Noroeste e Norte de Minas Gerais, trijunção Minas, Bahia e Goiás – “O Córrego do Batistério existe. Eu já fui lá. Cai no Rio das Velhas, antes do Rio São Francisco. Guimarães Rosa o escolheu para o reencontro de Riobaldo e Diadorim. Ali se unem. Para mim, o batismo: Batistério. O batismo do Riobaldo na jagunçagem”, diz o filósofo do sertão José Osvaldo dos Santos, o “Brasinha”, respeitado estudioso da obra de Guimarães Rosa, ao destacar a importância do afluente do Velhas para obra-prima da literatura “Grande sertão: veredas” (1956). Mas, hoje, nem Riobaldo, nem Rosa, nem Brasinha poderiam mais confiar na localização do curso d'água para chegar ao local do encontro. O Córrego do Batistério morreu. De seco.

 


Do córrego romanceado por Guimarães Rosa, neste início de estiagem de 2024, nem uma gota mais de água flui para o Rio das Velhas. Logo este, o mais poluído dos sertões de Guimarães Rosa e que tanto carece de contribuições de afluentes para diluir esgoto, metais pesados e outros poluentes que envenenam seu leito. Infelizmente, nem Batistério nem Velhas são exceções. Não por coincidência, a situação dos rios do sertão de Guimarães Rosa é tão grave quanto a das nascentes e veredas que os abastecem.

 




Importantes por fornecer água para Minas Gerais, Goiás, Bahia, Alagoas, Pernambuco e Sergipe, os mananciais da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco no sertão mineiro apresentaram poluentes e degradação acima dos limites tolerados pela legislação brasileira em 4.311 de 9.255 amostras coletadas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), o que configura 46,5%, entre 2019 e 2024.

 


Situação denunciada nesta que é a nona reportagem da série “Veredas mortas”, nome que faz alusão ao primeiro título proposto para a obra-prima que se tornaria célebre como “Grande sertão: veredas”. Uma das vítimas desse cenário de degradação que avança pela paisagem imortalizada por Guimarães Rosa, o Córrego do Batistério, em Pirapora, no Norte de Minas, cruza com seu leito seco uma estrada de terra, em área de fazenda. Daquele ponto até a antiga foz, no Rio das Velhas, são cerca de 450 metros sob mata seca, num curso de poeira e pedras que esquentam sob o sol.


No sentido da nascente, o piso é duro. Repleto de formigueiros e de plantas com espinhos que se alastram. A tímida mata ciliar, de caules finos, mas copas cheias, fecha todo o percurso, deixando pender do alto ramos que provavelmente encostariam na água que um dia desceu por ali.

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