Força-tarefa tenta conter as chamas na Vereda do Rio Pandeiros, com o uso de helicóptero, -  (crédito: IEF/divulgação)

Força-tarefa tenta conter as chamas na Vereda do Rio Pandeiros

crédito: IEF/divulgação

Assim como atinge o Pantanal e a Floresta Amazônica, o fogo destrói de forma impiedosa as veredas no sertão mineiro descrito na obra do escritor Guimarães Rosa. Há 16 dias, desde 18 de julho, equipes do Corpo de Bombeiro (CBMMG), brigadistas e voluntários tentam combater um incêndio de grande proporção na Vereda do Peruaçu, na Área de Preservação Cavernas do Peruaçu (APA) e do Parque Estadual Veredas do Peruaçu, entre os municípios de Januária, Cônego Marinho e Bonito de Minas, no Norte do estado. A área atingida ainda não foi calculada. Mas, de acordo com informações das equipes de combate, até esta sexta-feira (2/8), as chamas já consumiram pelo menos 350 hectares de vegetação nativa no local.

 


O fogo tem sido um grande inimigo das áreas de nascentes no sertão mineiro, conforme mostrou o Estado de Minas na série de reportagens “Veredas Mortas”, publicada entre 14 e 30 de julho. Nesta época do ano, aumenta a ocorrência de queimadas em Minas Gerais e no país por causa do tempo seco e das temperaturas elevadas. Segundo o Instituto Estadual de Florestas (IEF), o incêndio na vereda do Peruaçu teve origem clandestina.

 


A área da vereda seca do Rio Peruaçu afetada pelas chamas fica situada dentro do Parque Estadual Veredas do Peruaçu, percorrida e documentada pelo EM, onde centenas de pés de buriti foram queimados e tombados. O Rio Peruaçu, afluente do Rio São Francisco, está com seu leito completamente seco em quase toda sua extensão, exatamente por causa da degradação e do secamento das veredas da região da área de preservação onde o manancial é formado.


De acordo com o gerente regional do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em Januária, Mário Lúcio Santos, foi montada uma grande força-tarefa para combater as chamas na Vereda do Peruaçu, sendo usados helicópteros e aviões Air Tractor, do Programa de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Previncêndio), coordenado pelo instituto. Com a mobilização, as equipes conseguiram controlar as chamas na vegetação do cerrado. No entanto, o fogo ainda continua “andando” por debaixo do solo, na turfa, que reúne matéria orgânica.

 


“O fato de a turfa contar com matéria orgânica seca dificulta o trabalho de controle do incêndio. A turfa seca indica que a vereda não está sã. Se ela estivesse sadia, o fogo não prosperava no ambiente úmido”, afirma o analista ambiental do IEF. Mário Lucio também explica que, na tentativa de apagar o fogo “por debaixo do solo”, as equipes de combate estão “injetando” água na área de turfa da vereda.

 

 

Segundo o gerente regional do IEF de Januária, a força-tarefa mobilizada no combate ao incêndio na Vereda do Rio Peruaçu envolve dezenas de pessoas, entre equipes do Corpo de Bombeiros (Januária e Montes Claros) e do Previncêndio, servidores dos órgãos ambientais – IEF, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e funcionários e brigadistas do Parque Estadual Veredas do Peruaçu, das APAs Caverna do Peruaçu, Pandeiros e Gibão. 

 


Conta, ainda, com o apoio de servidores das prefeituras de Bonito de Minas e Cônego Marinho, que cederam veículos, caminhões-pipas e máquinas para os brigadistas, além da ação voluntária de pequenos agricultores da região.

 

Incêndio criminoso

 

Segundo o gerente regional do IEF em Januária, Mário Lúcio Santos, o incêndio na vereda do Rio Peruaçu teve origem criminosa, tendo sido causado por posseiros que ocupam terras na APA Cavernas do Peruaçu (da esfera federal). “A informação que tenho é que os posseiros foram fazer uma queimada e perderam o controle (do fogo) e o incêndio avançou na vereda. (Foi) a famosa queimada do capim que eles fazem na vereda para renovar o pasto”, disse Mário Lúcio, explicando que trata-se de uma técnica antiga (e inadequada) de queimar o capim seco para que possa sair o broto a ser consumido pelo gado durante o período de estiagem. A antiga prática irregular também costuma ser usada para “limpar” os terrenos.