Marco urbano de Belo Horizonte, a Avenida do Contorno, na Região Centro-Sul, foi escolhida como ponto de partida para a construção do Plano de Mobilidade Limpa da cidade. Anunciado no ano passado, o projeto começa a tomar forma, delineando um caminho para pensar a mobilidade e sustentabilidade na cidade, com potencial para ser replicado em outras avenidas.
Um dos pilares centrais é o incentivo ao uso de meios de transporte não poluentes, como a bicicleta e ônibus elétricos, e priorização do transporte coletivo dentro da área central da cidade, delimitada justamente pela Avenida do Contorno.
Dividido em etapas, o foco agora está no levantamento de dados e na consulta à sociedade para construir uma proposta alinhada à visão e às necessidades diárias da população, diz o diretor da Superintendência de Mobilidade Urbana (Sumob), Rafael Murta Resende. Em resumo, serão testadas diferentes tipologias de desenho urbano como experimento para avaliar os resultados e desafios da proposta. “Precisamos começar com uma área menor e ir evoluindo para o restante”, afirma.
Embora o diretor da Sumob não liste as intervenções na Contorno, ele adianta que são esperados investimentos em faixas exclusivas de ônibus, ciclovias e melhorias na segurança viária para evitar acidentes, como novos pontos de travessia segura para pedestres.
A empreitada de utilizar um símbolo icônico de Belo Horizonte para servir como modelo no Plano de Mobilidade Limpa enfrenta desafios inerentes à via que, ao longo de seus quase 12 quilômetros, abriga núcleos comerciais, hospitalares e residenciais, cada um com suas próprias particularidades.
“Precisamos entender todo esse contexto para criar um plano que consiga abranger essas diferentes necessidades e intervenções, respeitando a estrutura existente da cidade, porque ela é feita de pessoas. BH tem mais de 100 anos e já está estabelecida; portanto, precisamos desenvolver planos que modernizem, capacitem e qualifiquem, mas dentro de uma estrutura de ocupação que já está consolidada”, afirma o diretor da Sumob.
Resende esclarece que o plano não apresentará uma planta de intervenção específica para toda a cidade, mas servirá como um orientador para projetos futuros que pode mudar a forma de Belo Horizonte lidar com sua infraestrutura de deslocamento. “Ele vai indicar diretrizes de como e onde podemos avançar, com informações bem fortes do que a gente pode continuar planejando e projetando daqui para frente”, ressalta, destacando que o projeto segue em linha ao Plano Diretor de Mobilidade da cidade, instituído no ano passado.
O diagnóstico Avenida Contorno deve ser concluído em outubro, mas, até lá, o Plano de Mobilidade Limpa de BH já desenvolve, em paralelo, outras intervenções, além da introdução dos ônibus elétricos, dentro da área central delimitada pela avenida. As obras já começaram, com a revitalização da Avenida Afonso Pena e criação da Zona 30 na Rua Goiás, no Centro da capital. No quarteirão formado pelas ruas Timbiras, Bahia, Aimorés e Espírito Santo, conhecido por suas várias escolas, a prefeitura iniciou intervenções para requalificar a área, ampliar as calçadas e melhorar a segurança viária.
Paralisadas há quase quatro meses, depois que o Ministério Público de Minas Gerais pediu a suspensão das atividades por causa da supressão de árvores ao longo da via, a ciclovia da Avenida Afonso Pena pode ser uma solução para a atual finalização do Plano de Mobilidade Limpa.
Para Resende, a qualificação geral da área interna da Avenida Contorno é apenas o começo: “Nosso objetivo é modernizar a mobilidade, tornando-a mais limpa e sustentável para todos os cidadãos”. Na mesma linha, ele conclui: “O plano leva em conta essas intervenções em andamento, analisa os projetos existentes e propõe novos desafios nas vias perpendiculares, além de novas propostas em outras áreas”.
'Ônibus verde'
O objetivo central do Plano de Mobilidade Limpa é ainda substituir 40% da atual frota de transporte público por ônibus com energia limpa até 2030. Na última semana, teve início uma nova fase de testes com ônibus elétricos; quatro veículos já estão circulando em oito linhas municipais, incluindo duas que passam pela Avenida do Contorno (SC01A e SC01B). O total, que representa cerca de 990 veículos, inclui ônibus movidos a eletricidade ou combustíveis mais limpos, como gás natural.
Atualmente, o maior obstáculo para a implantação dos ônibus elétricos é o custo de aquisição, 2,5 vezes maior do que o de um veículo a diesel, segundo análise feita pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Porém, essa diferença tende a ser amortizada ao longo dos anos pelo custo mais baixo de manutenção e vida útil mais longa dos elétricos, indicam especialistas.