As ocorrências de incêndios atendidas pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) desde janeiro aumentaram 50% em comparação ao mesmo período do ano passado, totalizando aproximadamente 14 mil registros — um recorde dos últimos cinco anos. Apesar desse aumento, a corporação considera que o resultado dos combates a incêndios tem sido positivo, pois as áreas queimadas dentro das unidades de conservação do estado registraram quedas significativas — foram 4 mil hectares queimados desde o início do ano, metade da média histórica para o período.
O tenente-coronel Ivan Neto acredita que a redução é consequência de uma série de iniciativas adotadas pela corporação, como a implantação de uma força-tarefa dedicada aos incêndios em áreas de preservação. “Até o presente momento, temos tido resultados extremamente satisfatórios”, avalia. A gestão dos trabalhos é feita a partir da Sala de Coordenação Operacional da força-tarefa, localizada no Prédio Alterosas, na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte. Ali, profissionais estão de prontidão todos os dias da semana para receber chamados e dar auxílio às equipes que atuam diretamente nas chamas.
As unidades de conservação com mais ocorrências de queimadas receberam equipes próprias para o combate aos incêndios. São elas: Cochá e Gibão (Norte de Minas), Alto do Mucuri (Vale do Mucuri), Serra do Cabral (Região Central) e Serra do Rola Moça (Região Metropolitana). Somadas, elas possuem 24 profissionais dedicados e estrutura semelhante a uma hospedagem, onde os combatentes se instalaram para receber chamados a qualquer momento. Outros 64 bombeiros atuam no reforço operacional em 17 bases instaladas em unidades de conservação espalhadas pelo estado. Os trabalhos do Corpo de Bombeiros em toda Minas Gerais também contam com o apoio de sete aeronaves e 108 brigadistas.
Contra o tempo
A proximidade dos profissionais com os focos de fogo promove maior agilidade nos trabalhos. O tenente-coronel explica que o maior vilão no combate aos incêndios é o tempo de resposta, que é o período entre o início da queimada e o momento em que bombeiros e brigadistas começam os trabalhos de combate às chamas. Dados da corporação indicam que 83% dos incêndios são debelados ainda no primeiro dia. “Quanto mais cedo o incêndio é detectado e nossa instituição é acionada, maior é a probabilidade de ele ser extinto no mesmo dia”, disse Neto.
Na tarde desta quinta-feira (23/8), a força-tarefa esteve empenhada no combate a incêndios em oito unidades de conservação. As queimadas atingiram os parques estaduais do Itacolomi, da Serra do Papagaio e da Serra do Brigadeiro, os monumentos naturais estaduais de Itatiaia, da Gruta Rei do Mato e da Serra da Piedade, o Parque Nacional da Serra do Gandarela e o Refúgio de Vida Silvestre Estadual Macaúbas. Mais cedo, um incêndio foi debelado no Parque Estadual da Serra do Cabral. Em todo o estado, são 93 unidades de preservação que somam 2,3 milhões de hectares — cerca de 4% do território de Minas Gerais.
Tecnologia
Os profissionais que atuam na Sala de Coordenação Operacional também são encarregados de verificar mapas que registram focos de calor pelo estado. As plataformas analisam imagens de satélite e, após a aplicação de um algoritmo, alertam para locais com temperatura elevada. “Um foco de calor não necessariamente representa um incêndio, mas ele requer atenção”, explica o tenente-coronel. A força-tarefa identificou um aumento de 52% nos focos de incêndio de janeiro a agosto, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Um levantamento feito pelo Estado de Minas junto ao Banco de Dados de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), também com base em imagens de satélites, mostra que este ano houve 4.268 focos de fogo no estado. Este é o maior número desde 2010, quando foram registrados 4.512 focos. A tendência é que esse aumento seja ainda maior, já que faltam cerca de três meses para o fim do ano e a previsão meteorológica é de que o tempo seco permaneça nas próximas semanas.
Apelo
Quase a totalidade dos incêndios em vegetação é causada pela ação humana e, quando ocorrem em florestas, constitui crime ambiental, podendo levar à prisão. Anualmente, o CBMMG promove uma campanha de conscientização chamada Operação Alerta Verde, que visa alertar os proprietários de lotes vagos sobre a importância de manter o local bem cuidado e não utilizar fogo para controle da vegetação. “Se eu diminuo a incidência de registros de incêndio em lotes vagos, tenho mais recursos humanos e logísticos disponíveis para atender outras demandas”, explica Ivan Neto. Dados do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais apontam que 45% das ocorrências de incêndio em vegetação ocorrem em lotes vagos.
Com informações de Laura Scardua