Água de vereda represada para sustentar pivôs centrais de irrigação em João Pinheiro: produtor relatou que áreas estavam sendo recuperadas -  (crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Água de vereda represada para sustentar pivôs centrais de irrigação em João Pinheiro: produtor relatou que áreas estavam sendo recuperadas

crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

 

Noroeste e Norte de Minas Gerais, trijunção Minas, Bahia e Goiás – Para os jagunços do romance “Grande sertão: veredas” (1956), a definição era fácil: um alagadiço de terra escura encharcada na turfa e cercado de buritizais era uma vereda. Pensando na separação da sua paixão impossível, Diadorim, o narrador personagem, Riobaldo, mencionou com simplicidade o ecossistema: “Dos brejos dos Gerais, sai uma vereda para o nascente e outra para o poente, riachinhos que se apartam de vez, mas correndo, claramente, na sombra de seus buritizais”. Décadas depois do lançamento da obra-prima de Guimarães Rosa, encontrar e definir essas formações que devem garantir vigor aos rios do cerrado já não é tão simples. Protegê-las, mais difícil ainda.

 


Pode parecer curioso, diante da clareza com que o sertanejo identifica esses oásis do sertão, mas um dos desafios do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) tem sido provar que vereda é vereda. E a definição é essencial para defender legalmente a formação que é patrimônio ambiental do estado. Na 10ª reportagem da série “Veredas mortas”, que se inspira no primeiro título proposto por Guimarães Rosa para sua obra maior, a equipe do Estado de Minas mostra a luta pela preservação desse ecossistema, por meio de ações civis públicas e inquéritos propostos por promotores e procuradores de Justiça em todo o estado.


Para a promotora Carolina Frare Lameirinha, coordenadora regional das Promotorias de Justiça do Meio Ambiente das Bacias dos Rios Paracatu, Urucuia e Abaeté, o avanço dos desmatadores sobre a vegetação nativa em sua sanha por mais áreas de cultivos se deve às frágeis definição e delimitação de áreas de veredas e de proteção permanente. “As veredas estão invisibilizadas. Não há um mapeamento seguro. Elas só 'existem' (legalmente) quando o produtor – muitas vezes quem as desmata – contrata um profissional para declarar a sua existência, mas isso dificilmente é conferido”, afirma a representante do MP.

 

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Segundo ela, o sistema do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF-MG) não consegue identificar todas as formações, seja por satélite, seja por terra. “Por isso, essas formações têm uma proteção abaixo do necessário. Se a vereda não for declarada, ela não existe”, afirma a promotora de Justiça. Um de seus projetos é unir esforços com o IEF-MG para conseguir um mapeamento mais sistematizado dessas áreas, por meio de investimento em tecnologia.