As confirmações de febre oropouche dobraram desde junho em Minas Gerais, quando a Secretária de Estado de Saúde (SEE-MG) anunciou que casos da doença estavam sendo diagnosticados erroneamente como chikungunya. Com isso, 75 novas amostras testaram positivo para a febre. Ao todo, Minas já soma 147 casos da febre oropouche desde 2023. A maior parte desses casos foi encontrada em Joanésia, no Vale do Rio Doce.


A cidade, com cerca de 4 mil habitantes, registrou 96 casos da doença. As outras cidades que apresentaram o maior número de casos da febre ficam na mesma região.  São elas: Coronel Fabriciano, com 30 amostras positivas, e Timóteo, que registrou 15 casos da oropouche.

 




Com menos casos, mas ainda no Vale do Rio Doce, Ipatinga teve três casos da doença e Coroaci e Gonzada, um caso cada uma. Congonhas, na Região Central, também registrou um caso. Já na capital mineira, de acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, nenhum caso foi notificado até então. 


O resto do país também registra um aumento crescente dos casos. Na última semana, as duas primeiras mortes de febre oropouche foram registradas na Bahia. A relação do óbito das duas baianas de 22 e 24 anos com a doença foi confirmada pelo Ministério da Saúde. Além de representar a primeira morte pela doença no Brasil, os casos também são os primeiros óbitos causados pela doença já registrados pela literatura médica.


Anteriormente, os casos da febre se concentravam na região Norte do país. Mas um aumento expressivo da doença foi identificado neste ano e, somente nos últimos meses, 7.236 casos de febre oropouche foram registrados em 20 estados brasileiros. A maior parte na Amazônia e em Rondônia. Além disso, outra possível morte pela doença está sendo investigada no estado de Santa Catarina.

 

Estão ainda em investigação seis casos de transmissão vertical, quando a doença é transmitida de mãe para filho durante a gestação, da infecção da febre do oropouche. São três casos em Pernambuco, um na Bahia e dois no Acre. Dois casos evoluíram para óbito fetal, houve um aborto espontâneo, além de três casos que apresentaram anomalias congênitas, como a microcefalia.



Entenda a doença


A febre oropouche é transmitida pelo mosquito Culicoides paraensis, também conhecido como maruim ou mosquito-pólvora. Os sintomas da doença são semelhantes aos da dengue e chikungunya. As pessoas com a febre costumam sentir, além do sintoma que dá nome à doença, dor de cabeça, dor muscular e articular, tontura, dor atrás dos olhos, calafrios, fotofobia, náuseas e vômitos.

 

Alguns pacientes podem apresentar recorrência dos sintomas ou apenas febre, dor de cabeça e dor muscular após uma a duas semanas do início das manifestações iniciais. Em média, os sintomas duram de dois a sete dias. Já a evolução da febre é benigna e sem sequelas na maior parte dos pacientes.

 


O vírus foi isolado pela primeira vez no Brasil em 1960, a partir de amostra de sangue de uma bicho-preguiça capturada durante a construção da rodovia Belém-Brasília. Desde então, alguns casos isolados e surtos foram identificados no país, principalmente nos estados da região Amazônica.


Em 2023, o Ministério da Saúde disponibilizou de forma inédita testes diagnósticos para toda a rede nacional de Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen), com isso a detecção de casos foi ampliada para todo o país a partir do ano. 

 

De acordo com o professor titular de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Geraldo Cury, o diagnóstico da febre oropouche é feito apenas por meio de análise laboratorial. "Os sintomas são bem parecidos com a dengue. Então o diagnóstico mesmo apenas é apenas o por meio do laboratório, porque a clínica da dengue, e a clínica da oropouche, são muito parecidas. Então não dá para se fazer a diferença entre as duas, a não ser com a sorologia," explica

 

Dois ciclos de transmissão

 

A doença possui dois ciclos de transmissão, o silvestre e o urbano. De acordo com o médico e professor titular de medicina da UFMG, Geraldo Cunha Cury, "O ciclo silvestre geralmente acontece em animais primatas não humanos, como macacos e bicho preguiça. Além do ciclo silvestre, tem o ciclo urbano, que é o mais preocupante, nesse o homem é o principal hospedeiro do vírus."

 

Ainda de acordo com o médico, não existe um tratamento específico para a doença e a prevenção é a mesma que a usada para combater a dengue. "Usar repelente, limpar terreno, limpar local onde tem criação de animal, de porco, vaca, galinha. Evitar lixo no solo, e principalmente, se for possível, colocar telas finas nas janelas e nas portas das casas que estão mais nas regiões rurais", detalha.

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