Enquanto o Ministério da Saúde investiga oito casos de transmissão vertical da febre oropouche — quando a infecção é transmitida da mãe para o bebê —, Minas Gerais registra um aumento de quase 30% nas notificações da doença. A escalada de casos acende um alerta especialmente para as gestantes, grupo que está no centro das preocupações das autoridades em razão dos riscos de microcefalia e aborto espontâneo associados à doença.
Quarenta e quatro novas amostras testaram positivo para a febre em Joanésia, no Vale do Aço. Com isso, Minas já soma 191 casos da doença desde que a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) incluiu o vírus em sua lista de exames de arboviroses, após o aumento dos casos em estados vizinhos.
Depois de Joanésia, os registros se concentram em Coronel Fabriciano (30 casos) e Timóteo (15 casos). Pelas lentes do Ministério da Saúde, o número de casos da doença em Minas Gerais é maior: 194 registros.
Até o momento, dois casos de gestantes infectadas pela febre oropouche foram registrados em Minas Gerais, ambos na região do Vale do Aço, onde se concentram a maior parte das notificações da doença no estado. Os casos ocorreram em abril, e, embora não tenha sido confirmada nenhuma ocorrência de microcefalia em recém-nascidos no estado, a preocupação permanece.
Assim como o Zika, o Oropouche pode atravessar a placenta e afetar o bebê, resultando em sérias complicações, especialmente no primeiro trimestre da gestação.
“Estamos aumentando a vigilância nesses casos, junto ao Ministério da Saúde. Precisamos de mais tempo e acompanhamento para entender o impacto nas gestantes, mas o que já sabemos é que, sem dúvidas nenhuma, existe transmissão placentária e riscos associados, como a malformação neurológica”, afirmou o secretário estadual de Saúde, Fábio Baccheretti, em coletiva de imprensa realizada na última quarta-feira (7/8).
A primeira morte de um recém-nascido em decorrência de complicações associadas à febre oropouche foi registrada na semana passada no estado do Acre. A criança tinha anomalia congênita —condição em que parte do corpo ou função não se desenvolve como o esperado—, atribuída à infecção da mãe durante a gravidez. Ela ainda nasceu com microcefalia e malformações, o que o Ministério da Saúde agora investiga se também teve ligação com o vírus. A criança morreu aos 47 dias de vida.
Outros sete casos estão sendo investigados em Pernambuco, Bahia e Acre, segundo o Ministério da Saúde. Metade dos bebês nasceu com anomalias congênitas, como microcefalia, enquanto a outra metade não sobreviveu.
Nesta segunda-feira (12/8), a Secretaria de Saúde do Ceará comunicou que investiga a morte de um feto possivelmente relacionada à infecção pela febre do Oropouche, que é transmitida pelo mosquito Culicoides paraensis, também conhecido como maruim ou mosquito-polvo. Embora ainda não haja uma confirmação definitiva de que o vírus seja a causa direta dessas condições, os casos em investigação reforçam a necessidade de atenção.
O resto do país também registra um aumento crescente dos casos. No fim de julho, as duas primeiras mortes de febre oropouche foram registradas na Bahia. A relação do óbito das duas baianas de 22 e 24 anos com a doença foi confirmada pelo Ministério da Saúde. Além de representar a primeira morte pela doença no Brasil, os casos também são os primeiros óbitos causados pela doença já registrados pela literatura médica.
A febre oropouche não é uma doença nova no Brasil. Sua presença foi documentada pela primeira vez na década de 1960, na região Norte do país. Entretanto, até recentemente, a detecção do vírus estava restrita aos estados da Amazônia.
A doença só foi incluída no radar de Minas Gerais depois da explosão de registros em estados vizinhos, como Espírito Santo e Bahia, o que ligou o alerta das autoridades de saúde para a inclusão da doença na lista de exames de arboviroses da Fundação Ezequiel Dias (Funed).
Entenda a doença
Transmitida principalmente pelo mosquito Culicoides, também conhecido como borrachudo, a doença é mais comum em áreas rurais e que tenham material orgânico. O vírus foi isolado pela primeira vez no Brasil em 1960, a partir de amostra de sangue de uma bicho-preguiça capturada durante a construção da rodovia Belém-Brasília. Desde então, alguns casos isolados e surtos foram identificados no país, principalmente nos estados da região Amazônica.
Embora os sintomas sejam parecidos com a dengue —dores no corpo, dores nas articulações, febre repentina, sintomas gastrointestinais como diarreia e vômito—, cerca de um sexto (15,5%) dos pacientes reportam sinais hemorrágicos, e 6 em cada 10 podem ter a recorrência dos sintomas até quatro semanas após a infecção inicial.
A chegada da doença no estado não muda a rotina nos postos de saúde, já que a febre gera quadros mais brandos, costuma ser autolimitada e pode ser controlada com tratamento para aliviar os sintomas.
A única forma de prevenção do oropouche é o uso de repelentes e proteção contra o vetor. Não há atualmente vacinas disponíveis e nem tratamento antiviral específico.
“A recomendação que fica especialmente para as mulheres grávidas é se proteger para que a gente garanta, nesse prazo de entendimento melhor da doença, que a gente não tenha o que aconteceu lá atrás com a zika e microcefalia”, reforçou o secretário de Saúde de Minas.