Moradores denunciam a queima de ipês na Avenida dos Andradas, no Bairro Horto, na Região Leste de Belo Horizonte. De acordo com a denúncia, pessoas em situação de ruas estão colocando fogo em materiais próximo às árvores e as chamas estão atingindo os ipês. A reportagem do Estado de Minas foi até a via, nessa terça-feira (9), e constatou que o problema também afeta outras espécies de árvores.

 

Em um um trecho de cerca de 500 metros da avenida, a partir do número 5.400 até a esquina com Avenida Silviano Brandão, foi possível observar troncos, galhos e folhas queimadas, além de mato alto e muita sujeira por toda a área.

 

De acordo com o aposentado e morador da região há mais de 20 anos José Maria dos Santos, de 72 anos,  o problema na avenida se intensificou nos últimos dois anos. “Eles sempre estão pondo fogo nesses entulhos que eles carregam. Isso pega nas árvores, não nasce nem capim mais neste lugar”, destaca.

 

 



 

O aposentado, que faz caminhada todos os dias na Avenida dos Andradas, também relata que o lixo espalhado pelas pessoas em situação de rua atrapalha quem se exercita na região. “Acho que tinha que ser mais fiscalizado aqui. Isso fica uma imundice e insuportável”, opina.

 

Aposentado José Maria dos Santos, de 72 anos

Edésio Ferreira/EM/D.A.Press

 


O produtor de eventos Gabriel Silva, de 34 anos, que mora na região há cinco anos, também reclama das queimadas realizadas no local. “Isso é direto. Tem muito morador de rua que fica próximo do rio e fazem essas queimadas e acaba botando fogo em tudo que está em volta. Eles nem sabem o que estão queimando e prejudicam os ipês da avenida”, desabafa. Para ele, o problema é causado pelas queimas de fios de cobre. “Aqui é um local muito ermo. Eles vão, colocam fogo e não estão nem aí para nada. Todo lugar pela Andradas você encontra isso”, diz.

 

 

Produtor de eventos Gabriel Silva, de 34 anos

Edésio Ferreira/EM/D.A.Press

 

De acordo com o professor de fisiologia vegetal Marcel Giovanni, o dano causado nas árvores pelo fogo é reversível. “Acabado o fogo, se não danificou o sistema radicular, a tendência é a árvore brotar novamente”, explica. Ainda segundo o professor, o manejo das áreas verdes e urbanização é responsabilidade da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). 

 

A PBH alega que tem o conhecimento do problema na região e realiza abordagens nos ferros-velhos da Avenida dos Andradas. Ainda segundo o órgão, uma ação para coibir a venda irregular de metais foi realizada nessa terça-feira (09/07) com apoio das equipes da Guarda Civil Municipal, de fiscais da Subsecretaria de Fiscalização, em parceria com a Polícia Militar. “O local é monitorado frequentemente para coibir a prática dessas irregularidades. A operação também foi realizada nos bairros Floresta, Santa Tereza, Concórdia e Sagrada Família para verificar a procedência dos materiais”, informou a prefeitura, por meio de nota.


 

Ipê queimado na Avenida dos Andradas

Edésio Ferreira/EM/D.A.Press
 

Clima e Ipês

 

Os ipês, que sempre colorem a cidade na passagem do outono para o inverno, atrasaram este ano e ainda não floresceram em Belo Horizonte. Em anos anteriores, julho já iniciava com exemplares de várias cores exibindo suas flores, mas, desta vez, apenas alguns poucos ipês-roxos perderam a timidez e mostraram toda a sua beleza.

 

A causa para esta demora no florescimento dos ipês está ligada à onda de calor que Belo Horizonte enfrenta desde o começo do ano, explica Edinilson Santos, engenheiro florestal da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

 

Segundo o especialista, o descontrole climático nas grandes cidades tem sido cada vez mais intenso e isso tende a alterar os ciclos das árvores, como a polinização e a floração. "Os ipês demorarem a florescer não é o fim do mundo, mas pode ser visto como um sinal de mudanças climáticas", aponta.

 

Nove espécies de ipês na capital


Belo Horizonte tem quase 29 mil ipês, segundo dados mais recentes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. São árvores de 9 espécies diferentes, com origens de várias partes do mundo, cada uma com sua cor única. Os mais comuns são os ipês rosa, com 9.768 árvores. Em seguida vem os tabacos, também chamados de ipê-felpudo, com 6.054 exemplares.

 

 

Os ipês-amarelos somam 4.034 árvores na cidade. Seguindo a lista vem os ipês-roxos, que abrem a temporada de floração, com 2.678 árvores. Os ipês-brancos, também conhecidos como “véu de noiva”, contabilizam 2.493 exemplares em BH. Em seguida vem os ipês-mirins (2.491), os sete-folhas (906) e os ipês-do-cerrado (147). Os mais raros são os ipês verdes, com apenas 24 árvores em toda a cidade. (Com informações de Denys Lacerda)

 

*Estagiário sob supervisão da subeditora Jociane Morais 

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