A exemplo do primeiro dia, a família de Hamilton, amigos e sindicalistas chegaram cedo; 16 testemunhas ainda serão ouvidas -  (crédito: TJMG)

A exemplo do primeiro dia, a família de Hamilton, amigos e sindicalistas chegaram cedo; 16 testemunhas ainda serão ouvidas

crédito: TJMG

O julgamento dos sete acusados do assassinato do sindicalista e vereador de Funilândia, Hamilton Dias de Moura, ocorrido numa emboscada, em Belo Horizonte, no dia 21 de julho de 2020, foi retomado. Neste segundo dia, os trabalhos tiveram início às 8h30 desta terça (30). A expectativa da juíza Myrna Souto, do 1º Tribunal do Júri de Minas Gerais, é que o julgamento será demorado, seguindo até sexta-feira (2/8).


A exemplo do primeiro dia, a família de Hamilton, amigos e sindicalistas chegaram cedo, por volta de 7h, ao Fórum Lafayette, unidade da Avenida Raja Gabaglia, no Bairro Luxemburgo. Eles tiveram permissão da juíza para acompanhar o julgamento.


 

Na segunda-feira (29/7), primeiro dia do julgamento, seis testemunhas foram ouvidas. Três foram dispensadas. No total, foram 10 horas de julgamento.


No total, 25 testemunhas foram relacionadas e restam 16. Dessas, apenas uma é de acusação, que será a última ser ouvida. De acordo com o cronograma, primeiro são ouvidas as testemunhas dos réus. Segundo a juíza, não se pode precisar quantas testemunhas serão ouvidas nesta terça-feira. 


O assassinato e os réus


Hamilton foi morto numa emboscada. De acordo com a denúncia, no dia 23 de julho de 2020, por volta do meio-dia, a vítima foi atraída para a Rua Quilombo, altura do n° 201, bairro Vista Alegre, em Belo Horizonte, sob pretexto de negociar um lote. Quando chegou ao local, foi atingida por disparos de arma de fogo ainda dentro do veículo, que causaram sua morte. 


Estão sendo julgados o mentor do assassinato, o ex-vereador de Belo Horizonte, Ronaldo Batista de Morais, e integrantes do grupo assassino, Antônio Carlos Cezário, Thiago Ribeiro de Miranda, Leandro Félix Viçoso, Fernando Saliba Araújo, Débora Caetano Félix Aragão e Filipe Santos Viçoso.


Dois réus já foram julgados, Felipe Vicente de Moura e Thiago Viçoso de Castro. Conforme denúncia do Ministério Público, o policial militar Felipe Vicente foi responsável por organizar a execução do crime.


Ele foi foi condenado pelo Tribunal do Júri da 1ª Presidência de Belo Horizonte, em outubro do ano passado, a 17 anos de prisão, em regime fechado, pela participação no homicídio duplamente qualificado. Em função de um acordo de delação premiada com o Ministério Público, a pena foi reduzida para 10 anos de prisão.


Já Thiago Viçoso de Castro foi absolvido das acusações de participação na organização criminosa e de adulteração da arma utilizada no crime. Mas foi condenado a três meses de detenção pelo crime de fraude processual, e mais quatro anos de reclusão pelo crime de posse ilegal de armas.

 


Apoio


Ailton Dias de Moura, irmão de Hamilton, conta que a família está unida em torno do julgamento e que quer apenas que seja feita justiça. “Não pensamos em vingança, não, jamais. Só queremos que seja feita justiça e que os assassinos do meu irmão sejam condenados”.


Ele conta que toda a família - grande parte mora no interior, em Funilândia - está em Belo Horizonte para acompanhar o julgamento. “Nós nos juntamos, todos, que moramos aqui, para hospedar nossa família. Estão divididos na minha casa, na de irmãos, de primos e primas. Todos vieram para acompanhar o julgamento.”

 

Segundo ele, a dor de perder o irmão uniu ainda mais a família. “Nada trará o Hamilton de volta. O julgamento está sendo bem conduzido. E o mais importante é que a morte dele não nos calou. Ele era negro e sindicalista e lutava pelos direitos do trabalhador. Seguimos nessa luta.”


A única pessoa ausente, segundo Ailton, é sua mãe, Amélia, que tem 92 anos.  “Minha mãe foi quem nos segurou, nos apoiou e nos deu segurança esse tempo todo. Ele demonstrou resiliência. Sofre muito, mas nos ajuda a sermos fortes. Ela não quis vir ao julgamento. Está em casa, em oração”.

 

 

Relembre o caso

Hamilton era presidente do sindicato dos Motoristas e Empregados em Empresas de Transporte de Cargas, Logística em Transporte e Diferenciados de Belo Horizonte e Região (Simeclodif). Já Ronaldo comandava a Federação dos Trabalhadores de Transporte Rodoviário de Minas Gerais (Fettrominas) e, até 2018, esteve à frente do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belo Horizonte e Região (STTRBH).

 

Moura e Batista chegaram a ser aliados, mas romperam relações em 2010. A vítima então criou um sindicato à parte, que enfraqueceu o STTRBH. Nesse sentido, a arrecadação da instituição foi muito impactada. A vítima também patrocinava ações judiciais contra o rival, que resultaram em bloqueios de bens no valor aproximado de R$ 6 milhões.



Os processos eram movidos por sindicalistas, cujos advogados eram pagos por Hamilton. As ações reivindicavam ressarcimentos e indenizações por supostos desvios de verba e má gestão de recursos do STTRBH.

 

A última condenação judicial de Batista, que determinou o bloqueio de R$ 500 mil em bens do vereador, data de 9 de julho. O assassinato do parlamentar de Funilândia ocorreu 14 dias depois.