A mineira que sofre a “pior dor do mundo” teve que mudar o objetivo da 'vaquinha' que abriu para arrecadar fundos e aderir a um procedimento que resulte em sua morte medicamente assistida na Suíça. Nas redes sociais, Carolina Arruda explicou que foi procurada pela empresa responsável pelo site por infringir “algumas diretrizes da plataforma”. Agora, a médica veterinária pede ajuda para custear seu tratamento para dor, que está sendo feito desde a segunda-feira (8/7), em uma clínica especializada em Alfenas, no Sul de Minas Gerais. 


 

Em um vídeo, publicado em seu Instagram nesta quarta-feira (10/7), Carolina esclarece para seus mais de 150 mil seguidores o motivo da mudança do título da plataforma que passou de “Por uma despedida digna”, para “Por uma vida sem dor”. Desde a criação da vaquinha em 1º de julho, 3.327 pessoas fizeram doações. O valor pedido pela mineira é de R$ 150 mil. 


“Oi pessoal, eu queria falar aqui com vocês rapidinho. O departamento jurídico da Vaquinha entrou em contato comigo e eles solicitaram que eu remova a vaquinha. Isso porque eles estão alegando que a minha campanha infringe algumas diretrizes legais da plataforma. Pelo que eles conversaram comigo e com o meu advogado, eu até entendo a posição deles, eu até entendo o receio deles por suicídio assistido, tratar-se de uma coisa criminalizada aqui no Brasil”, explicou.

 




No novo texto, Carolina esclarece que os fundos arrecadados serão usados para cobrir despesas com o aparelho eletrônico para eletroneuromodulação que será implantado no seu cérebro; cirurgias, despesas de viagem e estadia durante o tratamento, incluindo medicamentos, consultas médicas e exames; e “outras necessidades médicas relacionadas”. No entanto, em seu perfil nas redes sociais, a jovem ainda identifica o link como “vaquinha para eutanásia”. 


Tratamento para a dor


Ao Estado de Minas, o médico Carlos Marcelo de Barros, especialista em dor crônica e o responsável pelo novo tratamento da mineira, explicou que a paciente não será submetida a um procedimento específico e que o procedimento levará meses. “Não é um tratamento, mas um processo de tratamento que está em fase inicial. Vai permitir que seja possível dar os próximos passos. Temos uma linha de raciocínio científica para tentar aliviar o sofrimento dessa moça. Ela tem uma filha de 10 anos. É um caso bem difícil”, afirma.


Barros é presidente da Sociedade Brasileira de Dor e trata pacientes com dor crônica há dez anos. Apesar disso, afirma que não pode prometer a cura para Carolina. “Falei para ela: 'Não posso prometer curá-la, mas posso tentar'. Temos uma possibilidade escalonada de procedimentos que podem ser feitos. Vamos escolhendo um a um”.


O médico destaca ainda que casos como o da mineira são mais comuns do que as pessoas pensam. “O dela chegou em um limite absurdo, com ela até cogitando encerrar a própria vida.” Ele ressalta que também não é incomum caso de pacientes que se matam por causa das dores. 


O especialista diz que já tratou cerca de 100 pacientes com neuralgia do trigêmeo bilateral. “Mais de 90% dos meus pacientes estão bem, mas medicina não é uma ciência exata. Alguns ficam perfeitos, outros podem apresentar sequelas do tratamento, como dormência. Mas ficam sem dor.”


De acordo com ele, as pessoas precisam acreditar na dor do outro. “Uma das coisas que mais pesam para os pacientes é que muita gente não acredita. Acham que o paciente está fingindo, que tem ganho secundário. Isso acontece também, mas na maioria das vezes não".


Morte assistida 


Carolina tem neuralgia do trigêmeo bilateral, uma doença que afeta o nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade da face. Segundo especialistas, a doença causa uma das piores dores do mundo. Devido à baixa qualidade de vida, a jovem decidiu pelo suicídio assistido, interrupção da vida de um paciente acometido de grave doença. Como no Brasil a prática é proibida, ela arrecada dinheiro para fazer o procedimento na Suíça.


No texto original da vaquinha, Carolina compara a sensação "a choques elétricos equivalentes ao triplo da carga de uma rede de 220 volts, que atravessam meu rosto constantemente, sem aviso e sem trégua". Sobre a sua decisão, ela diz que é profundamente pessoal e dolorosa, mas que acredita ser a melhor solução para acabar com o sofrimento. A médica veterinária diz que o procedimento permite uma despedida tranquila e digna, livre da dor.


 

Embora a doença seja pouco conhecida, ela é comum no Brasil e atinge cinco pessoas a cada 100 mil habitantes por ano. Trata-se de um quadro de dor lancinante, além de proporcionar uma sensação de choque na área afetada. Ela se manifesta por meio de crises que se intercalam com períodos de remissão. Mas ao longo do processo, esses intervalos sem dor podem se tornar cada vez mais raros e a dor mais constante, como é o caso da mineira.


CVV (Centro de Valorização da Vida)

 

A recomendação dos psiquiatras é que a pessoa que pensa em suicídio busque um serviço médico disponível. O Centro de Valorização da Vida (CVV) dá apoio emocional e preventivo ao suicídio. Voluntários atendem ligações gratuitas 24h por dia no número 188, por chat, via e-mail ou diretamente em um posto de atendimento físico.


 

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