Moradores do Bairro Esplanada, na Região Leste de Belo Horizonte, criaram uma horta urbana e comunitária em uma área entre duas escadaria coloridas. Por causa da localização, a horta foi batizada de 'Escadão agroecológico'. A iniciativa surgiu em outubro de 2018 e está localizada na Rua Tulipa.


Fabrício Ripeto, técnico em agroecologia e morador que contribui com a manutenção da horta, diz que o projeto surgiu depois da troca de mudas e sementes entre moradores da região. Ele conta que, no início, a ideia era plantar legumes e vegetais para consumo, mas não deu certo porque pessoas que ali passavam colhiam antes da hora adequada. 

 




Por isso, os moradores começaram a produzir plantas alimentícias não convencionais (Pancs). Para a manutenção da plantação, o trabalho é colaborativo. Os organizadores do projeto, como Fabrício, promovem também “mutirões” para limpeza, preparação do solo e plantio.


“Hoje o escadão é mais uma área educativa, por essa questão de ter o solo permeável para a entrada da água, a reciclagem da matéria orgânica, a conscientização de plantar além de árvores, e ter o contato com a terra”, especialmente porque o projeto acontece em um espaço urbano, diz Fabrício.


Além disso, o morador conta que o escadão tem sido ponto de encontro para outros eventos culturais e que promovem a agroecologia, como feiras e festas. No pé da escadaria, a presença de um bar também ajudou a popularizar a ocupação daquele pedaço de rua no Bairro Esplanada.

 


Fabrício destaca também a importância pessoal que o projeto do escadão teve em sua vida. “Eu tive que fazer uma transição de carreira, antes eu trabalhava com departamento pessoal e, em seguida, cervejaria.  Eu estava procurando uma outra carreira. Hoje, eu trabalho com produção de orgânicos e jardinagem”, diz. 


Agroecologia


“A agroecologia é uma ciência, uma manifestação social e uma prática de saber popular”, define Darklane Rodrigues, subsecretária de Segurança Alimentar e Nutricional da Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania (SMASAC). 


Ela explica que a dimensão científica dessa prática está ligada ao estudo da forma de produção sustentável e ecológica, uma vez que a agroecologia pressupõe a plantação sem o uso de agroquímicos, a utilização de técnicas de manejo que respeitem a natureza e a produção de alimentos em pequena, média ou grande escala. 

 


Quanto ao âmbito social e popular, Darklane diz que a agroecologia promove e incentiva o relacionamento entre pessoas e destaca como essa prática, apesar de estar ligada a ciência, não desconsidera saberes populares, afinal, algumas das técnicas usadas são milenares e tradicionais. 


Agroecologia em BH


Em Belo Horizonte, são cerca de 120 mil metros quadrados de área cultivada com práticas agroecológicas, de acordo com a secretária. São 58 terrenos públicos com produção de alimentos a partir desse modelo. Dentre esse total, Darklane diz que “temos 10 agroflorestas urbanas, um sistema de produção de alimentos em conjunto com árvores de médio e grande porte. O que consorcia a produção com a contribuição para melhoria do clima e questões relacionadas à captação da água”. A capital mineira também conta com cinco Centros de Vivência Agroecológica (Cevae). 


Quanto às ações de incentivo à aprendizagem acerca da agroecologia, Darklane conta que a capital mineira tem 211 unidades escolares e institucionais para promover o diálogo com trabalhadores, comunidades e estudantes. Nas escolas, por exemplo, são cultivadas hortas para conversar com as crianças sobre questões como a origem dos alimentos e porque eles são importantes. Centros de Referência de Assistência Social e Centros de saúde são instituições que também recebem esse tipo de ação. 

 


A PBH também promove, semestralmente desde 2018, a Trilha da Agroecologia, curso para formar agentes multiplicadores dos fundamentos, princípios e práticas da agroecologia. São abordados temas como manejo agroecológico de agroecossistemas, sistemas agroflorestais, plantas alimentícias tradicionais e não convencionais, plantas medicinais e da ancestralidade, compostagem, gestão de resíduos e entre outros.


Serviço


As inscrições para o curso “Trilha da Agroecologia” do segundo semestre de 2024 estão abertas. A formação é gratuita e as pessoas interessadas podem realizar as inscrições até 18 de julho. O formulário de inscrição está disponível no Portal da PBH.  Para participar é necessário ter mais de 18 anos e não ter cursado a trilha anteriormente. São disponibilizadas 70 vagas. 


Os encontros iniciarão nos dias 5 e 7 de agosto nos turnos da manhã e tarde, de forma presencial. As aulas são ministradas por formadores técnicos da prefeitura e outras instituições, especialistas e mestres de saberes tradicionais e atores sociais de organizações agroecológicas da capital e região metropolitana. O plano pedagógico é estruturado com metodologias participativas em 12 encontros com carga horária de 48 horas, e visitas com atividades práticas em territórios que são referências em agroecologia.

 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Humberto Santos

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