Proibição de bailes no Aglomerado da Serra, em BH, foi determinada após a morte de um adolescente em evento funk -  (crédito: Redes Sociais/Reprodução)

Proibição de bailes no Aglomerado da Serra, em BH, foi determinada após a morte de um adolescente em evento funk

crédito: Redes Sociais/Reprodução

Após a morte de um adolescente de 17 anos, esfaqueado por engano em um baile funk no Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, todos os bailes da comunidade voltaram a ser suspensos. O anúncio, divulgado nas redes sociais nesta quarta-feira (21/8), não especifica quem é responsável pela decisão.


A restrição abrange também festas de pagode e outros gêneros musicais. De acordo com um perfil que divulga eventos de rua da capital, a proibição das festas em geral durará apenas esta semana, enquanto os eventos no local onde o adolescente foi morto permanecerão suspensos por tempo indeterminado. O comunicado afirma que “está proibido ter Nego Gato por tempo indeterminado”.

 

 

 

Uma enquete realizada pela página consultou a opinião dos seguidores e mostra que 60% votaram em “Tô felizão” ao invés de “Tô Tristão”. Nos comentários, a proibição provocou discussões sobre os bailes.


Alguns comemoram escrevendo “Graças a Deus”, “Coisa horrível é baile, tudo de ruim” e “Vai morrer mais quantos para acabar de vez?! Ninguém aguenta mais esses bailes que só causam dor às famílias e transtorno aos trabalhadores”. Outros demonstraram saudades dos bailes de outra época: “Só quem viveu, viveu. Quem tá chegando agora, sinto muito. Jamais saberá o que é um baile… tá tudo diferente” e “Ainda bem que curti os melhores. Ô época boa”.

 

 

Violência pós-baile

A proibição das festas ocorre três dias após a morte do adolescente, conhecido como “Leozinho”, na saída do baile "Nego Gato", na Praça do Cardoso, na madrugada desta segunda-feira (19/8). Segundo uma testemunha, que era amiga da vítima, eles foram cercados por um motoqueiro quando deixavam a festa. 


O suspeito acusou Leozinho de ter lhe dado uma garrafada na cabeça. Apesar do rapaz afirmar que não havia sido ele, o homem sacou a faca, acuou a vítima em um canto da praça e desferiu vários golpes. Leozinho morreu no local.


Segundo outras testemunhas, a vítima era homossexual e o autor das garrafadas teria sido outro homem, também homossexual. A suposição das autoridades que investigam o crime é que Leozinho teria sido morto por engano.


No mesmo dia, uma mulher de 27 anos pegou carona com um desconhecido em um baile funk no Aglomerado da Serra e acabou levando seis tiros, dois na barriga e quatro na coxa. A vítima estava no banco traseiro do carro quando, ao chegar à Rua Cachoeira Dourada, no Bairro Paraíso, um outro veículo se aproximou e disparou contra o carro em que ela estava. 


Tanto o suspeito quanto o motorista fugiram do local. A mulher foi internada no Pronto Socorro do Hospital João XXIII e está fora de perigo.


Nos dois casos, os suspeitos não foram localizados. 


Proibição

 

Em maio, a mesma página nas redes sociais anunciou a suspensão por tempo indeterminado dos bailes de rua no Aglomerado da Serra. A decisão, supostamente tomada pelos organizadores, afetou oito eventos e foi motivada por problemas associados ao fluxo intenso de pessoas e à falta de controle durante as festas.


Moradores da Serra ouvidos pelo Estado de Minas na época afirmaram que um dos motivos para a suspensão são transtornos consequentes do intenso fluxo de pessoas que têm ido aos bailes no aglomerado. Apesar do lado positivo, uma vez que o público movimenta a economia local por meio de compras de bebidas e alimentos, ele diz que “há também um número muito grande de pessoas vindo de outros lugares que não estão só para curtir. Que ‘perdem a linha’, que quebram ônibus, que mijam na porta das outras pessoas sem sequer ter uma atenção, uma empatia com os moradores.” 


Outro morador, que não quis se identificar, lamentou a falta de respeito e o barulho excessivo. “Infelizmente, a falta de controle tem atraído elementos indesejados, como ladrões. E os jovens, por sua vez, muitas vezes não estão demonstrando o devido respeito pelos mais velhos. O ruído excessivo das motos e a falta de pagamento da passagem de ônibus são apenas alguns exemplos desses comportamentos problemáticos”, disse.

 

Aglomerado da Serra


Milhares de residências que se equilibram nos morros da Região Centro-Sul de Belo Horizonte formam o Aglomerado da Serra, a maior favela de Minas Gerais. Ali se encontram oito vilas: Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida, Santana do Cafezal, Novo São Lucas, Fazendinha, Chácara e Marçola. O conjunto teve o primeiro baile funk com alvará de Minas em 2018 e foi acompanhado pela  reportagem do Estado de Minas.


Na época, a Polícia Civil afirmou que não havia registro de violência no baile, mas afirmou que há presença de vulnerabilidade na comunidade, com registros de perturbação. Destacou também como o baile leva cada vez mais pessoas para o aglomerado, aumenta a possibilidade da ocorrência de mais crimes.