Conhecer pessoas por aplicativos de relacionamento é uma prática relativamente comum entre os brasileiros Uma pesquisa do PoderData em 2023 indicou que ao menos 22% da população já usou aplicativos de namoro.
Mas a prática exige alguns cuidados para não ser vítima de crimes. Escondidos atrás de um celular, alguns usuários podem usar os aplicativos para cometer crimes como estelionato e até mesmo homicídio. Em Minas Gerais, 28.972 casos de estelionato foram denunciados em 2024, de acordo com dados sobre crimes cibernéticos da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG).
A delegada Cinara da Rocha, coordenadora do 1º Departamento de Polícia Civil em Belo Horizonte, explica que, antes de marcar um encontro presencial, é importante conhecer bem a pessoa com quem se está conversando. “Primeiramente, aconselha-se conhecer melhor as pessoas antes de um encontro presencial, tentando manter as informações mais sensíveis resguardadas, como endereço, dados pessoais, rotina de vida”, orienta.
Uma das práticas criminosas nesses aplicativos é o estelionato. Nesses casos, os criminosos costumam se passar por outras pessoas com fotos falsas. Isso aconteceu com a cineasta francesa Yzabel Dzisky. A mulher foi entrevistada pela BBC e disse que se inscreveu em um aplicativo de namoro para pesquisa para um documentário. Mas viu a chance de encontrar um relacionamento.
No aplicativo, a cineasta conheceu um homem que intitulava-se cirurgião nos Estados Unidos, mas que tinha pretensões de se mudar para a França. Ao longo de conversas no chat e até mesmo por vídeo, Yzabel começou a se apaixonar.
Um dia, o homem disse que estava fazendo uma viagem e precisava de dinheiro pois o cartão de crédito não estava passava na máquina. "Ele me ligou dizendo que estava em Xangai para comprar equipamentos médicos. Contou que seu cartão de crédito não estava funcionando e pediu minha ajuda — queria que eu lhe enviasse 3 mil euros (R$ 18 mil)", explica a mulher.
Depois do pedido, o homem disse que iria visitá-la na França. Yzabel Dzisky ficou desconfiada, mas decidiu enviar 200 euros (R$ 1,2 mil) por meio de uma plataforma de transferência de dinheiro internacional. "Não sei por que fiz isso — pensei que talvez os cartões de crédito emitidos na Turquia tivessem problemas lá. Ele me agradeceu e me mostrou sua passagem de avião de Xangai para Paris. Estaria aqui em três dias", conta.
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O homem, no entanto, nunca apareceu. Yzabel Dzisky descobriu as mentiras e percebeu que tinha caído em um golpe. O homem usava fotos de uma pessoa real e manipulava vídeos por meio de inteligência artificial nas chamadas.
Para conhecer melhor a pessoa com quem está conversando, o ideal é fazer muitas perguntas. Outra dica é conversar com amigos sobre a pessoa. Uma segunda opinião pode ajudar a eliminar dúvidas e identificar problemas.
Para marcar um encontro presencial, a delegada Cinara da Rocha sugere optar por lugares públicos, como shoppings, restaurantes, cafés e praças. “São locais que já oferecem segurança por si só e, em grande parte, contam com monitoramento eletrônico”, detalha.
Mesmo achando que conhece aquela pessoa do aplicativo, os riscos do encontro presencial ainda existem. Em junho do ano passado, um empresário, de 34 anos, foi encontrado morto no próprio apartamento após marcar um encontro por aplicativo de relacionamento, em Vitória (ES).
Um ano depois, em junho de 2024, um outro caso parecido aconteceu em São Paulo, capital. Um rapaz de 24 anos foi baleado depois de marcar um encontro também por aplicativo.
Outra dica da delegada responsável pelo 1º Departamento de Polícia Civil em Belo Horizonte é compartilhar a localização com uma pessoa próxima. “Se, durante o encontro, houver alguma situação suspeita, a recomendação é de que seja feito o acionamento imediato das autoridades policiais, por meio do 190”, explica Cinara da Rocha.
“Seguindo essas dicas, é possível evitar crimes como estelionato, roubo, latrocínio, importunação sexual, estupro, extorsão mediante sequestro e até homicídio”, finaliza Rocha.