Pacientes perderam a voz depois de câncer de laringe -  (crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A.Press)

Pacientes perderam a voz depois de câncer de laringe

crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A.Press

Na manhã desta terça-feira (23/7), dois pacientes com histórias de vida e idades distintas deram o primeiro passo em direção ao sonho de recuperar a capacidade de falar depois da luta contra o câncer. Eles foram contemplados com laringes eletrônicas entregues pelo Hospital da Baleia, localizado na Região Leste de BH. A entrega, realizada na unidade dedicada ao tratamento de pacientes oncológicos, contou com a apresentação de um coral do Instituto Mário Penna, formado por pacientes laringectomizados —que fizeram a remoção total da laringe— e utilizam o aparelho.

 


Os pacientes, assistidos pelo Instituto Mário Penna, perderam a voz por causa de um câncer de laringe, lesão que, em estágio avançado, implica na remoção cirúrgica de todo o órgão e das cordas vocais. “Nesse caso, é necessário buscar uma forma de reabilitação para que esses pacientes possam voltar a falar. É um novo momento de aprendizagem da fala", explica a fonoaudióloga Ana Cláudia Lima, do Hospital da Baleia, ao Estado de Minas. As principais alternativas para a reabilitação da comunicação são: a voz esofágica, a prótese fonatória e a laringe eletrônica.


Antes, os pacientes se comunicavam pela escrita ou por gestos. "Dar um recurso mais real para eles é muito melhor. Hoje, todos os nossos pacientes que fizeram a laringectomia total estão recebendo a laringe eletrônica”, afirma Lima. A distribuição é feita gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que desde 2018 incluiu o equipamento na lista de opções terapêuticas do sistema público de saúde. A distribuição contínua do equipamento em Minas Gerais, no entanto, só começou em julho do ano passado com o Hospital Alberto Cavalcanti, na Região Noroeste de Belo Horizonte. 

 


Desde então, a fila de espera para a entrega das laringes eletrônicas no Hospital da Baleia foi zerada. Na rede particular, o custo médio do equipamento é de R$ 3 mil. “É um valor de difícil acesso para muitas pessoas, então essa entrega gratuita é essencial. Hoje, quando um paciente faz a cirurgia para retirada da laringe, conseguimos programar a entrega da laringe eletrônica”, destaca a fonoaudióloga. 

 


Retorno da voz

 

O retorno da voz, ainda que seja eletrônica, é uma reintegração social para os pacientes, já fragilizados pelo medo de não conseguir se comunicar. “É um processo que envolve explicação e treinamento, pois não é simplesmente pegar o dispositivo e sair usando", explica. Um dos pacientes do Mário Penna é o aposentado Nilton Eustáquio, de 74 anos, que ficou dois anos sem falar depois de tratar um câncer no pescoço em 2017. “Me comunicava, basicamente, com minha filha para que ela passasse aos outros o que eu dizia. Com a laringe eletrônica, voltei a ter autonomia, graças a Deus”, comentou.


O aparelho portátil, com baterias recarregáveis, emite ondas sonoras contínuas ao encostar na pele e reproduz a voz eletronicamente. A reabilitação envolve ainda a adaptação da laringe eletrônica ao paciente. "Cada paciente tem uma musculatura diferente, então é um processo individual. O equipamento é adaptado ao pescoço ou à bochecha do paciente, e a fonoaudióloga é responsável por essa reabilitação. É um processo que envolve explicação e treinamento, pois não é simplesmente pegar o dispositivo e sair usando", destaca.

 

O trabalho, desde o pré-operatório, é feito por em equipe multidisciplinar, incluindo médicos, fonoaudiólogos, nutricionistas, assistentes sociais e psicólogos.


Julho Verde

 

A ação desta terça-feira (23/4) integra o Julho Verde, mês de conscientização sobre o câncer de cabeça e pescoço, que, além do tumor na laringe, engloba carcinomas na boca, na língua, no palato, na orofaringe e na pele. Os sintomas do câncer de laringe incluem rouquidão persistente, tosse e, às vezes, engasgos. "A rouquidão que não melhora após uma semana ou duas pode ser um sinal de câncer de laringe. Qualquer sintoma persistente na região da cabeça e do pescoço deve ser investigado. Uma pinta que não desaparece e uma lesão que não cicatriza são sinais de alerta. Se esses sintomas persistirem por mais de 15 dias, é crucial procurar um profissional de saúde", aconselha a fonoaudióloga do Hospital da Baleia.


O tabaco e o álcool estão entre as principais causas do câncer de laringe. Quem fuma, aumenta em dez vezes as chances de desenvolver a doença. Quando há a associação entre o fumo e bebidas alcoólicas, a possibilidade de incidência desse tipo de câncer salta para 43 vezes, segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. "Muitas vezes, pacientes que não fumam nem bebem podem desenvolver câncer de laringe devido à exposição à fumaça, como a do fogão a lenha. É importante estar atento a esses fatores de risco", alerta Ana Claudia.

 

 

O diagnóstico precoce, assim como em outros casos de tumores malignos, é essencial para o tratamento e a cura. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), anualmente, ocorrem cerca de 40 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço no Brasil. Para este ano, estão previstos quase 8 mil novos casos de câncer de laringe no país. "Isso é muito significativo, pois quanto mais cedo o diagnóstico, maiores são as chances de cura. Infelizmente, 70% dos casos são diagnosticados tardiamente, o que resulta em um prognóstico muito pior. Por isso, campanhas de conscientização como o 'Julho Verde' são tão importantes", conclui a fonoaudióloga.