O prédio que abrigou os colégios Sacré Coeur de Jesus, um internato para mulheres nos anos 1950, e o antigo Pitágoras, que encerrou suas atividades em 2021, recebe os alunos da nova unidade do Colégio Bernoulli, a partir desta terça-feira (30/7). O imóvel, localizado na Avenida Prudente de Morais, no Bairro Cidade Jardim, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, é tombado como patrimônio do município pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte desde 2022. No mesmo ano, o Bernoulli anunciou a compra do conjunto arquitetônico, que tem 18 mil metros quadrados. 


Em visita ao prédio que faz parte da história da capital mineira, o Estado de Minas conheceu as novas instalações que abrigarão cerca de mil alunos na faixa etária de 10 a 16 anos. A gerente de projetos do Bernoulli e arquiteta, Mariana Rodrigues, comentou sobre os desafios para a restauração e revitalização dos espaços. “Foram várias intervenções. O maior desafio foi realmente voltar ao que era, buscar essas origens, essa história,  através de documentos e, junto com profissionais especializados na área de patrimônio, para a gente revitalizar e ao mesmo tempo inserir a estrutura que a gente precisava enquanto escola de qualidade.”

 


As tradicionais capelas religiosas construídas para o internato feminino se transformaram em uma sala de professores e em um auditório, que ainda está sendo revitalizado. O piso foi conservado em partes, assim como as mais de 700 janelas e vitrais que datam do século passado. O telhado precisou ser completamente substituído por novas telhas francesas, o mesmo material do projeto original. 


“O espaço já estava muito descaracterizado, porque o prédio já tinha sido ocupado por vários usos. Mas alguns espaços, inclusive, foram preservados tal como eram na década de 1950. Tivemos dificuldades para encontrar os mesmos materiais do projeto do Sacré Coeur. As telhas, por exemplo, conseguimos com um fornecedor de São Paulo”, detalha. 


Apesar das dificuldades, Mariana conta que, assim que a equipe soube que o prédio estava sendo desocupado, foi “amor à primeira vista”. “A gente se encantou e já ficou de olho, ainda foram alguns meses de negociação, de visitas, mas desde a primeira visita, apesar do prédio estar muito depredado, a gente se encantou com o espaço e enxergou o potencial que essa estrutura tinha, tanto a nossa equipe quanto os sócios que vieram, os diretores, todo mundo veio e ficou encantado.” 


“Fizemos várias intervenções para garantir a boa acústica do prédio, tanto isolamento acústico quanto a qualidade acústica das aulas, a parte de som e vídeo também. A gente fez toda a instalação nova buscando muita referência das nossas novas unidades mesmo”, complementa a gerente de projetos. 


Sustentabilidade


A gerente de projetos afirma que foram priorizados materiais sustentáveis e de pequenos  fornecedores locais. “Tivemos preocupações com a escolha de materiais de fornecedores locais, então a maioria dos fornecedores da obra sempre que possível, são de Belo Horizonte, ou da região, desde o piso até a marcenaria”, destaca. O isolamento acústico dos espaços foi feito com lã de pet, que é um material fabricado a partir de garrafas PET recicladas. 

 

À direita, o diretor-executivo Marcos Ragazzi, ao lado da gerente de projetos Mariana Rodrigues

Jair Amaral/EM/D.A Press


Historicamente, a Avenida Prudente de Morais foi palco de enchentes durante os períodos chuvosos. Para evitar estragos, 30% da área do edifício é permeável. “Apesar de a região  ter sido melhorada ao longo dos anos, por vezes ainda pode acontecer algum alagamento”, pontua Mariana. 


Além disso, para evitar que os responsáveis dos alunos sofram com o trânsito na região, o projeto de revitalização viabilizou uma logística para que carros acessem o prédio e os estudantes possam descer do veículo “com calma e em segurança". 


Visitas em breve 


O prédio foi coberto por tapumes durante a reforma. Quando foram retirados, revelaram a imponência do local, que chama a atenção de quem passa por lá. Segundo o diretor executivo do Bernoulli, Marcos Ragazzi, não há prazo para que o espaço seja aberto para visitas externas à comunidade acadêmica, mas o colégio tem planos para que aconteça em breve. 


 “Todo mundo quer vir, ex-alunos, ex-funcionários dos outros colégios, pais de alunos. Todo mundo que chega sempre fica muito emocionado, aquele ‘rio de lágrimas mesmo’”, relata Ragazzi. 


Expansão 


O projeto prevê a construção de duas quadras cobertas, restaurantes e cantinas, e a ampliação da estrutura para receber mais alunos em 2025. No entanto, as intervenções ainda aguardam a aprovação da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). 


Segundo o Executivo municipal, a atual adaptação do edifício teve projeto aprovado e foi acompanhada pela Diretoria de Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura. “Ressaltamos que a responsabilidade pela manutenção das propriedades privadas, ainda que estas sejam tombadas, é do proprietário”, informou.


Sobre a autorização para a expansão, a PBH foi procurada pelo Estado de Minas e ainda não se pronunciou. 


Sacré Coeur 


A história da construção começa há 72 anos, conforme documentos da Fundação Municipal de Cultura – a edificação abrigou inicialmente uma unidade do Colégio Sacré Coeur de Jesus de Belo Horizonte, cujo projeto original data de 9 de março de 1950. O prédio foi erguido em parte dos lotes 31, 33, 35 e 37, da ex-Colônia Afonso Pena.

As colônias datam dos primórdios de BH e foram incorporados às zona suburbana e, então, loteadas, nunca servindo ao propósito inicial de abastecimento da capital inaugurada em 12 de dezembro de 1897.

Em 1952, a primeira parte da edificação que se estende entre as ruas Iraí até a Rua Santa Madalena Sofia já estava concluída, e nesse ano que o prédio começa a ser usado como Colégio Sacré Coeur de Jesus. Quatro anos depois, o projeto ganha um bloco lateral esquerdo e parte do bloco central voltado para a Avenida Prudente de Morais, com a conclusão em1958.


No ano seguinte, vem o término da última parte da construção: a capela. As pesquisas mostram que o engenheiro e arquiteto foi Vicente Buffalo, integrante da primeira turma da Escola de Arquitetura de Belo Horizonte, criada em 1930.

O Sacré Coeur de Jesus funcionou em BH até a década de 1970, quando o prédio cedeu lugar ao Colégio Pitágoras Cidade Jardim, pertencente a um grupo estudantil leigo fundado na década de 1960.

O Grupo Bernoulli não informou os valores investidos na compra e restauração do prédio. (Com informações de Gustavo Werneck)


 

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