O Santuário do Caraça completa 250 anos e quem ganha o presente é o mundo. Tesouro arquitetônico distante 120 quilômetros de Belo Horizonte, na Região Central de Minas, o complexo religioso, ambiental e turístico tem, nesta sexta-feira (19/7), um marco importante na história, com a largada oficial rumo ao seu reconhecimento como Patrimônio Documental da Humanidade, título concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A iniciativa da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas) terá solenidade de lançamento no local, às 15h.


O presidente do Conselho Empresarial de Cultura da ACMinas, Jorge Carlos Borges de Souza, informa que a candidatura se baseará em um dossiê com pesquisas documentais elaborado por historiadores. “Todo o trabalho será executado nas dependências do Caraça, em bibliotecas, arquivos, e em fontes de documentos externas, dentro e fora do estado. Entre as instituições de pesquisa, está o Arquivo Público Mineiro, na capital”.

 



 

Entusiasmado com a iniciativa, Jorge Carlos destaca a relevância do equipamento cultural e atrativo turístico, estando certo de que, com a possível conquista do título e chancela da Unesco, o Caraça ganhará mais visibilidade internacional, atraindo, assim, número maior visitantes brasileiros e estrangeiros.

 

Na foto, presidente do Conselho empresarial de cultura da ACMinas, Jorge Carlos Borges de Souza

ACMinas/Divulgação

 

“Encontramos, neste local, que recebeu a visita dos imperadores dom Pedro I (1798), em 1831, e dom Pedro II (1825-1891), em 1881, parte da história do país, natureza exuberante, arquitetura e biblioteca”. No seu passeio, dom Pedro II deixou registrado: “Só a visita ao Caraça vale a viagem a Minas”.

 

 

Pesquisa e filme

Para nortear o projeto, foi criado um grupo de trabalho, o GT do Caraça, nomeado pela presidência da ACMinas e formado por membros dos conselhos empresariais, especialistas técnicos e integrantes da Associação dos Ex-Alunos dos Lazaristas e Amigos do Caraça (Aealac).

 

“O lançamento de amanhã (sexta-feira) resulta de um ano de trabalho. A partir de agora, daremos prosseguimento a outras atividades”, diz Jorge Carlos. Ele diz ainda que os municípios no entorno do Caraça (Catas Altas, Santa Bárbara, Barão de Cocais e Mariana) deverão se beneficiar do título e da necessidade de mais preservação das áreas vizinhas.

 

 

Como estratégia para deslanchar novas etapas do projeto, que contou, desde o início, com o apoio do secretário de Estado de Cultura e Turismo/MG, (Secult), Leônidas Oliveira, estão previstas duas frentes de trabalho, que correm de forma paralela e buscarão recursos das leis de incentivo estadual e federal. “Faremos uma grande e profunda pesquisa sobre a história do Caraça, a cargo de especialistas, em arquivos mineiros e de outros estado, como o Rio de Janeiro (RJ), e produção de um filme”.

 

As pesquisas históricas, portanto, darão origem ao dossiê para sustentação do pedido de reconhecimento do Caraça pela Unesco, no programa Memórias do Mundo, e ao filme. ”Adianto que não será um documentário sobre o Caraça, mas um filme mesmo, longa-metragem, com roteiro e elenco”, explica Jorge Carlos, que espera o lançamento da película para o início de 2005.

 

História

Junto ao lançamento do projeto, haverá, amanhã, uma homenagem pelos 250 anos de fundação do Santuário do Caraça. A menção honrosa ocorrerá durante a visita da diretoria executiva da ACMinas –na solenidade, o presidente da entidade, José Anchieta da Silva, entregará ao diretor geral do Santuário, padre Paulo Eustáquio Venuto, uma placa comemorativa.

 

 

O momento se torna uma excelente oportunidade para todo mundo conhecer mais sobre a história do Caraça. Chamado de “porta do céu” e localizado entre Catas Altas e Santa Bárbara, na Região Central, o patrimônio administrado pela Província Brasileira da Congregação da Missão, composta de padres e irmãos lazaristas e vicentinos, tem beleza natural de sobra, fauna e flora exuberantes e um círculo de montanhas transmitindo o tempo todo paz, quietude e proteção.

 

Chamado de Colégio Imperial, o Caraça, por onde passaram mais de 10 mil alunos, abriu como escola em 1820 e só fechou as portas para os alunos seminaristas em 1968. Quatro anos depois, embora sem deixar de ser uma casa religiosa, se transformou em pousada.

 

Por ano, recebe cerca de 70 mil pessoas de vários países e estados brasileiros. Integrante da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, o Caraça está na categoria de reserva particular do patrimônio natural (RPPN), com 12 mil hectares. Na região, há muitas variedades de orquídeas e vivem centenas de espécies de pássaros e de dezenas de mamíferos, universo reconhecido pelos naturalistas que visitaram a região, no século 19, entre eles o francês Auguste de Saint-Hilaire (1779–1853).

 

As terras do Caraça chegaram às mãos de dom João VI, que ficou no Brasil de 1808 a 1821, mediante testamento. Ao morrer, em 1819, irmão Lourenço, que está enterrado dentro da igreja, sob o altar de Santo Antônio, legou a igreja e toda a área ao rei, desejando que ali fosse construída uma escola que mantivesse o cunho religioso. Um ano depois, o monarca doou o conjunto à Congregação da Missão dos Padres Lazaristas, dando início à fase denominada Caraça português.

 

O Santuário do Caraça tem entre seus atrativos a igreja neogótica. No caminho há várias placas. Uma chama a atenção e provoca entusiasmo: “Você está chegando ao paraíso”. Não há como se decepcionar, só mesmo se surpreender. Nenhuma construção surgiu no lugar da destruída pelo fogo e a parte do prédio que restou é ocupada por museu, biblioteca e sala de convenções. Estudaram no Caraça os ex-presidentes da República Affonso Penna (1847-1909) e Artur Bernardes (1875-1955) e os ex-presidentes de Minas Olegário Maciel, Augusto de Lima e Raul Soares.

 

Educação, turismo e lazer

 

1774 – O português Carlos Mendonça Távora, conhecido como Irmão Lourenço de Nossa Senhora, funda o Caraça.

1819 – Morre Irmão Lourenço, que deixa, em testamento, as terras e a igreja para dom João VI, com o objetivo de ser construída uma escola no local.


1820 – Dom João VI faz a doação do Caraça aos padres lazaristas. Nesse ano, os padres Leandro e Viçoso fundam o colégio.


1831 – Dom Pedro I e a imperatriz dona Amélia visitam o Caraça, um dos primeiros colégios de Minas.


1842 – O colégio interrompe suas atividades, devido a problemas políticos envolvendo os padres na Revolução Liberal, e se transfere para Campina Verde, no Triângulo Mineiro.


1856 – Seminário de Mariana é transferido para o Caraça e o colégio é reaberto.


1881 – Dom Pedro II e a imperatriz dona Teresa Cristina visitam o Caraça.


1968 – Na madrugada de 28 de maio, o fogo destrói o edifício do colégio. Não houve vítimas. Dos 30 mil títulos da biblioteca, só se salvaram em torno de 15 mil.


1972 – O Caraça se torna hospedaria, mas sem deixar de ser uma casa religiosa.

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