Igreja da Boa Viagem, na Rua Sergipe, 175, no Centro de BH, é oficialmente o Marco Zero da capital
       -  (crédito:  Gladyston Rodrigues/EM)

Igreja da Boa Viagem, na Rua Sergipe, 175, no Centro de BH, é oficialmente o Marco Zero da capital

crédito: Gladyston Rodrigues/EM


A Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, no Santuário Arquidiocesano da Santíssima Eucaristia, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, foi reconhecida oficialmente como o Marco Zero da capital mineira, de acordo com a Lei 11.724 sancionada pelo prefeito Fuad Noman (PSD) e publicada ontem no Diário Oficial do Município (DOM). Com isso, o local passa a ser considerado o 'ponto de origem' da cidade com as coordenadas: 19º 55' 43" S 43º 56' 06" O.


O projeto foi aprovado pela Câmara de Belo Horizonte (CMBH) por unanimidade em abril deste ano. A justificativa do texto é de que o primeiro homem a chegar ao que seria a atual capital mineira, o fazendeiro português Francisco Homem del-Rei, trouxe consigo uma imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem e construiu uma capela em sua homenagem, ainda no século 18.


 

"O Marco Zero de um município representa seu 'sítio originário'. Seria o seu 'ponto de origem' e expressa, para além da importância do local propriamente dito, o valor simbólico de onde iniciou a municipalidade. [...] O local onde se encontra edificada a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem [...] representa um museu vivo da história da cidade", diz um trecho da justificativa.

 

Hoje, a catedral é uma das mais importantes de BH e, devido ao seu valor histórico, artístico, cultural e religioso, o marco foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) em 1977 por meio do Decreto 18.531. O conjunto paisagístico e arquitetônico é composto pela nave, a capela São Pedro Julião Eymard, a casa paroquial e o alojamento da adoração noturna.


História


Foto em preto e branco da Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem

Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem completou cem anos em dezembro de 2023

Arquivo EM

 

A história da igreja, com seus três séculos, se entrelaça com a da própria Belo Horizonte. Francisco Homem del Rei se instalou em um curral e uma de suas primeiras ações foi construir uma capela de pau a pique para abrigar a santa, padroeira dos viajantes.

 

Em 1701, o bandeirante João Leite da Silva Ortiz construiu a Fazenda do Cercado, que se tornou um ponto de parada de viajantes que por ali passavam em direção às minas de ouro e pedras preciosas. Assim surgiu o povoado que foi batizado de Curral del Rei.

 

De uma população inicial de 30 ou 40 famílias, o número de habitantes saltou para 18 mil. Com o passar tempo, cada vez mais fiéis visitavam a capela de Nossa Senhora da Boa Viagem, mostrando a necessidade de uma estrutura maior e levando os devotos a erguerem a Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem, em estilo barroco, no centro do arraial. Em 1750, por Ordem Régia, foi criado o distrito chamado Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral del Rey.


 

Em 1891, o então presidente do Estado, Augusto de Lima, determinou a transferência da capital para o distrito que prosperava, deixando a cargo do arquiteto e urbanista Aarão Reis o planejamento e construção da nova cidade. Belo Horizonte foi inaugurada no dia 12 de dezembro de 1897.

 

Com a construção da capital houve a necessidade de se erguer uma nova igreja. Em 1914, a antiga igreja foi demolida para dar lugar à construção de uma nova matriz, a atual Catedral de Boa Viagem, inaugurada em 8 de dezembro de 1923. Em 1932, o título de padroeira da capital mineira foi oficializado pelo papa Pio XII, a pedido do cardeal dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota.


Na foto, a padroeira no altar dos tempo de Curral del-Rei

Nossa Senhora da Boa Viagem é a padroeira de Belo Horizonte

Gladyston Rodrigues/EM

 

Arquitetura 

A Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem foi construída no estilo neogótico com cerca de 100 pináculos (pequenas torres). Sua estrutura foi pensada para representar duas mãos unidas em oração e tem como objetivo levar o olhar do visitante para o alto, uma vez que Deus se encontra no céu acima dos fiéis.

 

O local abriga a imagem original da padroeira dos belo-horizontinos, vitrais laterais com 10 metros de altura e um lavabo em pedra-sabão, de 1793. Além disso, mantém o Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua, aberto 24 horas por dia para a visita de devotos cadastrados. O conjunto é tombado pelo Iepha e o lavatório, que fica em um dos corredores laterais externos, protegido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

 

Hoje, sua fachada exibe tons de bege, mas nem sempre foi assim. As cores originais foram descobertas no interior da igreja, sob sete camadas de tinta, em prospecções feitas por especialistas: azul, que remete à abóbada celeste e à Virgem Maria, e o amarelo ocre no tom do trigo, símbolo da eucaristia.


 

Outros marcos

Pelo menos outros dois locais também foram considerados Marco Zero não oficiais de Belo Horizonte. O Obelisco da Praça Sete, apelidado de “Pirulito”, que fica em um dos principais e mais antigos cruzamentos da cidade, é um deles.

 

O monumento teve sua pedra fundamental lançada em 7 de setembro de 1922 e foi inaugurado em 7 de setembro de 1924. Ele foi construído em uma pedreira de Betim a pedido do então presidente do estado, Raul Soares. O motivo era a comemoração do centenário da Independência do Brasil.

 

Por isso, o nome Praça Sete de Setembro. Já a Praça da Estação é considerada como o marco zero geográfico, uma vez que todo o material para a construção da nova capital chegava por ali.