Refletindo o envelhecimento progressivo da população e as taxas de fecundidade em queda, a população de Minas Gerais deve começar a reduzir a partir de 2039 -  (crédito: Edesio Ferreira/EM/D.A.Press)

Refletindo o envelhecimento progressivo da população e as taxas de fecundidade em queda, a população de Minas Gerais deve começar a reduzir a partir de 2039

crédito: Edesio Ferreira/EM/D.A.Press

Daqui a 15 anos, Minas Gerais começará a experimentar uma redução populacional, antecipando-se à média nacional, que deve começar a declinar apenas em 2042. Esse fenômeno segue a tendência que se instaurará em outros estados do país. A previsão faz parte de um estudo mais amplo divulgado nesta quinta-feira (22/8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

 

O cenário delineado pelo IBGE é fruto da análise dos censos de 2000, 2010 e 2022, além de dados sobre natalidade, mortalidade e migração. De acordo com a projeção, a diminuição da população será um fenômeno gradual, começando por alguns estados e se expandindo progressivamente para outras regiões.


Refletindo um padrão observado em estados do Sudeste e Nordeste, que têm apresentado um envelhecimento progressivo da população e taxas de fecundidade em queda, Minas Gerais enfrentará essa inflexão a partir de 2039. O estado será precedido por Alagoas e Rio Grande do Sul, que devem iniciar a queda populacional já em 2027.


O técnico do IBGE Humberto Sette afirma que o estudo permite um planejamento das entidades governamentais e uma avaliação e elaboração de políticas públicas ao longo dos anos. “De acordo com as previsões para Minas, o estado deve atingir a população máxima em 2039 com 21 milhões de habitantes. Depois, a tendência é que esse número decline gradualmente até atingir 19,3 milhões de pessoas”, aponta.

 

 

O crescimento populacional do Brasil está previsto para atingir seu pico em 2041, com 220,4 milhões de habitantes. Após esse ponto, uma lenta desaceleração começará, com a população projetada para cair para 199,2 milhões até 2070. Os fatores por trás dessa mudança, no entanto, variam conforme o estado.

 

Entre os estados que experimentarão uma redução populacional mais cedo, o Rio Grande do Sul se destaca por ter a população mais velha do Brasil, com uma proporção elevada de idosos em relação aos jovens. Isso indica que o número de óbitos deverá superar o de nascimentos mais rapidamente do que em outras regiões. Em contraste, Alagoas enfrenta desafios distintos, com uma baixa taxa de fecundidade e uma alta taxa de emigração para outras regiões do país, o que intensifica o declínio populacional no estado.


“A expectativa de vida vai chegar aos 85 anos e, em 2070, um terço da população mineira vai estar acima de 65 anos de idade. As demandas vão mudar, essas pessoas vão precisar de mais atendimentos médicos, especialistas, e ainda existe a questão da previdência que traz esse desafio”, destaca Sette. 


A taxa de fecundidade, por outro lado, também está em franca queda. De 2,32 filhos por mulher em 2000, a taxa caiu para 1,57 em 2023, com previsões para um mínimo de 1,44 filhos por mulher em 2041. A partir de 2050, espera-se uma leve recuperação, com a taxa subindo novamente para 1,50 filhos por mulher em 2070. Esse padrão, avalia o instituto, reflete mudanças sociais e econômicas, como o adiamento da maternidade e mudanças nos papéis familiares.

 

 

Minas acompanha as tendências nacionais e de países desenvolvidos no que tange à fecundidade. “Nós teremos mais idosos e uma redução da população economicamente ativa, com uma queda na taxa de fecundidade que aumenta ao longo do tempo. A média necessária para a reposição populacional é no mínimo dois, em 2070 teremos uma estabilização de 1,5 filhos”, detalha. 


No entanto, esses números não representam uma necessidade criar campanhas de incentivo à fecundidade, como é feito no Japão, por exemplo. “Pode acontecer, mas não é uma preocupação no momento. O que acontece também é que as mulheres demoram mais para ter filhos, porque a idade média de fertilidade caiu. No início dos anos 2000 essa média era de 25 anos, neste ano é de 28 e seguirá crescendo até atingir 31 anos”, explica Humberto.  


“As mulheres têm avançado em grau de instrução e posição na hierarquia no mercado de trabalho, por isso, elas tendem a adiar a gestação. Elas se planejam e deixam para ter o filho quando conseguem estabilidade financeira”, completa. 

 

Longevidade da população

 

Os números refletem uma nação em profunda transformação. Entre 2000 e 2023, a esperança de vida ao nascer subiu de 71,1 anos para 76,4 anos. As projeções indicam que, até 2070, a expectativa de vida poderá alcançar impressionantes 83,9 anos, com diferenças notáveis entre os gêneros: 81,7 anos para os homens e 86,1 anos para as mulheres.

 

Ao mesmo tempo, a mortalidade infantil está em franco declínio, passando de 28,1 óbitos por mil nascidos vivos em 2000 para 12,5 em 2023. A expectativa é que essa taxa continue a cair, atingindo 5,8 por mil em 2070. Essa redução acentuada, segundo o IBGE, destaca a eficácia das políticas de saúde e melhorias nas condições de vida para os mais jovens.

 

Proporção de idosos quase duplicou

 

A projeção sugere que a média nacional de idosos para cada cem crianças será de 316 em 2070, marcando uma transformação substancial na demografia brasileira. Entre 2000 e 2023, a proporção de idosos na população brasileira quase dobrou, passando de 15,2 milhões para 33 milhões. Para 2070, estima-se que 37,8% da população brasileira será composta por pessoas com 60 anos ou mais, totalizando cerca de 75,3 milhões de idosos.

 

Em Minas Gerais, a idade média da população também tem mostrado uma tendência de crescimento. Em 2023, a idade média no estado era de 37,1 anos, uma elevação em relação aos 28,3 anos registrados em 2000. Em comparação com outros estados, Minas Gerais ocupa a terceira posição em idade média, atrás apenas do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. Para 2070, a idade média da população brasileira é projetada para ser de 48,4 anos.


De acordo com Bernardo Lanza, professor do departamento de demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) , a queda da população, relacionada à queda na taxa de fecundidade e envelhecimento da população, está mais rápida que o esperado. “A queda da taxa de fecundidade acelerou na pandemia, mas o ritmo está ainda mais rápido. As pessoas estão tendo o número de filhos que elas querem ter por motivos econômicos e sociais ligados ao nível de instrução”, explica. 


“Nós estamos acompanhando países do hemisfério norte, que estão adiantados no processo em relação à estrutura etária. Mas precisamos pensar que esse cenário tem implicações diretas no sistema de previdência, especialmente no regime de repartição que utilizamos, nas famílias em relação ao cuidado. É uma preocupação, quem vai cuidar dessas pessoas?”, questiona.

 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice