A bióloga e pesquisadora Yule Roberta Ferreira Nunes, do Departamento de Biologia Geral da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), afirma que, assim como incêndios, o desmatamento do cerrado é altamente danoso para as veredas. Ela salienta que nascentes que eram as fontes de água para os personagens de Guimarães Rosa, mesmo sendo consideradas Áreas de Preservação Permanente (APPs), não estão livres da degradação.

 

“As veredas têm sido impactadas pelo corte seletivo, principalmente para uso de madeira para carvão, desmatamento para produção agrícola em pequena escala e impacto de animais domesticados, principalmente do gado”, afirma.

 

 

“As mudanças causadas pelo uso do solo, diminuição da cobertura vegetal e, principalmente, o rebaixamento do nível freático têm ocasionado a diminuição da umidade nesses ambientes. E a água é determinante de todo o sistema, pois as veredas são áreas onde existe afloramento do lençol freático, ambientes de nascentes, encharcados, úmidos.”

 



O gerente regional do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em Januária, Mário Lúcio Santos, acrescenta que ao longo de 18 anos de atuação na região já viu diversas veredas secando, assim como as mortes de buritis, “seja por falta d'agua, seja pelos incêndios criminosos que atingem o cerrado.” Ele também afirma que os incêndios florestais são potencializados pelo secamento e rebaixamento do lençol freático, que seca o solo de turfa presente nas veredas, tornando-o muito combustível.


A difícil restauração depois dos ataques

A pesquisadora Yule Roberta Nunes lembra que as veredas são conhecidas como “os oásis do sertão”, não sem motivo. “As veredas são áreas onde a água brota no cerrado, permitindo a manutenção hídrica desse ecossistema. Por serem ambientes constantemente úmidos, permitem que a água esteja disponível para animais e para as pessoas durante todo o ano”, descreve.

 

 

Como se assassina uma vereda
Infogram

 

Mas, quando secam, a recuperação do ecossistema torna-se muito complexa. “A restauração desse ambiente parece muito difícil se houver secamento e incêndios. A vereda não é um a barragem. É um sistema muito dinâmico de fluxo hídrico, que evoluiu durante muito tempo”, destaca.

 

Acompanhe a série

Esta reportagem integra a série “Veredas mortas”, do Estado de Minas, que toma emprestado o título inicialmente pensado por Guimarães Rosa para sua obra-prima, depois batizada “Grande sertão: Veredas”. As reportagens começaram a ser publicadas no domingo (14) e a íntegra das reportagens, galerias de fotos e vídeos estão disponíveis em nosso site.

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