O ex-vereador de Belo Horizonte Wellington Magalhães está sendo acusado pela ex-esposa de agressão. Kelly Jaqueline Maciel Pinto afirma que o ex-presidente da Câmara Municipal lhe deu socos e empurrões em abril deste ano.
Os dois estão divorciados há seis anos, mas desde setembro do ano passado estariam morando na mesma casa. O convívio permaneceu até a data do suposta agressão. Os mandatos de Magalhães e seus direitos políticos foram cassados em novembro de 2019 por improbidade administrativa, tráfico de influência, ameaça a outros vereadores, abuso de prerrogativa e por prestar falsa declaração às autoridades.
Ao Estado de Minas, Kelly afirma que, durante uma discussão sobre uso de um carro alugado, Magalhães a agrediu. Seu atual companheiro relata que, apesar da separação, em setembro do ano passado os dois decidiram morar na mesma casa, com a condição de que o ex-vereador sairia do imóvel. No entanto, depois de sete meses Wellington continuou morando no local.
Em uma conversa entre os dois, gravada por Kelly e enviada à reportagem, o ex-parlamentar pede à ex-companheira a chave de um carro. Ao receber como resposta que o veículo só seria entregue após a retirada dos documentos da mulher do cadastro do aluguel, Magalhães começa a gritar e pega o celular de Kelly. Ao ser confrontado para entregar o aparelho, o ex-vereador bate em alguma coisa e manda a mulher sair de perto.
Em um dos áudios, o filho do casal, de 14 anos, é chamado pela mãe para tentar pegar o celular, mas não consegue e é possível ouvi-lo pedindo ao pai para 'parar'. Em seguida, ainda conforme à gravação enviada à reportagem, o ex-vereador parece que joga o aparelho no chão. O jovem então pede que o pai se acalme, o que também não acontece.
“Eu vou ligar para a polícia. Ele me deu um soco”, diz Kelly. Em seguida, Wellington Magalhães nega o fato e diz que a companheira pode ligar para as autoridades.
“Que te dei um soco, ‘sô’. Me dá a chave do meu carro. Você quer me peitar? Então você me peita. Você nem entra aqui mais. Some daqui. Some daqui. Só isso que eu ‘tô’ te avisando. Vai para a sua casa. Eu não tenho conversa com você, não. Não converso com put* não”, diz o homem.
Ao mandar a ex-esposa embora, Wellington afirma que a filha do casal não será levada pela mãe. Nos áudios, o homem afirma que, caso isso aconteça, irá “picar” Kelly. “Quero ver você levar ela. Leva ela que eu vou te mostrar quem eu sou. Pode me pôr na cadeia. Leva ela, que eu te cato lá. Eu pico você toda. Eu sou pai dela. Me peita. Você não some daqui não para você ver. Você vai ver se eu ‘tô’ brincando”.
Desde o fato, um boletim de ocorrência foi registrado e um pedido de medida protetiva protocolado na Justiça. Conforme decisão do 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Belo Horizonte, de 16 de abril deste ano, enquanto houver “risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral” de Kelly e de seus filhos, Wellington Magalhães deverá ficar afastado de qualquer local de “convivência” que tenha com a ex-esposa. Além disso, a medida protetiva inclui que o homem está proibido de se aproximar a menos de 200 metros de distância e de entrar em contato com a vítima, seja por celular, mensagens ou redes sociais.
Ao Estado de Minas, Mateus dos Santos, atual namorado de Kelly, afirma que, apesar do pedido de distanciamento, o ex-vereador tem ficado em um bar, próximo a casa da mãe da companheira. “Ele fica lá afrontando quando a gente passa”.
Impedida de sair de casa
Em outro áudio, também gravado pela ex-esposa de Wellington Magalhães, ela discute com o filho, que a pede para não sair de casa no dia 17 de abril, dois dias depois da ocorrência de agressão. Segundo a mulher, o ex-marido não estava permitindo que ela fosse para a casa da mãe e levasse a filha do casal, de 7 anos, diagnosticada com espectro autista.
Na gravação, a mulher liga para a Polícia Militar pedindo que uma viatura fosse até o local. Enquanto explicava a situação ao atendente, Magalhães diz que vai ligar para o “capitão”. “Vou chamar o capitão aqui agora. Eu tô armado para você também. O capitão, deixa eu te falar, minha ex-mulher tá falando aqui que eu não tô deixando ela sair. Não tem nada a ver. Só falar que é mentira, entendeu. É, chamou aqui. Chegou ainda não, chamou agora. E o portão tá aberto aqui. Obrigado ai capitão”.
De acordo com o boletim de ocorrência, Kelly explica que a discussão do dia começou depois que ela chegou com a filha de uma festa infantil. Em depoimento, a mulher afirma que na ocasião pediu ao seu filho para que ela e a filha dormissem no seu quarto, o que foi negado. Por não se sentir segura no imóvel, enquanto o ex-marido estivesse lá, ela afirmou que iria para a casa da irmã com os filhos.
No dia seguinte, em 18 de abril, Wellington Magalhães registrou um boletim de ocorrência informando sobre os fatos. A respeito do registrado no dia 15 de abril, o ex-vereador afirmou, em depoimento, que não agrediu a mulher e a acusou de ter atirado a chave de um carro no seu rosto.
Conforme o solicitante, o episódio se tratou de “uma pequena discussão”. Na data do registro, o homem afirmou que foi surpreendido por uma funcionária afirmando que levaria as roupas da ex-esposa para a casa da mãe dela, o que foi “prontamente atendido”.
“Após todo o ocorrido, ele achou conveniente acionar a PM para registrar o fato e resguardar-se de qualquer inconveniente futuro”, finaliza o documento.
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que instaurou os respectivos inquéritos policiais para apurar os fatos denunciados. Ambos procedimentos foram concluídos e encaminhados ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para análise quanto à conveniência para o oferecimento ou não da denúncia.
Por meio nota, os advogados de Wellington Magalhães manifestaram sua “imensa tristeza” pela divulgação de informações que envolvem sua vida particular e que transitam sob sigilo judicial. Sobre as acusações feitas pela ex-esposa, ele diz serem informações falsas, com o objetivo de “denegrir sua imagem”.
Confira a nota da defesa de Wellington Magalhães na íntegra
"WELLINGTON GONÇALVES DE MAGALHÃES, através da sua advogada, Dra. Micheline Abreu Peixoto, esclarece que, sobre entrevista gravada pela sua ex-mulher a Sra. Kelly Jaqueline Maciel, da qual aborda questões processuais que correm sob sigilo judicial, manifesta sua imensa tristeza em tornar público fatos que envolvem sua vida particular e, em via de consequência, sua exposição e de seus filhos, ainda menores.
O ex-casal está divorciado há quase 6 (seis) anos sem qualquer desgaste pessoal entre ambos, tendo em vista que todas as decisões judiciais já proferidas vem sendo cumpridas e não compreende a sua postura em divulgar fatos, inclusive lhe imputando falsas acusações.
Entende-se que tal postura tem o intuito de, além da tentativa em denegrir a sua imagem, usa de subterfúgio para tentar alterar questões judiciais que já não cabem mais recursos.
Ressalta-se que, diferentemente da Sra. Kelly, não adentrará aos fatos para preservar sua imagem e, principalmente, de seus filhos.
Ademais, relata que vem sofrendo ataques injuriosos, difamatórios e ameaçadores, via redes sociais, promovidos pela a Sra. Kelly e seu atual companheiro e que já estão sendo tomadas todas as medidas processuais cabíveis"
Quem é Wellington Magalhães?
Wellington Magalhães foi vereador de Belo Horizonte entre 2005 e 2019 e ocupou a Presidência da Câmara Municipal de Belo Horizonte no período entre 2015 e 2016.
Durante seu quarto mandato, ele foi apontado como suposto líder de um esquema de manipulação de licitações e contratos de publicidade para favorecer determinadas empresas em troca de vantagens financeiras. As acusações incluíam corrupção ativa e passiva, além de lavagem de dinheiro.
As investigações do Ministério Público de Minas Gerais, iniciadas em 2016, revelaram que Magalhães teria se beneficiado de contratos superfaturados e utilizado empresas de fachada para desviar recursos públicos, causando um prejuízo estimado em R$ 30 milhões aos cofres públicos.
Ele foi preso em 2018 e novamente em 2019, quando teve seu mandato cassado pela Câmara Municipal devido às acusações de corrupção, mas foi posteriormente solto por decisão judicial. Na mesma época, sua então esposa, Kelly Magalhães, também foi presa e investigada.
Em 2020, Wellington Magalhães foi indiciado pela Polícia Federal por omissão de R$ 2,6 milhões à Justiça Eleitoral nas eleições de 2016. A investigação também identificou enriquecimento ilícito e desvio de verba pública.
Dois anos depois, ele foi condenado a 31 anos de prisão em regime fechado por lavagem de dinheiro, relacionada à compra de imóveis, veículos e viagens internacionais. Apesar da sentença, não foi determinada prisão preventiva, mas houve o confisco e perda dos bens adquiridos de forma ilícita.
No ano passado, a Justiça determinou o bloqueio de bens de Magalhães devido ao uso de funcionários da Câmara para serviços particulares e por contratos fraudulentos durante seu mandato como presidente da Câmara. (Colaborou Silvia Pires)