulta decidiu que tentaria a via judicial. “Ele não me passa segurança em nada.”


As sequelas deixaram marcas não apenas físicas. Adriene desenvolveu síndrome do pânico desde que precisou retirar o excesso de líquido no pescoço. “As sequelas emocionais são as piores”, desabafa. 


Ela não acredita que receberá indenização pelas lesões causadas pelos procedimentos. “Não tenho nem esperança de receber. Mas se ele for cassado já estou satisfeita. Ele não pode fazer com mais pessoas, o que fez conosco. Teve uma pessoa que morreu. Por essa pessoa que morreu, temos que lutar”, afirma.

 

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A bacharel em Direito e Psicanalista, Soraya Cury, fez uma cirurgia com o dentista em 2 de novembro do ano passado. “Quando a enfermeira me levou para fazer o preparo para a cirurgia, me pediu para tirar toda a roupa. Levei um susto e falei: a minha cirurgia não é de rosto, com sedação oral e numa cadeira de dentista?”, perguntou. A psicanalista teve que tirar as roupas íntimas também. Disse que estava se sentindo extremamente desconfortável, mas obedeceu. Depois da cirurgia, ela teve o nervo do lado direito do rosto rompido. 


“Já paguei o equivalente a cinco cirurgias dele em tratamentos. Fiz uma cirurgia corretiva recentemente. Melhorei muito a minha aparência, apesar de estar muito torta. Mas nem se compara a pessoa que eu era antes do dia 2 de novembro.” 


Ela pede que outros pacientes que também sofreram lesões provocadas por procedimentos feitos pelo dentista se juntem a eles. “Todos os lesionados têm o mesmo discurso. A brutalidade quando cobramos responsabilidade financeira, a chacota quando ficamos desorientados e impacientes e a forma cruel como trata alguém que já está lesionado. Ele vai abandonando essa pessoa para o descaso.” 


Defesa do cirurgião-dentista


A defesa do cirurgião-dentista Fernando Lucas Rodrigues Alves disse, em nota, que “em relação às eventuais alegações de cirurgias mal-sucedidas, é importante destacar que todo procedimento cirúrgico implica riscos inerentes, que são previamente comunicados aos pacientes, cuja ocorrência independe da conduta do profissional.


Ressalte-se que, em casos de fibrose, a conduta do paciente no pós-operatório é indispensável para que se tenha o melhor resultado, sendo de responsabilidade do paciente realizar as sessões de fisioterapia, bem como seguir as recomendações do profissional quanto a bons hábitos de saúde.”


A defesa diz ainda que o profissional “sempre priorizou a saúde e a segurança de seus pacientes, oferecendo um acompanhamento pós-operatório exemplar. Sua clínica é equipada com tecnologia de ponta, tanto para garantir os melhores resultados quanto para tratar eventuais intercorrências com eficiência, possuindo todas as autorizações necessárias para funcionamento.”


“Por fim, reafirmamos nosso compromisso com a ética e a transparência, valores que norteiam todas as nossas ações. Estamos à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos adicionais e reforçamos nosso compromisso com a excelência no atendimento e cuidado dos nossos pacientes.”